ZERO HORA 08 de maio de 2015 | N° 18156
MARCOS PIANGERS
Cresci ouvindo que o grande problema do brasileiro era a falta de iniciativa para protesto. “Brasileiro só quer cerveja e futebol!”, gritava um tio meu, meio bêbado enquanto a TV passava Santos e Paysandu. “Olha como são os argentinos! Lá eles fazem protestos! Panelaço na frente da Casa Rosada é a coisa mais comum do mundo!” Imagino que seja por causa desse espírito aguerrido que a Argentina é essa grande potência mundial hoje em dia.
Acompanhei com curiosidade o protesto das panelas na última semana, curiosidade imediatamente morta pelos vídeos de amigos no Facebook. “Fiz a minha parte!”, dizia um, com mais de cem curtidas. “Toma essa, Dilma!”, dizia outro. Os vídeos mostravam adultos e crianças, juntos neste ato cívico de bater em panelas. O barulho ecoando nos bairros mais esclarecidos de diversas cidades brasileiras. Tudo documentado com selfies e vídeos borrados de celular. Um recado de “Se manca!” para Dilma. Algo como uma Indiretas Já.
Existe poder no protesto. Passeatas derrubaram governos, mobilizações provocaram mudanças sociais. A história americana foi marcada por conquistas civis na base da guerra e da resistência. Países desenvolvidos como Islândia e Dinamarca têm histórias de protestos populares. A primavera árabe derrubou ditadores. Países melhoram depois de protestos. E países pioram. Minha dúvida é: pra onde vamos nós?
Tiraremos a Dilma do poder, assumirá o Temer. Chamaremos novas eleições e ganhará o Lula. Proibiremos partidos de esquerda e voltará a ditadura militar. O Brasil é esse país inviável onde quem protesta não sabe o que quer e quem sabe o que quer não protesta. “Todos contra a corrupção!”, grita um lado. “Todos pelo Brasil!”, grita o outro. Dois gritos tão subjetivos quanto inócuos. E no meio disso tudo há o sujeito que simplesmente não quer se envolver. Deixa as coisas serem decididas por radicais ou por desinformados. Opta pelo silêncio. Um silêncio ensurdecedor.