A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

OS WHITE BLOCS


Não atacam bancos: neles fazem operações sigilosas, aqui ou em paraísos fiscais


CHICO ALENCAR
O GLOBO
Publicado:26/12/13 - 0h00


Eles estão infiltrados no Estado brasileiro desde os seus primórdios: vieram com a Corte Absolutista de Dom João, em 1808. Não em naus menores, atrás das principais da esquadra que fugia da invasão napoleônica, mas bem ao lado da Família Real. Aqui compuseram a alta burocracia, renovaram os privilégios, aprofundaram a distância entre administração inchada e população desvalida. Propagaram a cultura da corrupção.

Eles não usam máscaras, pois suas caras de pau prescindem disso. Bem vestidos — os ternos de corte fino substituindo as perucas do século XIX —, têm incrível capacidade de renovação. Seus espaços no poder são mantidos como capitanias hereditárias. Arcaicos em suas práticas do tráfico de influência e enriquecimento ilícito, vestem a roupagem da “modernidade” das “tribos” da livre concorrência e do capitalismo sem riscos.

Eles não atacam bancos: esmeram-se em neles fazer operações sigilosas, aqui ou em paraísos fiscais, que passam ao largo dos órgãos de controle financeiro. Têm força junto aos grandes partidos e abortam qualquer investigação sobre suas movimentações milionárias, como nas CPIs do Banestado, Cachoeira/Delta e quantas outras surgirem tentando jogar luz em tenebrosas transações.

Crescidos na estufa dos negócios particulares, estão, anônimos, nas esferas dos três poderes da República. Nos Judiciários tentam comprar sentenças, envolver magistrados, fazer chicanas e absolver os poderosos. Regozijam-se quando a Justiça tarda e falha. Quanto mais ela pender sua balança para os ricos, melhor.

Nos Executivos, armam licitações dirigidas, beneficiam grandes empresas e estabelecem consórcios de propinas. Montam uma rede de “amigos” especializada em quebrar todas as barreiras republicanas que distinguem o público do privado, o interesse social do negócio mercantil.

Nos Legislativos, alavancam esquemas vitoriosos de financiamento empresarial de campanha e de publicidade despolitizadora. Assim elegem, além dos governos, sua “base de sustentação”, alimentada pela distribuição de cargos para nomeação de apaniguados. Direcionam as emendas orçamentárias para aqueles que possam se beneficiar de sua execução, cobrando retribuição.

Eles não gostam da claridade das ruas. Agem nos bastidores, justificando-se, no seu fatalismo interessado, com o “sempre foi assim”. Vandalizam o bem comum, frequentam as altas-rodas e têm certeza da impunidade.

Para enquadrá-los, é preciso desmontar a estruturas do poder oligárquico. Uma consigna, efetivamente praticada, também combateria essa chaga: LIMPE. De Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, princípios fundamentais da administração pública, inscritos no artigo 37 da Constituição Cidadã que nos rege, há 25 anos.

BRASILEIRO É OTÁRIO?



Americanos são bobos, egoístas, uns capitalistas insensíveis. Mas vejam que coisa: os serviços básicos funcionam, as estradas são boas, quase todos possuem carros decentes

RODRIGO CONSTANTINO
O GLOBO
Publicado:24/12/13 - 0h00


Sempre que vou aos Estados Unidos retorno com essa questão: somos um povo otário? Afinal, adoramos nos vangloriar de nossa “malandragem”, de nosso “jeitinho”, mas vivemos imersos em um mar de ineficiência, corrupção, carestia e criminalidade. Há malandro demais para otário de menos por aqui.

Os americanos são bobos, egoístas, uns capitalistas insensíveis. Mas vejam que coisa: os serviços básicos funcionam, as estradas são boas, quase todos possuem carros decentes, pelos quais pagaram um terço do valor que nós pagamos, e podem andar com vidros abertos e ter casas sem muros. Que otários!

Ainda bem que somos diferentes, desconfiamos do lucro, dos empresários, e delegamos ao papai Estado todo nosso destino. Temos agora até universidade marxista voltada exclusivamente para o trabalhador, para não deixá-lo “alienado”, e sim um camarada “politizado”, engajado na luta pela justiça social. Somos muito melhores!

Temos um governo metido nos piores escândalos de corrupção, mas ainda favorito para mais um mandato em 2014. A economia não cresce, paramos de gerar empregos, a inflação continua alta demais, cada vez mais gente depende de esmolas estatais, a carga tributária sobe sem parar, mas ninguém parece se importar. A Copa vem aí, e somos a pátria de chuteiras.

Após oito anos, os mensaleiros finalmente foram presos, mas ainda tentam vender a imagem de injustiçados. Um deles recebe amplo apoio dos artistas e “intelectuais” da esquerda caviar, pois teria um currículo louvável (comunista por acaso pode ter passado digno de aplausos?) e não teria roubado para si próprio. O outro se compara a Mandela.

E o PT faz evento oficial para defender os bandidos presos e atacar o STF, ao lado de uma presidente da República conivente, passiva, cúmplice. Alguém pode imaginar isso nos Estados Unidos? Claro que não. Eles não são tão compreensivos e cordiais como nós.

Estive em Miami e Orlando. Só brasileiro, nem preciso falar. Estamos por toda parte, comprando e comprando. “Consumistas burgueses”, diria um típico comuna. “Classe média fascista”, diria Marilena Chauí. Mas que mal há em desejar pagar um terço do preço que se paga no Brasil pelos mesmos produtos? Compram em Miami os que não são ricos a ponto de poder comprar no Brasil.

“Ah, mas é preciso financiar a justiça social”, alegam os esquerdistas. Ora, o governo americano é a polícia do mundo (felizmente), e nós precisamos de um governo ainda maior em termos relativos? Haja esmola, para pobre e para rico (BNDES).

Sem falar que, no Brasil, reina o culto do pobrismo. As esquerdas amam a miséria, não os pobres. E odeiam os ricos mais do que “amam” os necessitados. Não existem abutres sem carniça, não é mesmo?

O Brasil realmente testa nossa paciência. A impressão digital do governo inchado está em todas as cenas do crime, mas eis que boa parte da população pede, como solução para nossos males, mais governo! Seria cômico, não fosse trágico.

Mas é véspera de Natal, e não quero estragar a ocasião. Quero até aproveitar a oportunidade e fazer meus pedidos a Papai Noel. É verdade que ele tem toda pinta de marxista: usa roupa vermelha, distribui presentes pagos por terceiros, e coloca outros para fazer o trabalho pesado enquanto fica com a fama de bondoso. Não importa. Faço minha lista, na esperança de ser atendido:

1. Que o povo brasileiro possa acordar em 2014 e ter o bom senso de evitar um destino trágico como o da Argentina ou da Venezuela para nosso lindo país.

2. Que o funk não seja mais visto como “apenas” uma forma artística diferente, tão boa quanto música clássica ou ópera.

3. Que a doutrinação marxista nas nossas universidades chegue ao fim e que cada vez mais alunos e professores tenham a coragem de se rebelar contra tal covardia.

4. Que a hegemonia de esquerda na política nacional seja finalmente vencida e que algo NOVO possa surgir como alternativa.

5. Que esses ecochatos e politicamente corretos arrumem algum passatempo individual e nos deixem em paz para vivermos de acordo com nossas preferências pessoais.

6. Que todos aqueles que conseguem defender a ditadura cubana em pleno século 21 resolvam abandonar a hipocrisia e comprar uma passagem só de ida para a ilha-presídio caribenha.

7. Que os brasileiros passem a ler mais, de preferência bons livros.

8. Que todos aqueles que querem “salvar o mundo” antes arrumem o próprio quarto.

9. Que todos lembrem de que solidariedade é algo voluntário, não compulsório, via impostos dos outros.

10. Que nosso povo seja menos “malandro”, como os americanos.

Feliz Natal.

EM 2014, VEM PARA RUA VOCÊ TAMBÉM


Renan Calheiros usou um jato da FAB para um implante de cabelos, o Brasil precisa de votos na mão e pés na rua

ELIO GASPARI
O GLOBO
Publicado:25/12/13 - 0h00


A repórter Andréia Sadi revelou que o presidente do Senado, doutor Renan Calheiros, preocupado com sua cabeça, requisitou um jato da FAB para voar de Brasília a Recife, onde fez um implante de dez mil fios de cabelo. Quem nestas Festas viajou com seu dinheiro deve perceber que esse tipo de coisa só acabará pela associação dos direitos de voto e de manifestação em torno de políticas públicas. Só com o voto isso não muda. Pelo voto, Renan começou sua carreira política em 1978, elegendo-se deputado estadual pelo MDB de Alagoas.

Renan Calheiros é um grão-mestre da costura política. Foi líder do governo de Fernando Collor de Mello e ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Desde 2003 é um pilar da coligação petista no Congresso. Pertence a uma categoria imune à vontade popular. Ela pode ir para onde quiser, mas ele continuará no poder, à sua maneira. Como ministro da Justiça do tucanato, tendo seu nome exposto na Pasta Rosa dos amigos do falecido Banco Econômico, defendeu o uso do Exército para reprimir saques de famintos durante a seca de 1998. Politico da Zona da Mata alagoana, estava careca de saber que tropa não é remédio para esse tipo de situação. Nessa época, dois de seus irmãos foram acusados de terem mandado chicotear um lavrador acusado de roubar um aparelho de TV numa fazenda. Um desses irmãos elegeu-se deputado federal. Entre 1998 e 2006 teve uma variação patrimonial de 4.260%, amealhando R$ 4 milhões.

Renan teve uma filha fora do matrimônio quando ganhava R$ 12.720. A mãe da criança era ajudada por uma empreiteira amiga que lhe dava uma mesada de R$ 16.500. Por causa desse escândalo, por pouco não foi cassado, mas renunciou à presidência do Senado. Reelegeu-se e voltou à cadeira que já foi de Rui Barbosa prometendo uma agenda ética, de “transparência absoluta”. Contudo, como diz o senador Edson Lobão Filho, filho e suplente do senador Edson Lobão, ministro de Minas e Energia, “a ética é uma coisa muito subjetiva, muito abstrata”. Nesse mundo de abstrações, Renan, vendo a despensa de sua casa concretamente desabastecida, mandou abrir um pregão de R$ 98 mil para a compra de salmão, queijos, filé mignon, bacalhau e frutas. Apanhado, cancelou a compra.

Renan não é um ponto fora da curva. Ele é a própria curva. Em 2005, como presidente da Casa, deu sete cargos de R$ 10 mil a cada colega. Seu mordomo ganha R$ 18 mil. Em julho, quando ainda havia povo na rua, usou um jatinho da FAB para ir a um casamento em Trancoso. Apanhado, devolveu o dinheiro. Passados cinco meses fez o voo do implante.

Estabeleceu-se uma saudável relação de causa e efeito entre esse tipo de comensal da Viúva e a opinião pública. Eles não se corrigem, mas, uma vez denunciados, recuam. São muitos os maganos que não toleram saguão de aeroporto, despensa vazia e parente desempregado. Nessas práticas, é fácil colocá-los debaixo da luz do sol. Quando se trata da convênios, contratos de empreiteiras e grandes negócios, a conversa é outra.

Em 2014 a turma que paga as contas irá as urnas. Elas poderão ser um bom corretivo, mas a experiência deste ano que está acabando mostra que surgiu outra forma de expressão, mais direta: “Vem pra rua você também.”

O BRASIL NAS RUAS


ZERO HORA 26 de dezembro de 2013 | N° 17655

EDITORIAL




Neste segundo editorial da série de análises de 2013, a RBS opina a respeito das manifestações de junho e dos seus resultados para o país.

Quem nos representa no Brasil, sejamos nós jovens ou nem tanto, crianças ou idosos? Desde junho último, quando brasileiros começaram a ocupar as ruas, contagiados pela força da juventude, ficou claro que não são mais os políticos tradicionais, ou pelo menos não apenas eles, nem outros clássicos porta-vozes. Mobilizados basicamente pelas redes sociais, com hashtags como #VemPraRua, #OGiganteAcordou e #MudaBrasil, os manifestantes recorreram a contrastantes pedaços de cartolina, rabiscados à mão, para alardear essas mensagens relevantes. Tem tanta coisa errada que não cabe em um cartaz, resumia um dos pôsteres. Por trás da máscara do personagem Guy Fawkes, de V de Vingança, porém, entre as boas intenções dos manifestantes de maneira geral e excessos de grupos como os black blocs, o recado foi dado. O país pode não ter despertado de vez, nem ter se transformado como sonhavam os ativistas, mas já não é o mesmo.

Motivados inicialmente pelo alto custo e a baixa qualidade do transporte público, os protestos deixaram grafados desde o início: “Não é por 20 centavos, é pelo meu futuro”. Em seguida, miraram os investimentos da Copa, com a ressalva: “Não é contra a Seleção, é contra a corrupção”. Em outras mensagens escritas, os manifestantes passaram a exigir “Saúde padrão Fifa”, a ironizar que “Ia ixcrever augu legau mais faltô edukssão”, a pedir segurança com frases do tipo “Por favor, não me bata! Proteja-me”, a alertar a classe política de que “Ou para a roubalheira, ou paramos o Brasil”. Diante de apelos transcritos também em pôsteres com referências a clássicos da música brasileira como “Brasil, mostra tua cara” e “O dia vai raiar, sem lhe pedir licença”, dirigentes brasileiros dispuseram-se finalmente a ouvir mais a voz das ruas, a discursar e a ostentar menos, a mudar a agenda, a fazer diferente, a reconhecer erros.

Em muitas capitais, a tarifa de ônibus urbano diminuiu, mas a discussão não se limitou aos 20 centavos: hoje, a mobilidade urbana é tema central, o espaço público entrou na pauta da sociedade e a bicicleta se firma como símbolo da mudança. O Planalto se deu conta da gravidade do estado da saúde pública. Mas, por enquanto, as mudanças são percebidas mais por meio de iniciativas polêmicas, como o Mais Médicos, enquanto persiste o medo nas ruas e os professores continuam longe de ter “o salário de um deputado e o prestígio de um jogador de futebol”. O Congresso preocupou-se em impor mais rigor a crimes envolvendo corrupção, tornou suas votações mais transparentes em alguns casos, facilitando o acompanhamento por parte dos cidadãos. Continua, porém, devendo uma reforma política ampla. Ampla o suficiente para levar os eleitores a recuperar a confiança perdida em seus representantes escolhidos pelo voto.

A exemplo de outros movimentos disseminados pelo mesmo processo de “propagação viral” como a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street e os Indignados, na Espanha, o nosso não conseguiu tornar reais todos os desejos manifestados nos cartazes. Depois de junho de 2013, porém, o relacionamento entre instituições públicas e privadas com seus públicos, nelas incluídas a própria mídia, nunca mais será o mesmo. O legado das manifestações populares terá mais consistência se contribuir para reforçar a cidadania e a ética entre os brasileiros.


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

ATO EM APOIO À BARBOSA POR DIREITO A ARMAS E MENOS IMPOSTOS

FOLHA.COM 15/12/2013 - 20h37

Ato pró-Barbosa recolhe pedidos como direito a armas e menos impostos


DE SÃO PAULO


O evento foi convocado por maçons e por uma entidade da sociedade civil como um ato em apoio a Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, pela condução do processo do mensalão. Mas não ficou nisso.

Os 29 manifestantes que compareceram ao Parque do Povo, em São Paulo, bem como os visitantes do local, podiam registrar pedidos em filipetas distribuídas por um Papai Noel, que, entre uma badalada de sino e uma risada forçada, suava debaixo da roupa vermelha. Já no início da manhã, a temperatura era de 27°C no Itaim Bibi, zona oeste.

Depositados em uma urna acrílica, os pedidos davam o tom do protesto: foram solicitados "um país justo de impostos" e a Lei do Armamento, para a "plena defesa do cidadão: poder portar armas".

Os papéis seriam todos encaminhados ao gabinete de Dilma Rousseff, informava, no megafone, o líder do ato, o empresário Joe Diwan. Os organizadores do protesto ressaltaram que os visitantes do parque tiveram liberdade de escrever o que quisessem, e que os pedidos depositados na urna não representam os ideais do movimento.

Um dos participantes sugeriu o seguinte: os políticos deveriam se fiar à lista de reclamações do Procon para conhecer as necessidades do povo. "Estão lá: celular e banco", disse Jose Chehembar. Com faixas, cartazes e apitos- -e ladeado por quatro guardas-civis metropolitanos-- o grupo se postou no gramado central do parque para cantar o hino nacional.

A associação envolvida no ato, Movimento Brasil Merece Mais, causou polêmica recente ao organizar uma rede de segurança privada em Higienópolis (centro), em que moradores podem "denunciar" a presença de algum "andarilho ou pedinte" no bairro.



sábado, 30 de novembro de 2013

A NOVA TFP

REVISTA ISTO É N° Edição: 2298 | 29.Nov.13


Famosa pelo ultraconservadorismo e pelas manifestações contra o divórcio e o comunismo, a Tradição, Família e Propriedade hoje está voltada apenas para a religião e seu controle é disputado na Justiça


Quando se fala na Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, mais conhecida como a TFP, a imagem que vem à mente é a de uma instituição conservadora, defensora de posições políticas à direita, com um viés religioso e avessa a mudanças. Trata-se de uma imagem condizente com a realidade, pelo menos até quase 20 anos atrás. Sob as orientações de seu fundador, o advogado paulistano Plinio Corrêa de Oliveira, a sociedade se manifestava publicamente, fazia barulho com suas opiniões reacionárias e tomava as ruas empunhando megafones e seu estandarte, no qual reluzia um leão dourado, em marchas contra a reforma agrária, o divórcio, o aborto e o comunismo, entre outros temas. Em 1995, com a morte de seu fundador – chamado de Dr. Plinio pelos que comungam das ideias do quatrocentão paulistano –, a TFP passou por uma verdadeira revolução interna que acabou por redefinir seu perfil de atuação e expulsar membros mais antigos, numa briga que foi parar na Justiça. “Hoje, a nova TFP tem uma agenda prevalentemente religiosa”, diz Paulo Brito, um dos mais antigos, que, excluído, organizou com outros colegas de geração a Associação dos Fundadores. Sem vínculos com a atual TFP, a associação tenta reaver judicialmente o nome da entidade e ainda ocupa, como Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO), o majestoso casarão no bairro de Higienópolis, em São Paulo. “O engajamento e a agenda temporal, com campanhas públicas, por exemplo, acabaram”, lamenta.


NOVA DIREÇÃO
As marchas por causas conservadoras (acima) deram lugar à espiritualidade dos
“Arautos do Evangelho”, liderados pelo monsenhor João Clá (abaixo)




Os fundadores reunidos para comemorar o centenário
do nascimento de Plinio Corrêa de Oliveira

Para entender a revolução que deu origem à nova TFP é preciso voltar a 1995, pouco depois da morte de Oliveira, em 3 de outubro. Desde a sua fundação, a sociedade funcionou sob o comando de oito senhores chamados de fundadores. Únicos com direito a voto, eles determinavam, sozinhos, os rumos da organização e nunca encontraram grande resistência. No entanto, com a expansão da TFP e a efervescência política no País a partir de 1989, um grupo crescente de membros começou a manifestar desconforto com a concentração de poder dos fundadores. O pleito dos reformistas era por uma mudança no estatuto, que poderia vir a dar direito de voto a mais membros e fazer da instituição um lugar mais democrático. Mas, embora presente em meados dos anos 1990, a causa pela democratização da TFP ainda era pouco popular. A impressão geral era de que, enquanto Oliveira estivesse vivo, pouco mudaria. “Mas quando o Dr. Plinio morreu, os dissidentes passaram a se articular melhor e mostraram ter um líder, o monsenhor João Scognamiglio Clá Dias”, afirma Frederico Viotti, advogado e membro da Associação de Fundadores.

“Hoje, a nova TFP tem uma agenda prevalentemente religiosa.
O engajamento temporal acabou”
Paulo Brito, da Associação dos Fundadores

O monsenhor João Clá foi, durante quase três décadas, o braço direito de Oliveira. Figura carismática e por vezes colérica, ele destoava da maioria dos membros da TFP por ser religioso, e não leigo, e chamava a atenção pelo traquejo que tinha com jovens, além de uma confiança quase cega do idealizador da entidade. O monsenhor João Clá chegou a escrever a biografia da mãe de Oliveira e trabalhava com ardor e dedicação raros, exercendo sua liderança. “Um traidor”, resumem os fundadores. Segundo eles, foi sob a batuta do monsenhor João Clá que, em 1997, os reformistas, conhecidos como dissidentes, levaram a disputa pelo controle da TFP à Justiça. Alegando que uma sociedade civil não pode ser administrada sem a consulta de seus membros, eles pediram a mudança no estatuto da sociedade para ter direito a voto. Embora tenham perdido em primeira instância, em 1998, conquistaram, de forma plena, a posse da sigla TFP em 2004, além de bens e de sua diretoria. Vencida, a velha guarda saiu da sociedade e criou a Associação dos Fundadores, também em 2004. O processo hoje aguarda decisão final do Supremo Tribunal Federal.


DISSIDÊNCIA
Frederico Viotti luta pelo retorno dos fundadores,
expulsos da TFP pelos dissidentes em 2004

O que se viu desde que os dissidentes assumiram a TFP foi, na prática, uma refundação da sociedade sob um projeto novo e, aparentemente, sem grandes ambições expansionistas. As atividades classificadas como “temporais”, ou não religiosas, do grupo foram sendo reduzidas gradualmente. Palestras, jornadas, círculos de estudo, caravanas, campanhas e marchas – as grandes ferramentas do projeto original da TFP, que era de atuar publicamente em defesa de suas crenças – deram lugar à oração e à vivência da fé pura e de forma quase exclusivamente meditativa. Para os fundadores, foi um esvaziamento consciente e proposital da TFP pelas novas lideranças, em especial pelo monsenhor João Clá, que, segundo os mais antigos, teria como objetivo extinguir a sociedade. Já para os dissidentes, nada mais era que uma adequação de missão aos novos tempos. Como o comunismo, a reforma agrária e até o divórcio se tornaram temas de certa forma superados, era natural que o foco mudasse e, no caso da TFP, voltasse para a religiosidade.

Os rumos seguidos por João Clá dentro e fora da TFP depois da disputa com os fundadores ilustram isso. Foi ele, por exemplo, quem criou, quatro anos depois da morte de Oliveira, os “Arautos do Evangelho”, uma associação privada de fiéis de direito pontifício – subscrita, portanto, ao papa. Enquanto na TFP original a tríade era tradição, família e propriedade, e nunca se buscou reconhecimento do Vaticano, nos “Arautos” as máximas eram e ainda são o papa, Maria e a Eucaristia. João Clá parece ter predileção pelo projeto dos “Arautos”, que, nos últimos anos, expandiram sua base de membros e hoje estão em 78 países de cinco continentes. Nesse período, por sua vez, nem o site da TFP era atualizado. Em visita à seção “Galeria de fotos” da página da sociedade ainda no ar, se percebe que, entre as quatro imagens disponíveis, três são de mais de 20 anos atrás. “Houve uma nítida mudança de foco e a TFP, hoje, vive abandonada”, diz Viotti.


TEMPOS ÁUREOS
Sob Plinio Corrêa de Oliveira (acima), a TFP, com sede em casarão
no bairro de Higienópolis, em São Paulo (abaixo), viveu seu auge



De fato, a nova TFP não é nem sombra do que já foi. Embora com bens valiosos, como terrenos e alguns imóveis, além de um estruturado serviço de mailing que distribui medalhas e recolhe donativos, a entidade perdeu relevância e deixou de ser referência na agenda conservadora do País. Mesmo que o Supremo Tribunal Federal reverta as decisões de segunda e terceira instâncias favoráveis aos dissidentes e devolva a instituição aos fundadores, é difícil imaginar que ela volte a ser a influente TFP de antigamente. Dos oito membros originais, seis estão vivos, todos com mais de 80 anos. Será um imenso desafio fazer seu discurso reacionário encontrar eco na juventude do século XXI.





Fotos:Jjoão Wainer/Folhapress; PAULO PINTO/AE; Joel Silva/Folhapress: kelsen Fernandes/Ag. Istoé; Juan Esteves/Folhapress; BIO BARREIRA


O MANIFESTANTE

REVISTA ISTO É N° Edição: 2298 | 29.Nov.13


As manifestações de junho já mudaram o País. A famigerada PEC-37, que restringia o poder de investigação do Ministério Público, foi rejeitada pelo Congresso e o Senado aprovou lei que transforma corrupção em crime hediondo. Tudo isso graças à voz das ruas

Por Amauri Segalla





O cantor americano Bob Dylan disse em uma entrevista recente que hoje em dia ninguém mais quer sonhar. “Vivemos uma estúpida era de conformismo”, afirmou. Isso provavelmente é verdade em muitos lugares do mundo, mas não no Brasil. O que teria levado, em junho passado, dois milhões de brasileiros às ruas de todas as capitais e de mais de 500 municípios a não ser uma irreprimível e saudável rebeldia? O que teria movido essas pessoas senão o sonho de mudanças? Os manifestantes – cada um deles – são os “Brasileiros do Ano” para a ISTOÉ não apenas porque tiveram coragem para protestar.
É mais do que isso: o clamor dos manifestantes – o clamor de cada um – está ajudando a construir um país melhor.


TODAS AS IDADES
Aos 82 anos, Marita Ferreira caminhou
durante três horas nos protestos de junho

O excepcional nas manifestações de junho é que elas aglutinaram, provavelmente pela primeira vez na história do Brasil, gente de todas as ideologias (até os que não têm nenhuma), de diferentes classes sociais e de variadas gerações. Aos 82 anos, a aposentada Marita Ferreira se tornou um símbolo involuntário do movimento que varreu o País. No dia 17 de junho, dona Marita, uma senhora de andar altivo e fala firme, pegou o filho e o neto e se dirigiu à avenida Faria Lima, em São Paulo. Levou de casa um cabo de vassoura, cartolina e caneta piloto. Era tudo o que precisava para fazer um cartaz onde se lia “82 anos. Não vim pra brincar, vim manifestar.” Durante as três horas de caminhada pelas ruas de São Paulo, gritou como pôde, ergueu os punhos, dançou em plena avenida – mais ou menos como fizera em 1992, nas manifestações populares contra o governo do presidente Fernando Collor. “Dessa vez protestei contra a bandalheira que vem de todos os lados”, berra dona Marita, numa pausa para a foto que ilustra este texto. Com problemas de audição, ela fala num tom bem mais alto do que o resto da humanidade. Talvez por esse motivo suas palavras de ordem se fizeram ouvir nas passeatas.


GRITOS
Márcia Trinidad e a filha Maitê Peres: depois de muito tempo,
o cidadão comum percebeu que tem poder para mudar o País

Dona Marita não segue ninguém e também não quer ser comandada. A primavera brasileira, desabrochada no final do outono, reúne essa característica peculiar: é apartidária e avessa a toda e qualquer liderança que tente se apropriar do movimento. A psicóloga Márcia Trinidad, 44 anos, tem lá algumas inclinações políticas, mas não deixa que elas contaminem suas aspirações. “Fiquei horrorizada com a violência policial que reprimiu as primeiras passeatas e decidi ir para a rua lutar contra isso”, diz. Com ela, estava a filha Maitê Peres, 21 anos, estudante de publicidade do Mackenzie. Usuária de transporte público, Maitê identificou-se com a causa do Movimento Passe Livre, grupo que teve o mérito de começar a onda de protestos com uma única reivindicação: a redução do preço das passagens de ônibus. “Essa história dos 20 centavos foi só o ponto de partida”, diz Maitê. “Nós meio que percebemos que tínhamos poder para mudar as coisas. Foi a primeira vez que a minha geração sentiu isso de verdade.”

A primavera brasileira é apartidária e avessa a toda e
qualquer liderança que tente se apropriar do movimento

As gigantescas multidões que transbordaram das ruas brasileiras serviram para expressar múltiplos sentimentos. Não houve uma razão maior que tivesse despertado a alma anestesiada do cidadão comum. Incontáveis motivos tiraram os brasileiros do estado de conformismo. Houve protestos contra o baixo nível da educação pública, a carência de médicos, a corrupção generalizada, as condições precárias das estradas, os gastos irresponsáveis com os preparativos para a Copa do Mundo. Os críticos disseram que a falta de uma bandeira única enfraqueceria o movimento, que se tornaria disperso e vago demais para surtir efeitos duradouros. Erraram feio. Pela primeira vez, em muitos anos, os poderosos tiveram que se curvar à voz das ruas. Apenas 13 dias depois da primeira passeata organizada pelo Movimento Passe Livre, prefeitos de dezenas de cidades começaram a revogar o reajuste do preço das tarifas de ônibus. Nesse caso específico, os manifestantes venceram – de goleada.


LUZ E SOMBRAS
Manifestantes ocupam a cobertura do Congresso Nacional no dia 17 de junho

Por mais que algumas vozes dissonantes digam o contrário, as manifestações de junho ajudaram, sim, a mudar o País. A famigerada PEC-37, que restringia o poder de investigação do Ministério Público, foi rejeitada pelo Congresso. Sem as vozes das ruas, o destino da PEC-37 teria sido o mesmo? A gritaria de milhões de brasileiros contra a corrupção surtiu resultados. Esquecido há anos em Brasília, o projeto de lei que transforma corrupção em crime hediondo foi aprovado no Senado depois da avalanche de manifestações. Na quinta-feira 28, o Senado e a Câmara promulgaram a emenda que prevê o fim do voto secreto para a cassação de mandato de senadores e deputados, exatamente como queriam os brasileiros que se rebelaram em junho. O que disse o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves? Segundo ele, agora o Congresso caminha ao encontro dos anseios do povo brasileiro, “que foi às ruas em junho clamando por melhores serviços públicos e por mais ética.” Não é só. Lembra dos cartazes que pediam mais recursos para as áreas de educação e saúde? Pois bem: definiu-se que 75% dos royalties do petróleo vão para a primeira e 25% para a segunda. Os poderosos entenderam o recado: as ruas não poderão novamente ser desprezadas.


PÁTRIA
Jovens contrários ao aumento do preço do bilhete de ônibus
caminham na avenida Paulista, em São Paulo

Os manifestantes de junho também tiveram a sabedoria de frear os protestos quando eles degeneraram para a insanidade da violência. A partir desse momento ficou fácil identificar quem eram as pessoas de bem – o brasileiro comum que deseja apenas um país melhor – e todos os outros que estavam ali apenas para dar vazão a atos criminosos. Os manifestantes pacíficos por ora silenciaram, mas não significa que serão novamente omissos. Desde junho, muita coisa andou graças ao grito espontâneo de dois milhões de pessoas. Bob Dylan certamente gostaria de saber que algo maravilhoso aconteceu no Brasil.

Fotos: PEDRO DIAS/Ag. Istoé; Pedro Ladeira/Folhapress; Marcelo Alves/Techimage/Folhapress



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

INTRODUÇÃO AO DIREITO

Aprenda: Quando não defendemos nossos direitos, perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia. 

Primeiro dia de aula, o professor de 'Introdução ao Direito' entrou na sala e a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila: 

- Qual é o seu nome?
- Chamo-me Nelson, Senhor.
- Saia de minha aula e não volte nunca mais! - gritou o desagradável professor. 

Nelson estava desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala. 

Todos estavam assustados e indignados, porém ninguém falou nada. 

- Agora sim! - vamos começar .
- Para que servem as leis? Perguntou o professor 

Seguiam assustados ainda os alunos, porém pouco a pouco começaram a responder à sua pergunta: 

- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.
- Não!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma garota.
- Até que enfim! É isso, para que haja justiça. 

E agora, para que serve a justiça? 

Todos começaram a ficar incomodados pela atitude tão grosseira. 

Porém, seguíamos respondendo:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor .
- Para diferençar o certo do errado, para premiar a quem faz o bem...
- Ok, não está mal porém respondam a esta pergunta:
"Agi corretamente ao expulsar Nelson da sala de aula?"
Todos ficaram calados, ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não! - responderam todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!
- E por que ninguém fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais! Vá buscar o Nelson - Disse. Afinal, ele é o professor, eu sou aluno de outro período.

Aprenda: Quando não defendemos nossos direitos, perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia. 


Via Jaqueline Piloneto

terça-feira, 17 de setembro de 2013

COMERCIANTE QUEREM SER INDENIZADOS

FOLHA.COM 17/09/2013 - 12h03

Comerciantes do Rio querem indenização do Estado por depredações em protestos


DO RIO



Comerciantes cariocas que tiveram suas lojas depredadas durante as manifestações ocorridas no últimos três meses querem que o governo do Estado do Rio os indenize.

A ideia, proposta pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), foi divulgada por meio de nota nesta terça-feira (17). A ACRJ informou que pediu ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que considerasse os casos de violência contra patrimônio privado na cidade como situação de calamidade pública, o que permitiria que os comerciantes fossem ressarcidos legalmente por eventuais prejuízos com as manifestações.

Sem entrar em detalhes de como fez o cálculo, a ACRJ afirmou que o fechamento do comércio em dias de manifestações gera um prejuízo para o setor que chega a R$ 350 milhões, montante que representa 50% do faturamento diário do segmento na cidade. A entidade não informou quanto os comerciantes associados já tiveram de prejuízo devido especificamente às depredações de vitrines e saques.

A ACRJ ressaltou que enxerga as manifestações populares como uma "demonstração da importância do regime democrático para o fortalecimento da sociedade", mas condenou veementemente o que considerou "vandalismo e bandidagem".

A associação destacou ainda que cabe ao Estado garantir o direito à livre manifestação sem se descuidar das pessoas e estabelecimentos públicos e privados.

"A Associação Comercial do Rio de Janeiro tem oferecido apoio aos comerciantes que sofreram com os atos criminosos perpetrados durante as manifestações que marcaram a cidade e o país nos últimos meses. Todos nós sabemos que cabe ao Estado garantir o direito fundamental à livre manifestação sem se descuidar da segurança, tanto das pessoas quanto dos estabelecimentos públicos e privados. Diante da situação de total prejuízo que muitos comerciantes se encontram, sugeri ao governador que trate o assunto como calamidade pública, o que permitiria legalmente uma ação indenizatória rápida aos comerciantes. O governador demonstrou simpatia à ideia e ficou de avaliar", disse Leal, por meio de nota.

Reynaldo Vasconcelos/Futura Press/Folhapress

Manifestantes protestam contra o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), no fim do mês passado


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

EXERCÍCIO DE INTOLERÂNCIA E AUTORITARISMO



‘Anarcofascistas’ esvaziaram as manifestações melhor que qualquer tropa do Choque. São inimigos da democracia travestidos de progressistas



EDITORIAL
O GLOBO
Publicado:15/09/13 - 0h00


Desde meados de junho, quando se ergueu a onda de manifestações de rua, este ciclo de protestos cumpriu uma trajetória específica e com diferentes fases. Recorde-se que a centelha partiu de um grupo ligado a frações de esquerda radical, sob o abrigo da bandeira pelo passe livre no transporte público, o MPL. Uma ação de violência despropositada da PM de São Paulo, contra um grupo de jovens do movimento, funcionou como segunda e mais poderosa centelha, para atrair a simpatia e a participação de uma nova, e maior, leva de manifestantes, com a visível participação de extratos das classes médias, a “nova” e a “velha”.

Ganhou força a defesa do apartidarismo nos protestos, e a pauta levada às ruas, antes centrada nos transportes públicos, terminou ampliada e, por isso, ganhou importância política. Deficiências generalizadas na infraestrutura, a má prestação de serviços na Educação e Saúde, a corrupção, muitas dessas denúncias resumidas na reivindicação de uma ação do Estado no “padrão Fifa”, frequentaram manifestações então já estendidas às capitais e cidades importantes do interior. Coerentes com este clima, cresceram protestos contra os gastos no projeto da Copa do Mundo.

No auge do apartidarismo do movimento, forças políticas com tradição de rua — sindicatos, PT, UNE e outras organizações — chegaram a ser impedidas de entrar em passeatas.

Toda essa histórica demonstração de vitalidade da sociedade brasileira, a ponto de surpreender correntes político-partidárias ligadas a mobilizações ditas de massa, tomou outro rumo, e se enfraqueceu, com a crescente atuação de vândalos, biombo para saqueadores do comércio.

Eles foram decisivos para esvaziar as ruas dos manifestantes da fase de crescimento dos protestos, quando a agenda de reivindicações cresceu. No Rio, os ataques à prefeitura, à Assembleia Legislativa (Alerj) e a depredação do Leblon se constituíram no marco desta última fase de recuo dos protestos.

Críticas a políticas públicas foram substituídas pela violência em estado bruto — a violência pela violência. Alguns segmentos da chamada esquerda chegaram a simpatizar com os black blocs da vida, inicialmente autointitulados “seguranças” das manifestações. Até “famosos” trocaram acenos com a turba de preto.

Na verdade, o fenômeno nada mais é do que mais uma ameaça à democracia e às liberdades civis vindas de forças progressistas apenas na aparência. Às vezes, nem isso.

O nacional-socialismo também oferecia o paraíso na terra, e o desfecho é bem conhecido. Uma espécie de “anarcofascismo” — autoritário na essência, como teria de ser — sufocou as manifestações com mais eficiência que qualquer tropa de choque.

Serve de demonstração em tempo real da existência de inimigos da democracia e da tolerância disfarçados de forças renovadoras.


domingo, 8 de setembro de 2013

A POLÍTICA ESTÁ ENTRANDO NA VIDA DAS PESSOAS

O ESTADO DE S.PAULO 07 de setembro de 2013 | 15h 31

Análise

Maria Aparecida de Aquino, professora do Departamento de História da USP


O poder de apelo das redes sociais é fenômeno novo, que não é brasileiro, é mundial. Para ficarmos só no exemplo mais conhecido, a Primavera Árabe também foi organizada via internet. O que nos cabe fazer, hoje, é perguntar por que as pessoas atendem a esses chamados das redes.

Tenho uma história de participação no passado, de luta sindical, e me lembro dos convites do tipo "você aí parado, também é explorado!" As pessoas viam as manifestações, mas não aderiam. E agora, de certa forma, estão aderindo. As transformações tecnológicas criam mudanças por toda parte e não podemos deixar de atentar para esse mundo novo e tentar entender o que ele representa.

Esse fenômeno se mescla com outro que cabe considerar - uma forte revisão da historiografia que, nas últimas décadas, faz uma reavaliação da história do Brasil. Trata-se de algo que ocorre, também, em outras regiões do mundo, como a Europa e os Estados Unidos. Versões únicas da História, como a de considerar a chegada dos portugueses como o "descobrimento" do Brasil, ou pensar que a nossa independência precisaria ser feita por um herdeiro da Coroa portuguesa que levantou a espada e gritou "independência ou morte", têm sido vigorosamente contestadas por esse novo modo de entender e escrever a História. E esse modo de entender não mais se limita à versão dos vencedores.

Tomemos o simples exemplo da nossa independência, comemorada neste Sete de Setembro. Foi um episódio comandado, literalmente, pelo herdeiro da Coroa Portuguesa - algo como contratar a raposa para tomar conta do galinheiro, se cabe aqui uma avaliação mais coloquial. Quando isso se dá, escamoteiam-se, de modo cruel, todas as manifestações populares pela independência já feitas antes. Para mencionar as mais significativas, a Inconfidência Mineira em 1789, a conjuração baiana de 1798, a revolução pernambucana de 1817 - movimentos que não só mostravam o desejo de independência mas também já continham o ideal republicano.

O que se tem é este Sete de Setembro, uma data feita para escamotear o real processo de independência do povo brasileiro e sua presença efetiva nos movimentos sociais. Talvez se possa dizer que o Brasil que agora vai às ruas quer acabar com as histórias da carochinha - as de antes e de agora.

Com ajuda dessa nova historiografia, que já marca presença nos livros didáticos, o País vem construindo um processo que vai contra a maré do "ter vergonha de ser brasileiro". O Brasil ganha espaço, como os outros países emergentes. É convocado para todos os grandes fóruns mundiais. Somos neste início do século 21 uma nação que importa no contexto internacional.

Não acho que daqui a 30 anos essas redes sociais sejam vistas como o grande fenômeno do começo do século 21. Mas elas vieram para ficar, e isso é algo que não podemos deixar de considerar. É preciso entender seu significado, como elas podem ajudar a melhorar as condições do povo brasileiro. Graças a elas, pessoas sem participação ou vinculação partidária de repente estão em passeatas. Essas redes nos informam que a política está entrando na vida das pessoas.

sábado, 7 de setembro de 2013

MANIFESTANTES INVADEM ÁREA DE DESFILE MILITAR NO RIO


Polícia usa bombas de gás lacrimogêneo para conter manifestantes. Cinco pessoas foram presas em tumulto na Avenida Passos. Manifestantes jogaram bomba em extinto batalhão da PM


DOMINGOS PEIXOTO
EMANUEL ALENCAR
SIMONE CANDIDA
COM CBN E GLOBO NEWS
O GLOBO
Atualizado:7/09/13 - 10h30

Policiais tentam conter manifestante mascarado no Centro Domingos Peixoto / Agência O Globo


RIO - Manifestantes que fazem uma passeata no Centro do Rio invadiram a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, onde é realizada a parada militar do Sete de Setembro. Eles acessaram a pista pela Praça da República depois de terem sido barrados na Avenida Passos, onde houve um tumulto com policiais militares. Homens do Batalhão de Choque tentaram conter os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo. Apesar da confusão, o desfile cívico continua. A passeata seguiu da Avenida Passos pelas ruas do Centro Histórico. No caminho, manifestantes jogaram uma bomba dentro do extinto 13º BPM (Praça Tiradentes). Os policiais responderam com pelo menos duas bombas de gás lacrimogêneo. A vidraça de uma agência bancária foi atingida por uma pedra. Cerca de 300 manifestantes participam da passeata. Devido à manifestação, o acesso Campo de Santana da Estação Central do metrô foi fechado.

Depois do tumulto na Avenida Passos, cinco pessoas foram presas. Um dos jovens estava com um estilingue e um desfragmentador de maconha. Impedidos de acessar a Presidente Vargas pela Avenida Passos por causa do bloqueio militar para a parada de Sete de Setembro, os manifestantes seguiram para a Praça Tiradentes e Rua Visconde de Rio Branco em direção ao Campo de Santana.

Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que acompanham o ato, informaram que um deles foi preso por desacato, outro por agressão. Um quarto detido usava máscara de gás. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas durante a confusão.

Um dos feridos foi atingido na cabeça e socorrido por estudantes de medicina que apoiam o protesto. Francisca de Assis Barbosa, de 37 anos, foi levada a pé para o Hospital municipal Souza Aguiar. Ela disse ter sido atingida por cassetete de um PM.

- Eles (os PMs) começaram a bater num homem que estava perto de mim e eu acabei sendo atingida na cabeça - disse.

O manifestante Hugo Andrade Pontes também foi encaminhado para o Souza Aguiar depois de ser atingido pela arma de choque de um PM. Outra pessoa inalou gás de pimenta e passou mal. A vítima também foi atendida por estudantes de medicina. Já o fotógrafo do jornal O Dia, Alessandro Costa, foi atingido por um chute do policial militar.

Na Praça Tiradentes, o fotógrafo Marcos de Paula, do jornal Estado de São Paulo, foi ferido por uma bomba de gás lacrimogênio. Ele disse que a bomba foi jogada pela polícia, quicou no chão e grudou no seu braço, causando uma queimadura.

Advogados disseram que os três presos foram levados para a 17ª DP (São Cristóvão). De acordo com a PM, no entanto, o manifestante que estava com um estilingue foi levado para a 5ª DP (Gomes Freire) para prestar esclarecimentos. O advogado Luan Cordeiro, do Grupos Habeas Corpus, disse que as prisões foram arbitrárias. Ele afirmou que os ativistas presos usavam máscaras, mas se identificaram às autoridades policiais.


- Mesmo assim eles foram levados para a delegacia. O uso de máscara não está proibido, desde que se identifiquem - reforçou o advogado.

O tenente-coronel Mauro Andrade, comandante do Grupamento de Policiamento de Proximidade em Multidões (GPPM), afirmou que a Polícia Militar está cumprindo uma ordem judicial da 17ª vara criminal do Rio de Janeiro, que estabelece que qualquer manifestante que estiver usando máscaras deverá ser encaminhado para a delegacia, onde passará por identificação criminal.


- Não está proibido usar máscara, mas quem estiver usando será encaminhado para a delegacia e liberado se estiver tudo certo. É uma determinação da Justiça. Estamos cumprindo - afirmou.

Segundo informações da Rádio CBN, houve dois princípios de confusão na Avenida Passos, esquina com a Presidente Vargas. O tumulto teria começado depois que um manifestante que estava mascarado foi abordado. Revoltados, manifestantes cercaram os policiais militares, que usaram armas de choque e spray de pimenta. O jovem detido alega, no entanto, que estava caminhando pacificamente à procura do irmão quando foi parado por policiais.

Ao chegarem na Praça Tiradentes, os manifestantantes se econtraram com um grupo de evangélicos que fazia um protesto em defesa do pastor Marcos Pereira, preso por estupro.

MENSAGEM ÀS RUAS


ZERO HORA 07 de setembro de 2013 | N° 17546

EDITORIAIS

Pelas características atípicas deste ano, o 7 de Setembro deverá ser assinalado hoje pelos tradicionais desfiles mas também por manifestações de brasileiros que, desde junho, saíram às ruas pedindo qualidade nos serviços públicos, ética na política, transparência e respostas objetivas e imediatas à sociedade por parte dos gestores oficiais. Desde então, governantes e instituições mais pressionadas pelo anseio de mudança vêm tomando ações concretas, algumas delas nem sempre plenamente aceitas tanto por quem as pleiteia diretamente quanto por segmentos da sociedade. Importa que o Brasil confrontado com a entrada na cena política de uma geração antes tida por mais afeita ao virtual do que ao real e à qual devemos a lição de que essas duas esferas estão indissoluvelmente unidas vive um novo momento. Não é mais possível retroceder para antes de junho de 2013, assim como não se pode revogar setembro de 1822. Há novas demandas sobre a mesa, e somente a partir de um debate público digno desse nome o país terá condições de encontrar um caminho em meio à realidade que se descortina aqui e pelo mundo afora.

Por isso, o Dia da Independência não deveria ser visto como uma oportunidade para confrontos, muito menos para agressões pessoais e depredações de patrimônio público e privado como as que foram infelizmente registradas nos últimos meses. A mais importante data cívica do país precisa servir para uma reafirmação clara daquilo que os brasileiros querem e daquilo que os governantes e instituições de maneira geral podem de fato fazer. Haja manifestações, mas ordeiras. Haja protestos, mas pacíficos. Haja policiamento, mas feito com profissionalismo e eficácia, sem recurso desnecessário à violência. Haja, sobretudo, oportunidade para que todos, jovens e velhos, adultos e crianças, reflitamos sobre o sentido profundo das escolhas de nossos antepassados, que, num momento igualmente crítico da história, optaram por fazer desta terra um Estado-nação soberano, regido por leis que davam surpreendente ênfase à liberdade e à cidadania. Naquela época, como hoje, fortes eram as correntes que propugnavam uma volta ao passado, e o Brasil soube repudiá-las em favor do futuro de seus filhos. Esses filhos somos nós, e esse futuro é hoje. Por isso, aqueles homens e mulheres para os quais a Independência era um sonho merecem a nossa gratidão.

De alguma forma, isso explica o fato de a presidente Dilma Rousseff ter se preocupado em aproveitar o momento para um balanço dos pactos com os quais se propôs no auge das manifestações – com ênfase, obviamente, a ações na área da saúde como o Mais Médicos. O Dia da Pátria pode se constituir também numa oportunidade de avaliação sobre até que ponto os gestores públicos, a começar pela presidente da República, entenderam o recado e irão conseguir demonstrar isso na sua mensagem às ruas.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

INTEGRANTES DO BLACK BLOCK SÃO PRESOS POR FORMAÇÃO DE QUADRILHA



O Estado de S. Paulo, 04 de setembro de 2013

Integrantes do Black Bloc no Rio são presos e indiciados por formação de quadrilha armada. Um dos integrantes do grupo também foi indiciado por pedofilia

Marcelo Gomes

RIO - Três adultos e dois menores acusados de administrar a página "Black Bloc RJ" numa rede social foram presos e indiciados pela Polícia Civil do Rio na manhã desta quarta-feira (4) pelos crimes de incitação à violência e formação de quadrilha armada. Um dos maiores também foi indiciado por pedofilia, já que foram encontradas imagens de sexo com crianças em seu computador.

As investigações tiveram início em julho, quando a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) instaurou inquérito para apurar os Black Bloc. No dia 6 daquele mês, foi publicado na página do grupo um passo a passo de como fabricar um artefato de ação perfurante com múltiplas pontas (com pregos), conhecido como jacaré ou ouriço. Segundo a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, o objetivo do artefato é ferir pessoas ou furar pneus de veículos para roubos de carga.

A Justiça expediu nessa terça mandados de busca e apreensão nas residências de seis acusados, que foram cumpridos nesta manhã. Os agentes estiveram nos bairros do Cachambi e da Abolição, na zona norte do Rio, além dos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá, na Região Metropolitana. Um dos seis suspeitos não foi localizado porque estaria fora do país.
Nas residencias dos investigados, os policiais encontraram um "jacaré", uma faca, máscaras de gás e do filme V de Vingança (muito usada em manifestações), luvas, bonés e outras vestimentas pretas (usadas por Black Bloc), além de computadores e celulares.

Em depoimento na DRCI, os cinco detidos teriam confessado serem os administradores da página, segundo Martha Rocha.

"Eles aderem à conduta de convocar pessoas a fazerem parte das manifestações e de criarem esse instrumento de ação perfurante. Como hoje foi encontrado um artefato desses e uma faca, a Polícia Civil entende que os cinco integram uma quadrilha armada, que é crime inafiançável. Eles estão presos em flagrante e o caso será encaminhado à Justiça", explicou a chefe de polícia.



G1 - Black Blocs presos vão responder por formação de quadrilha armada. Eles também são acusados de crime de incitação à violência. Três pessoas foram presas e dois menores, apreendidos. Um dos integrantes também é suspeito de crime de pedofilia

LEONARDO BARROS
ANA CLÁUDIA COSTA

COM G1
O GLOBO
Atualizado:4/09/13 - 17h22



Jovens do grupo Black Blocs são levados para a delegacia Pablo Jacob / Agência O Globo


RIO - Uma operação deflagrada pela Delegacia de Repressão à Crimes de Informática (DRCI) para desarticular o grupo conhecido como Black Bloc terminou com três presos e dois menores apreendidos nesta quarta-feira. O grupo é acusado de promover baderna e atos de vandalismo durante as manifestações que vêm sendo realizadas desde junho. Os detidos assumiram na delegacia que administravam a página do grupo no Facebook. De acordo com a chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, eles responderão a inquérito por formação de quadrilha armada e incitação à violência. Um dos presos também foi autuado por pedofilia porque em seu computador foram encontradas fotografias de menores praticando atos sexuais. Os crimes são inafiançáveis.

Os presos foram transferidos durante a tarde para o presídio de Guaxindiba, em São Gonçalo, na Região Metropolitana, e não para Bangu, como diz a última postagem na página do grupo no Facebook. "Essa será a ultima publicação. Os adms (sic) que foram presos, estão sendo levados para Bangu", diz a mensagem. Os menores foram encaminhados para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de onde serão apresentados à Vara da Infância e Juventude.

De acordo com a delegada Martha Rocha, o grupo foi autuado em formação de quadrilha armada porque com eles foram encontrados facas, e um artefato perfurante feito com pregos e cola durepox, que é chamado de “jacaré” ou “ouriço” e é utilizado para jogar polícia ou mesmo furar pneus de automóveis. Na página do Facebook, com data de 03 de julho, o grupo ensina como fabricar tal artefato.

— Acredito que eles utilizavam esse artefato de ação perfurante com múltiplas pontas conhecido como jacaré ou ouriço é feito de pregos nas pontas e pode ferir manifestantes, jornalistas, policiais. Há na internet uma postagem pedindo para que cadas um fizesse dez instrumentos desses. A Polícia Civil sustenta que as pessoas estão incitando violência. Por isso serão autuados em quadrilha armada. Eles também faziam convocação para o manifesto de 7 de setembro— explicou a chefe de Polícia Civil.

A operação para prender os integrantes do Black Bloc começou no final da madrugada. Cerca de 30 policiais da DRCI com o auxílio da Core e de outras especializadas participaram da ação que visava cumprir seis mandados de busca e apreensão. Equipes se dividiram e efetuaram buscas em Niterói, São Gonçalo, Cachambi, Abolição, Maricá e Tribobó.

Na casa dos jovens policiais apreenderam computadores, celulares, facas, jacarés, máscaras do Anonymous, máscaras de gás entre outros objetos. Os presos , de acordo com a chefe de polícia, fazem parte do grupo dos 21 manifestantes já identificados com nomes e endereços, conforme disse o delegado Ruchester Marreiros durante entrevista no Ministério Público.

Na delegacia, ao prestar depoimento todos os cinco confirmaram participar da página do Black Bloc na internet. Um deles, de 21 anos, assumiu que administrava a página do grupo na internet. Todos, segundo a polícia, são jovens de classe média. Dos maiores presos em flagrante dois tinham o nível médio completo e outro é universitário. O administrador do grupo, segundo policiais, tinha a intenção de ingressar no grupo de operações especiais do Exército.

O advogado da Comissão de Direitos Humanos da OAB que defende os jovens, Gustavo Proença disse ontem que a princípio a polícia só tinha mandado de busca e apreensão para levar computadores, celulares e laptops da casa dos jovens.

— Não havia mandado de prisão. Ainda vou ler o inquérito para ver o motivo da prisão em flagrante — disse.

A delegada Martha Rocha explicou que desde de julho um inquérito instaurado na Polícia Civil apura a atuação do grupo Black Bloc durante as manifestações populares. Ela acrescentou que as investigações continuarão na tentativa de prender outros integrantes do grupo. Na operação desta quarta a polícia não conseguiu prender um dos acusados porque o mesmo não estava em casa.

Página do MP fora do ar

Em nota oficial emitida na tarde desta quarta-feira, o Ministério Público do Rio afirmou que o grupo de ativistas Anonymous assumiu a autoria dos ataques a sua página oficial. O site está fora do ar desde as 9h, como medida de proteção, e a Secretaria de Tecnologia da Informação e de Comunicação (STIC) "está tomando as providências cabíveis para proteção e restabelecimento desses serviços", informou o MP. Não houve comprometimento do banco de dados da instituição.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

CAMPANHA POPULAR POR REFORMA POLÍTICA

FOLHA.COM, 01/09/2013


Campanha popular faz abaixo-assinado por reforma política


RICARDO MENDONÇA
DE SÃO PAULO




Para se dedicar mais intensamente ao movimento "Eleições Limpas", que busca coletar 1,6 milhão de assinaturas pela aprovação de um projeto de reforma política, o juiz Márlon Reis afirma que resolveu fazer sacrifícios pessoais.

Gasta recursos próprios para despesas com táxi e restaurantes, diz, e está usando uma antiga licença-prêmio para militar em tempo integral.

Titular do fórum de João Lisboa (MA), município de 23 mil habitantes a quase 500 quilômetros de São Luís, Reis passou as últimas semanas dando palestras e entrevistas sobre o assunto, organizando atos, visitando Redações e tentando convencer políticos.

Por onde passa, ele maldiz o atual sistema eleitoral do país e lista vantagens de suas propostas, que incluem financiamento público de campanha, eleição em dois turnos para o Legislativo e fim da somatória de tempo de TV nas coligações partidárias.

Sua base de apoio são as mais de 50 entidades sociais e corporativas que subscrevem o projeto e compartilham as despesas maiores.

Pela causa, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pagou uma pesquisa do Ibope. Já a assessoria de imprensa é bancada pelo Instituto Atuação, uma ONG de Curitiba.

"Normalmente a gente é convidado para participar dos eventos", diz Reis. "Mas quando não tem convite, faz uma corrente de e-mails perguntando quem tem disponibilidade para pagar o avião."

Até ontem, a campanha já havia coletado 159 mil assinaturas em seu site, 162 mil pelo Avaaz (portal especializado nesse tipo de mobilização) e um número ainda desconhecido com formulários impressos. A meta de 1,6 milhão representa 1% do eleitorado, o mínimo para projetos de lei de iniciativa popular.

Editoria de Arte/Folhapress

NOVO FORMATO Vantagens e desvantagens do projeto de iniciativa popular 'Eleições Limpas'


EXPERIÊNCIA

A rede de apoio ao "Eleições Limpas" é eclética. Vai do Grupo Gay da Bahia e outras organizações de defesa dos homossexuais ao conservador Grande Oriente do Brasil, o maior ramo da maçonaria. Também participam evangélicos, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), entre outros.

Esse tipo de movimento tem um precedente de sucesso. Usando os mesmos métodos de agora, Reis liderou o abaixo-assinado que culminou na aprovação da Lei Ficha Limpa em 2009, a que impede candidatura de quem tem condenação na Justiça.

Agora, o desafio no Congresso parece mais complexo, pois as mudanças do "Eleições Limpas" prometem impacto político bem maior.

Os organizadores esperam que o projeto seja aprovado antes de outubro, a tempo de ser adotado em 2014. Dizem já contar com o apoio antecipado de 60 parlamentares.

Reis não trabalhou sozinho na elaboração das propostas. Ao longo de quase dois anos, contou com a ajuda de outros dois especialistas: Edson de Resende Castro, coordenador das promotorias eleitorais de Minas Gerais, e Marcelo Roseno, juiz de direito no Ceará.

Os três são autores de obras jurídicas sobre legislação eleitoral. "Construímos um modelo que retira os principais defeitos do sistema atual, como o financiamento empresarial e o número gigantesco de candidatos, mas é compatível com a Constituição, para facilitar a aprovação por lei ordinária", diz.

"Usei férias e tirei muitas madrugadas para estudar e escrever esse projeto. Tenho uma vida dedicada a isso."

DILMA AUMENTA A SEGURANÇA NO 7 DE SETEMBRO POR TEMER VIOLÊNCIA

FOLHA.COM 02/09/2013 - 03h00

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

Os atos de vandalismo durante as manifestações de junho fizeram com que a presidente Dilma Rousseff autorizasse segurança reforçada para o desfile de 7 de Setembro, na capital do país.

Segundo a Folha apurou, além dos já tradicionais detectores de metal, haverá revista de bolsas e mochilas. O objetivo é evitar que manifestantes portem bombas caseiras e coquetéis molotov. Nos últimos atos em Brasília, a polícia revistou os que foram aos protestos.

Na semana passada, Dilma coordenou pessoalmente uma reunião para tratar dos detalhes da segurança e do desfile. Apesar de reforçado, há um esforço do Planalto para que o aparato organizado para a celebração não seja ostensivo a ponto de assustar frequentadores ou demonstrar "paranoia", conforme disse um auxiliar.

A Folha apurou que o serviço de inteligência do governo recomendou o aumento na segurança, mas considera não haver motivos para alarde. A decisão da Câmara de não cassar na semana passado o deputado federal condenado Natan Donadon (ex-PMDB-RO), porém, é tida como elemento capaz de estimular os protestos de rua.

Assessores da presidente consideram que não há indicação de atos anti-Dilma.

Sergio Lima/FolhapressAnteriorPróxima
Montagem da estrutura das arquibancadas do Desfile de 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios

ESTRATÉGIA

A estratégia da segurança do Planalto para o desfile incluiu também o aumento no número de convidados da Presidência. Essas pessoas ocuparão as arquibancadas mais próximas do palanque presidencial, evitando que manifestantes se posicionem no entorno dos locais pelos quais Dilma circulará.

Profissionais de segurança encarregados do evento afirmam que a presidente está especialmente preocupada com atos promovidos pelo grupo "black bloc". Eles usam como estratégia manifestações violentas para chamar atenção.

O grupo de ativismo hacker Anonymous organiza para o dia 7 um grande protesto pelo país. A página do evento no Facebook havia distribuído até ontem 4,8 milhões de convites para os atos, dos quais 362 mil haviam confirmado participação.

Como ocorre todos os anos, ministros e assessores poderão levar seus filhos à celebração, apesar do temor de manifestações violentas no desfile. Eles ficarão na tribuna de honra.
O desfile deste ano terá duração mais curta do que a tradicional. Vai ter cerca de uma hora e meia, 60 minutos a menos do que as paradas de outros anos.

Interlocutores do governo afirmam que a mudança na duração da parada não tem relação com os protestos.

Eles explicam que neste ano não haverá a apresentação da Esquadrilha da Fumaça, considera o ponto alto da solenidade.

No dia 12 passado, uma dupla de piloto e copiloto morreu quando testava um exemplar da nova frota de aviões turboélices, os Super Tucanos. O acidente provocou o cancelamento da apresentação de 7 de Setembro para que houvesse mais tempo para treinamentos.

Editoria de Arte/Folhapress



domingo, 1 de setembro de 2013

INIMIGOS DA DEMOCRACIA

REVISTA ÉPOCA, 16/08/2013

Manifestantes violentos tentam sequestrar as passeatas e mostram seu lado autoritário. A PM suspeita que alguns deles façam isso por dinheiro

ALBERTO BOMBIG E MARCOS CORONATO, COM RAFAEL CISCATI



BRASIL, 2013
O black bloc, ou bloco negro, que entra nas passeatas para promover violência e vandalismo
ITÁLIA, 1922
Os “camisas negras”, paramilitares fascistas, apoiam a ascensão ao poder do ditador Benito Mussolini
(Fotos: Lost Art e Afp)

"Quem não é fascista sai do chão!” O grito de guerra costuma prenunciar a entrada em ação, nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras, de um grupo autoritário e violento, cujas táticas incluem o anonimato e a destruição de patrimônio privado e público. Há data certa para que eles tentem aterrorizar as cidades brasileiras: 7 de setembro, sábado, o Dia da Independência. Nesse dia, o tal grupo, felizmente minoritário, tentará mais uma vez impor sua vontade ao brasileiro – ao cidadão disposto a sair às ruas para protestar semviolência, e também ao cidadão com vontade de aproveitar em paz o fim de semana e a festa cívica. Nas mentes intolerantes do grupo, o sucesso é recriar em escala nacional as cenas tristes vistas recentemente no Rio de Janeiro e em São Paulo em manifestações que descambaram para a violência.


Na quinta-feira (8), o grupo invadiu as Câmaras Municipais do Rio e de Campinas, interior de São Paulo, e a Assembleia Legislativa do Rio. No dia 17 de julho, no Rio, um protesto organizado na rua onde mora o governador Sérgio Cabral, no Leblon, começou de forma pacífica. Manifestantes desencadearam, então, um confronto com a polícia. Barricadas de lixo incendiado tomaram as ruas, agências bancárias, bancas de jornal e lojas foram destruí­das. Houve feridos dos dois lados, incluindo quatro policiais. Em São Paulo, o roteiro foi similar. A passeata era de protesto contra o governador Geraldo Alckmin e em apoio aos manifestantes fluminenses. A marcha começou pacífica, até que um grupo atacou agências bancárias e lojas de carro. No embate com a polícia, ao menos um manifestante saiu ferido. Nos dois casos, poucas dezenas de indivíduos conseguiram sequestrar o rumo da manifestação.

Não se trata apenas de formas diferentes de protestar. O grupo, sempre com a mesma tática, ignora as causas e as vontades da maioria que deseja se manifestar pacificamente – e, desde junho, brada nas ruas por seus direitos, conquistando atenção dos governantes e dos partidos, alvos das críticas. Ao partir para a depredação e a provocação da Polícia Militar, o grupo minoritário não apenas destrói patrimônio público e alheio. Ele também acaba com a manifestação e com a disposição dos cidadãos e das famílias de ir às manifestações seguintes. Pior: esse grupo tem um plano.

A pequena minoria que enfraqueceu a manifestação no Rio e que tentará estragar o 7 de Setembro é formada por uma vertente bem específica do movimento anarquista – os manifestantes violentos, com uma tática chamada black bloc. Curiosa e infelizmente, os seguidores do método parecem não perceber quanto sua forma de agir os aproxima daqueles que eles consideram seus piores inimigos – os fascistas. As duas linhas de pensamento se propõem a defender o cidadão comum, o trabalhador, o assalariado. Ambas supõem saber o que é melhor para esse cidadão, mais do que ele mesmo. Ambas colocam em risco a segurança alheia a fim de atingir seus objetivos. Ambas negam, aos que delas discordam, direitos básicos – à segurança, à propriedade, à manifestação pacífica. Ambas incentivam o indivíduo, escondido pelo grupo, a agir com uma brutalidade que ele não mostraria se estivesse sozinho. Ambas admitem reduzir outros indivíduos a símbolos do mal – podem ser o estrangeiro e o diferente, no caso do fascista, ou o empresário e o policial, no caso do anarquista violento. Não sem motivo, o ditador fascista Benito Mussolini, que levou a Itália a entrar na Segunda Guerra Mundial ao lado dos nazistas, dizia-se simpatizante de ideias anarquistas.

Como outras tribos autoritárias que veem beleza no uso da força contra a democracia, tanto o fascista como o anarquista violento pecam pela ignorância e pela soberba. São incapazes de observar com humildade a história e outras sociedades, a fim de aprender o que deu certo e o que deu errado. “Ao observar os black blocs, vejo um grupo uniformizado, com um método de violência sistemática, que considera a intolerância um método legítimo de manifestação – algo bem distante do conceito original de anarquia”, diz o cientista político Humberto Dantas, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e conselheiro do Movimento Voto Consciente. “Alguns grupos ainda têm uma percepção romântica da violência, como se fosse possível você recorrer a ela uma última vez, só porque acha necessário. O comunismo e o nazismo defendiam isso”, afirma o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A tática black bloc de protestos de rua foi criada na Alemanha, em 1980. Naquele momento, os manifestantes se levantavam contra a desocupação forçada de certas áreas e prédios em Berlim. Entre os ocupantes dessas áreas havia anarquistas pacíficos, defensores de comunidades alternativas, ambientalistas e ativistas contra a energia nuclear. Numa sexta-feira, uma passeata com 15 mil pessoas dirigiu-se a uma área comercial da cidade. Um grupo se propôs a atuar como “tropa de choque” da passeata e adotou roupas pretas, rosto coberto, capacetes e máscaras contra gás. Esse bloco de negro teve papel fundamental em tornar a passeata violenta, depredar o comércio local e iniciar uma batalha contra a polícia. O grupo recebeu o apelido de Black bloc, e o padrão foi imitado e adaptado em muitas manifestações mundo afora. Em Gênova, Paris, Toronto, Londres, Istambul, Santiago – e, mais recentemente, Rio e São Paulo. Além de recorrer à violência e ao terror contra cidadãos que deixam de trabalhar ou transitar por medo dos protestos, os Black blocs distorcem o uso do anonimato. Cobrir o rosto é compreensível em manifestantes que se opõem a regimes opressores, que podem perseguir o cidadão por suas convicções políticas. Mesmo nesses casos, o ato de impacto contra a opressão pode ser mostrar o rosto. Na Passeata dos Cem Mil, no Rio, em 1968, não se teve notícia de algum manifestante de rosto coberto – num momento em que o Brasil vivia o auge da ditadura militar. Não há sentido em cobrir o rosto no Brasil de hoje, a não ser para cometer crimes. O artigo quinto da Constituição garante o direito à livre manifestação de pensamento, mas não sob o manto do anonimato.

Cobrir o rosto é marca registrada do Black bloc. Alguns deles consideram razoável “apenas” destruir bens. Vandalizam o que é dos outros, como agências bancárias, pontos comerciais e automóveis, e também o que é de todos, como pontos de ônibus e sinais de trânsito. Outros defendem a busca do confronto violento com a polícia. Essa é a linha de conduta empregada em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Black blocs se recusaram por duas vezes a conversar com jornalistas de ÉPOCA na rua, durante manifestações em São Paulo. Pela internet, é possível encontrar muitos simpatizantes da tática – há 37 mil seguidores de uma página nacional, quase 20 mil da página do Rio e 9 mil da página de São Paulo. Essa popularidade dificulta saber quem realmente entra em ação e pode falar por experiência própria e quem apenas incentiva virtualmente e se passa por manifestante, por farra ou ignorância. Nos protestos, percebe-se um padrão. Ao ouvir o grito de guerra contra os “fascistas”, o grupo sabe que chegou a hora de hostilizar os policiais. A maioria se restringe a pular, gritar e ofender. Entra em ação uma equipe menor, que cobre o rosto com capuzes e camisetas. Lançam contra os policiais pedras, paus, placas e pedaços de mobiliário urbano, patrimônio público depredado. Se os policiais recuam, o grupo inicia a destruição do que estiver na frente.

ENGAJADO?
Manifestante ataca a polícia em São Paulo, no sábado (3). A PM suspeita que alguns participantes são contratados para promover baderna (Foto: Nacho Doce/Reuters)

ÉPOCA conversou com integrantes da cúpula da PM sobre investigações a respeito. A Polícia Militar paulista acredita que 50 a 80 pessoas participam das ações em São Paulo. “Eles sempre começam com a provocação, em busca de um revide dos policiais que justifique a depredação. Como a PM não entra mais nessa, eles mesmos iniciam o quebraquebra”, diz um coronel. Segundo ele, os policiais já tentaram dialogar com o grupo, mas eles se recusaram a conversar. A violência é vista com tolerância por outras entidades que ganharam visibilidade durante os protestos. Bruno Torturra, participante do Mídia Ninja – um grupo que se propõe a reportar protestos e movimentos sociais pelo lado dos manifestantes –, se recusou a condenar o vandalismo, em entrevista na semana passada ao programa Roda viva, da TV Cultura de São Paulo. “Eles são jovens que sofrem violência há muito tempo. A maioria deles não confia no Estado”, disse Torturra. “Eles falam que vândalo é o Estado. Consigo entender de onde esse pensamento vem.” Um raciocínio tortuoso e similar é feito por integrantes do Fora do Eixo, o movimento social que se anuncia como incentivador da arte e deu origem ao Mídia Ninja. “Quando o Black bloc vai para a rua quebrar agências bancárias, está dando uma resposta à violência que sofre diariamente por parte do Estado”, diz Pablo Capilé, um representante do Fora do Eixo. “O guri que está na periferia, vendo a polícia bater e um banco lucrando bilhões – o que é vandalismo para ele? Vandalismo é o pai dele apanhando e o banco lucrando.”

Os problemas com os Black blocs talvez ultrapassem a ideologia distorcida. A maior parte deles pode estar sendo enganada e induzida a seguir baderneiros que se vendem por uma pequena quantia. De acordo com a investigação da PM paulista, há evidências de que manifestantes da tática black bloc recebam remuneração e apoio que vai além da simples orientação tática para os protestos. Desde a madrugada do sábado (3), cerca de 20 deles estão acampados em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Todos os dias, no final da tarde, um veículo abastece o acampamento com cerveja, carne, biscoitos e salgadinhos. A PM afirma ter testemunhado o pagamento de uma diária de R$ 70 aos integrantes do grupo. Na madrugada daquele dia, eles picharam os muros do palácio. Os policiais limparam tudo e avisaram que novas pichações não seriam toleradas. Um manifestante desafiou a ordem e foi preso. Ao verificar os documentos dele, os policiais descobriram que o rapaz era de Rondônia. Suspeitam que ele tenha vindo apenas para a ocupação, como outros, provenientes de Minas Gerais e do Paraná. A suspeita é que eles sejam manifestantes profissionais. As apurações não identificaram, até o momento, quem financia o movimento. A PM afirma haver sinais de que esses manifestantes recebam apoio de grupos de esquerda ou ligados ao transporte clandestino.

O Black bloc representa apenas a versão mais recente e violenta dos movimentos anarquistas, que têm rejeitado toda forma de poder nos últimos 170 anos. Surgiram vertentes como anarcocomunismo, anarcocoletivismo, anarcossindicalismo e anarcofeminismo. Há também o anarquismo pacifista, o verde e o individualista. A história fornece exemplos abundantes de anarquistas que recorreram à violência, sim, mas para lutar contra governos totalitários, como na Guerra Civil Espanhola, em 1936. Os primeiros anarquistas não adotaram esse nome – o rótulo foi colado a eles, como um xingamento. Receberam a pecha de anarquistas os primeiros parlamentaristas que ousavam questionar a monarquia absolutista na Inglaterra do século XVII. Eles foram à guerra, a Inglaterra se tornou parlamentarista e deu um grande passo rumo ao aprimoramento da democracia.

O primeiro homem a colar a si próprio a etiqueta de anarquista foi o filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon. Em 1840, comparava a propriedade privada a roubo. Entre seus muitos arroubos e erros, o próprio Proudhon produziu um dos mais belos elogios que se pode fazer à diversidade de pensamento e à capacidade do indivíduo de decidir por conta própria. Ele afirmou que, abrigados no anonimato e na multidão, os homens dariam apenas respostas “estúpidas, incoerentes e violentas”. Na multidão, eles não hesitariam em apoiar a ditadura da maioria sobre a minoria.

No fundo, aquilo que os atuais anarquistas brasileiros imaginam ser “democracia” é essa ditadura. A democracia de verdade não aceita violência nem anonimato. É verdade que se trata de um sistema político lento, cheio de falhas – e que, nos últimos anos, tem gerado no brasileiro frustração e expectativas difíceis de realizar. Mas é o melhor sistema que a humanidade já inventou para regular seus interesses e conflitos.

O TESTE DE SETEMBRO


ZERO HORA 01 de setembro de 2013 | N° 17540


EDITORIAL INTERATIVO


Depois de uma trégua na maioria dos Estados do Brasil, em boa parte forçada pelos excessos reiterados de uma minoria violenta, manifestantes com atuação hoje mais restrita a São Paulo e Rio de Janeiro prometem uma série de ações na maior parte do país na Semana da Pátria. A programação de protestos culminaria no sábado, quando o país comemora o 191º aniversário da proclamação da Independência. Feriado nacional, o 7 de Setembro tem servido para que se discuta o significado da emergência do Brasil como Estado-nação no âmbito do continente americano. Por mais que as circunstâncias históricas façam a data parecer a culminância de um arranjo da própria Coroa portuguesa, haja vista o protagonismo do então príncipe regente dom Pedro I no gesto, não se pode negar que o desejo de independência tem raízes fundas na história da pátria e demandou o heroico sacrifício de muitos brasileiros antes de 1822. Depois do Grito do Ipiranga, houve luta renhida com forças portuguesas e aliadas para fazer valer a soberania nacional, especialmente no Nordeste. É por isso que o 7 de Setembro é, de longe, a mais popular das datas nacionais, sobressaindo em relação ao 15 de Novembro e a outras quadras.

Em qualquer quadrante, datas nacionais motivam manifestações políticas a par de solenidades e desfiles oficiais, e não haveria por que ser diferente com o Dia da Pátria. Protestos de rua fazem parte do cotidiano de qualquer democracia, como acabamos de ver nesta semana na passagem dos 50 anos da Marcha sobre Washington, memorável jornada encabeçada pelo Prêmio Nobel da Paz Martin Luther King que foi lembrada por nada menos do que um presidente e dois ex-presidentes americanos. Isso não pode dar margem, porém, para que grupos minoritários e sem maiores compromissos com o respeito à livre expressão do pensamento e à legislação vigente se julguem no direito de destruir patrimônio público e privado, enfrentar policiais e atemorizar a população. Nos últimos meses, vimos personagens surgidos da sombra com o rosto coberto promoverem cenas de barbárie nas ruas das maiores cidades brasileiras. Não é necessário lembrar que Tiradentes, Frei Caneca, Cipriano Barata e outros brasileiros que advogavam causas justas o faziam sem a cobertura de máscaras ou panos e não temeram arcar com as consequências de seus atos, deveras mais duras do que as reservadas aos atuais fora da lei. Intolerável é que, em nome de direitos e garantias, indivíduos imponham o primado do medo aos brasileiros comuns que dizem defender.

Válida em qualquer momento, a premissa do respeito aos direitos e opiniões do outro é particularmente importante numa data como o 7 de Setembro. Se a intenção é manifestar descontentamento com as respostas fornecidas até agora pelas instituições às demandas da opinião pública, nem a data maior da nação brasileira é o momento nem a violência é o método adequado. Que o Dia da Pátria transcorra com ordem e tranquilidade, resguardado o direito à manifestação e mesmo ao protesto pacífico e não violento.