A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 30 de março de 2015

POPULAÇÃO SE REVOLTA COM SUMIÇO DE DINHEIRO PÚBLICO

G1 FANTASTICO Edição do dia 01/02/2015


Prefeitura de Mangaratiba some com R$ 60 milhões e revolta população. Ministério Público encontrou esquemas de fraudes, propinas e desvios de dinheiro na gestão do prefeito Evandro Capixaba.






O repórter secreto do Fantástico vai investigar por que uma cidade de menos de 40 mil habitantes precisa comprar 1,8 milhão de sacos de lixo. Essa cidade é Mangaratiba, no estado do Rio, onde o prefeito está sendo investigado por fraudes que podem chegar a R$ 60 milhões.

Eh, vidão à beira-mar, passeio de lancha, banho de sol na varanda da mansão. Que maravilha é a natureza.

“E o esgoto em uma situação dessa", reclama uma moradora.

“Isso aqui é tudo sujeira, muita sujeira. A gente passa mal”, conta uma senhora.

“Pede o prefeito para vir aqui. Será que ele bebe essa água?”, indaga um homem.

A população de Mangaratiba, no estado do Rio de Janeiro, está revoltada. “A gente vê a saúde precária, a gente vê educação com problemas, o transporte nosso e a água estão precários”, conta um morador.

“Eles aprovam obras, obras aprovadas, mas não feitas. A gente quer que a obra seja concretizada”, diz uma mulher.

Tanta coisa faltando porque, em cerca de 20 meses, R$ 60 milhões foram surrupiados da prefeitura, segundo estimativa do Ministério Público.

É por isso que o repórter secreto do Fantástico está em Mangaratiba, e todo brasileiro decente quer saber: Cadê o dinheiro que tava aqui?

Quando o repórter secreto chega à cidade, encontra protestos. Tem cartaz perguntando ao prefeito Evandro Bertino Jorge, do PSD, conhecido como "Capixaba": cadê os R$ 60 milhões que sumiram da cidade.

E tem adesivo, feito pelos próprios manifestantes, perguntando: cadê o dinheiro que tava aqui? Muita indignação. E muito constrangimento de fazer papel de palhaço no mau sentido.“Eu nunca fiz isso na minha vida, mas eu fui obrigada. Eu não quero morar em um lugar sujo”, conta a professora Marilúcia Gomes.

E a bronca é a seguinte: pela quantidade de sacos de lixo que a prefeitura supostamente comprou, Mangaratiba deveria ser o lugar mais limpo do mundo: 1,8 milhão sacos de lixo. Como na verdade a cidade precisa de 17 mil sacos por mês, essa suposta compra daria para 105 meses. Quase nove anos. Resolveria um problemão para os futuros prefeitos.

Só que não. “Não existiam sacos de lixo”, diz o homem que foi secretário de serviços públicos da prefeitura na gestão que teria feito a tal compra, em 2012. Ele diz que, depois de descobrir que era tudo fraude, foi falar com o prefeito Evandro Capixaba.

“Mostrei a fraude para ele, falei que não existia entrega de sacola, que não poderia ficar assinando notas de recebimento de sacola que não existia. Aí eu passei a ser um funcionário que não servia para ocupar a secretaria”, conta o ex-secretário de serviços públicos Marco Antônio da Silva Santos.

Depois, o então secretário decidiu contar tudo ao Ministério Público. “A partir daí a gente começou a diligenciar, identificar empresas, os seus sócios e como essa fraude ocorreu. Parte do pagamento ficava com os sócios, e o maior montante entregue na mão de representantes de gestores daquele município”, explica o promotor de Justiça do Rio de Janeiro Alexandre Veras.

O repórter Eduardo Faustini foi atrás da empresa responsável pela venda fraudulenta. Achou uma das sócias do negócio.

Fantástico: Como é que você se tornou sócia dessa empresa?
Mulher: Na verdade, eu fui chamada para ser secretária da empresa. Me pediram para emprestar o nome. Como eu era empregada da empresa, não vi problema. Quando eu comecei a me inteirar do assunto da empresa, vi do que se tratava, pedi que retirassem o meu nome.

Para o Ministério Público, ela não foi usada, a sócia é, sim, parte do esquema. As investigações do Ministério Público levaram a operações de busca e apreensão como uma feita com o apoio da Polícia Federal.

“Nós apreendemos aproximadamente 100 processos licitatórios e a partir daí a gente teve a chance de encontrar ali uma gama de informações que indicam a fraude realizada por esse grupo”, conta o promotor Alexandre Veras.

A quadrilha fraudava várias licitações. Em uma das frentes da falcatrua, um filho e um sobrinho do prefeito, mais o então procurador-geral do município e dois secretários eram sócios de empresas vencedoras das licitações.

“Qualquer porta que se bata, qualquer notificação que se faça, passa, inevitavelmente, por um familiar ou por uma pessoa próxima do prefeito”, diz o promotor Alexandre Veras.

Segundo as investigações, eles conseguiam dar uma aparência de legalidade à negociata forjando editais de licitação em um jornal do Rio, o Jornal "O Povo". A lei exige que o chamado edital de licitação seja publicado em um jornal. O edital é um aviso: os interessados ficam sabendo que a administração pública quer comprar produtos ou contratar serviços. A publicação no jornal é um documento obrigatório, processo da licitação, que é enviado aos órgãos de fiscalização de uso de dinheiro público.

Foi aí que a quadrilha achou que estava dando o pulo do gato. O jornal que estava na banca não era o mesmo que era arquivado no processo.

Ou seja, vamos dizer que um jornal fosse um exemplar do jornal da semana passada. Não tem nenhum aviso de edital de licitação da prefeitura de Mangaratiba. Aí a quadrilha mandava fazer uma página nova, trocava um edital de verdade por um edital de mentirinha, para fingir que a licitação tinha sido comunicada ao público. Assim, ficava tudo certo. A página falsa funcionava como uma prova de que os devidos procedimentos tinham sido seguidos.

Por exemplo: a página da edição do dia 21 de junho de 2012 do jornal "O Povo", não tem edital da prefeitura. Mas a mesma edição do mesmo jornal do mesmo dia do mesmo ano, tem.

Agora preste atenção nessa conversa. Foi gravada na sede do Jornal "O Povo" por uma pessoa que denunciou a fraude. É uma testemunha do Ministério Público, e finge que representa o prefeito de Mangaratiba para dar o mesmo golpe. Ele conversa com funcionários do jornal.

Homem: Como é que funciona essa p... do jornal?
Jornal: E com a data que ele quer, isso aí. Ainda mais que é Tribunal de Conta.

O ex-funcionário da gestão do prefeito Evandro Capixaba confirma a denúncia. “Fazia uma publicação com data anterior e montar dentro do jornal para constar na prefeitura. Para apresentar para o Tribunal de Contas, para a promotoria, para quem solicitasse”, conta o ex-subsecretário de Serviços Públicos Iata Anderson.

“O que nós temos naquele município é uma quadrilha trabalhando a fim de se locupletar do dinheiro público. Nós encontramos laranjas, falsidades de documentos públicos, privados, fraudes em licitação, publicações fraudadas em jornal, pagamento de propina, desvio de dinheiro, não-entrega de produtos contratados pelo município. Inúmeras fraudes”, afirma o promotor Alexandre Veras.

Isso, em uma cidade que atrai tanta gente bem de vida para desfrutar das belezas naturais. Infelizmente, também existe outra Mangaratiba.

Fantástico: Qual é essa Mangaratiba?
Promotor: É a Mangaratiba pobre, abandonada, sem calçamento, sem saneamento básico. Sem água.

O problema da água atinge a cidade há cerca de um ano, portanto uma situação que antecede a estiagem na região Sudeste. “O esgoto do vizinho, vem de lá e cai na minha porta”, reclama uma moradora.

“Bebo dessa água. Água potável é conectada com água de esgoto. Nós não somos porcos, nós somos gente”, afirma Marilúcia Gomes.

“Essa é a água que nos oferecem, e o governo que tá aí nada faz. Isso aqui é uma pouca vergonha. Olha aí”, conta outro morador.

Até a mulher que o Ministério Público aponta como parte do esquema admite que roubar dinheiro público é maltratar o cidadão. “O dinheiro que eu tiro de uma prefeitura e eu banco uma viagem para Miami, eu estou matando um cidadão”, confessa.

Em nota, a direção do Jornal "O Povo" nega que tenha prestado serviços e recebido dinheiro da prefeitura de Mangaratiba. A nota afirma que o jornal está contribuindo com o Ministério Público para a apuração real dos fatos.

Também em nota, o prefeito Evandro Bertino Jorge, o Evandro Capixaba, repudia as denúncias de que houve falsificação de página de jornal e diz que o dinheiro público é aplicado com responsabilidade em Mangaratiba.

Já o Ministério Público pede na Justiça que o prefeito Capixaba, bem como secretários e ex-secretários e servidores municipais, respondam por improbidade administrativa.

“Cadê o dinheiro que a gente precisa melhorar o nosso município e nada é feito, cadê o dinheiro daqui?”, pergunta um morador.

domingo, 29 de março de 2015

DEPOIS DA INTERNET, A POLÍTICA NÃO SERÁ MAIS A MESMA


REVISTA ÉPOCA  29/03/2015 10h13

As manifestações de 15 de março mostram como as redes sociais ajudaram os cidadãos a ganhar maior protagonismo e influência na política

BRUNO FERRARI E THAIS LAZZERI COM ARIANE FREITAS, IGOR UTSUMI, LEOPOLDO MATEUS E LÍVIA CUNTO SALLES



MOBILIZAÇÃO
Manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo. O protesto reuniu cerca de 1 milhão de pessoas, segundo a PM (Foto: Bruno Fernandes / Fotoarena)
AGITADOR DIGITAL
O empresário Rogerio Chequer, do Vem pra Rua, em São Paulo. O movimento atraiu 367 mil seguidores no Facebook (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)

A mobilização do último dia 15 de março, que levou 2,3 milhões de brasileiros às ruas em protestos contra a corrupção e contra o governo Dilma Rousseff, começou com o toque de um celular. No início do ano, um dos quatro aparelhos usados pelo administrador de empresas Marcello Reis, de 40 anos, de São Paulo, registrou a chegada de uma mensagem via WhatsApp, o mais popular aplicativo de troca de mensagens gratuitas do Brasil. A mensagem convocava para manifestações contra a falta de água em São Paulo, o reajuste de 50 centavos na tarifa de ônibus da cidade e contra a corrupção. O mesmo torpedo irrompeu na tela do smartphone do empresário Rogerio Chequer, de 46 anos, sócio de uma agência de comunicação em São Paulo. A origem da mensagem é controversa. Segundo Reis, quem disparou a convocação para a mobilização foi o Movimento Passe Livre (MPL). Seria irônico, pois o MPL também foi protagonista das manifestações de junho de 2013 – mas o MPL, ouvido por ÉPOCA, negou a autoria do viral.


Sobre o que aconteceu a partir dali, não há dúvidas e vai virar história. Marcello Reis, um dos organizadores do Revoltados On Line, movimento que tem 739 mil seguidores no Facebook e agita a bandeira do impeachment da presidente Dilma Rousseff, gravou um vídeo com uma convocação para a mobilização no dia 15. Chequer, um dos coordenadores do Vem pra Rua – movimento anticorrupção criado na internet em novembro de 2014, que atraiu 367 mil seguidores com seus apelos “aos indignados com a nossa classe política” –, também aderiu. Usaram tablets, smartphones e computadores para espalhar a chamada às ruas. A mobilização cresceu em nível nacional, com o engajamento de cidadãos descontentes e outros pequenos movimentos de caráter local, como o Cariocas Direitos, liderado pelo engenheiro Denis de Abreu, de 37 anos, ex-líder estudantil e ex-integrante do PMDB. Em pouco tempo, ergueu-se uma onda gigantesca que ultrapassou as fronteiras da bolha virtual e encheu as ruas naquel domingo. “O desrespeito ao povo brasileiro é nosso maior fator de engajamento”, diz Chequer, do Vem pra Rua. “E que melhor ferramenta para alcançar mais gente do que a internet?”


Ele tem razão. Arregimentar milhões de pessoas num prazo tão curto era impossível nos tempos dos megafones e caminhões de som. Na era das redes sociais, no entanto, um mero clique de compartilhamento de uma mensagem ou de um vídeo pode ser um gatilho para reunir uma multidão em torno de uma causa. Basta que as mensagens tenham o conteúdo e o tom corretos para engajar emocionalmente seus destinatários e sejam distribuídas pelos canais adequados para alcançar o maior número de cidadãos. “As redes sociais têm o poder de construir uma tensão emocional entre pessoas espalhadas por vários bairros e cidades”, diz o italiano Paolo Gerbaudo, professor de cultura digital e sociedade do King’s College, de Londres, e autor do livro Tweets and the streets (Tuítes e as ruas, na tradução em português). “Elas podem criar um senso contagioso de antecipação ou de ímpeto.” Segundo Gerbaudo, isso se deve a uma característica das redes sociais. Elas permitem conversas abertas ao público, ao mesmo tempo que são canais para criar uma intimidade entre os mais diversos interlocutores.

Vive-se um segundo momento do uso das redes sociais na política. Acabou a era dos “manifestantes de sofá”, que se limitavam a criar grupos de protestos e a assinar petições on-line. Elas servem, agora, como ferramenta para levar gente para a rua. E, com isso, influenciam a agenda dos governantes. Depois das manifestações de 15 de março, a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote anticorrupção para mostrar que ouvira a voz das ruas. A combinação entre internet e as ruas é explosiva, mas ela não substitui as instituições próprias da democracia. Passeatas não mudam leis, não derrubam governos, não promovem mudanças radicais. Quem faz isso são os representantes eleitos pelo povo. A política nunca mais será a mesma porque, para esses representantes, não é mais possível ignorar a voz das ruas. No Brasil, o primeiro capítulo dessa nova tendência ocorreu em junho de 2013. O segundo foi agora, com a reunião de 2,3 milhões de pessoas em várias cidades brasileiras em 15 de março. É tanta a facilidade para convocar gente via redes sociais que seria ingenuidade dizer que vai parar por aí. Já existe outra manifestação convocada para o dia 12 de abril, pelo Movimento Brasil Livre, um dos responsáveis pela organização do 15 de março.


O marco inicial do casamento entre ruas e redes foi a Revolução Verde, que ocorreu no Irã em 2009. Na ocasião, com os meios de comunicação sob vigilância e após denúncias de manipulação das eleições na vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad, os iranianos usaram o Twitter e outras redes sociais para convocar manifestações que abalaram o regime teocrático dos mulás. Os militantes políticos descobriram, assim, um primeiro uso das redes sociais: burlar a censura. Um segundo momento ocorreu nos protestos contra o presidente Hosni Mubarak em janeiro de 2011. Redes sociais livres de monitoramento ajudaram na convocação dos manifestantes, que chegaram a 2 milhões. Elas também foram fundamentais para divulgar o movimento no mundo, especialmente nos países muçulmanos – desencadeando o que ficou conhecido como Primavera Árabe. As manifestações de junho de 2013 no Brasil foram igualmente desencadeadas pelas redes sociais. Entidades como o Movimento Passe Livre, o MPL, usaram o Facebook para capitalizar o descontentamento da população com a violência policial que marcou uma das primeiras manifestações – na qual jornalistas chegaram a ser feridos com balas de borracha. Por fim, as passeatas de 15 de março consagraram o WhatsApp como ferramenta para arregimentar manifestantes.

PRIMEIRO CAPÍTULO
Protestos em São Paulo em junho de 2013. Reivindicação por melhores serviços (Foto: Mauricio Lima/The New York Times)

As manifestações se beneficiaram do aumento exponencial, no Brasil, do acesso a tecnologias digitais. Os brasileiros donos de smartphones eram pouco mais de 30 milhões durante as jornadas de junho de 2013. Hoje, segundo dados do Ibope, são 58,6 milhões. O aplicativo WhatsApp mais que dobrou sua base de usuários no país e se popularizou como “zap zap”. O último dado oficial, divulgado em meados de 2014, dizia que, dos 468 milhões de usuários do WhatsApp no mundo, 38 milhões estavam no Brasil. Hoje, segundo estimativas não oficiais (o WhatsApp não informa mais os dados), são mais de 50 milhões de brasileiros trocando mensagens, fotos e vídeos pelo aplicativo. Junto com a evolução da qualidade das câmeras dos celulares, isso gerou também um fenômeno comportamental: a onda do selfie. Selfie sozinho, em família ou com o pau de selfie. E, agora, selfie em manifestações. O recurso foi muito usado nas passeatas do último dia 15 – em que muitos fizeram questão de mostrar a si próprios em meio a policiais que escoltavam pacificamente os manifestantes. Isso acaba tendo um efeito multiplicador. Primeiro, as redes sociais convocam os manifestantes. Depois, por meio dos selfies, os manifestantes que estão na rua estimulam a participação de mais e mais manifestantes.


“Os usuários descobriram que podem influenciar politicamente com seu pronunciamento público”, diz Carlos H. Moreira Jr., diretor de desenvolvimento de mercados do Twitter para a América Latina. “Isso é uma mudança de comportamento.” Na linguagem dos acadêmicos, esse processo é descrito como o “empoderamento do cidadão”. Na prática, ele se traduz na preferência por alguns termos ou palavras de ordem. ÉPOCA teve acesso a uma análise exclusiva realizada pelo Twitter em parceria com o Ibope, que acompanhou 609 mil tuítes do dia 1º de março até o início do dia 15. O objetivo era entender a agenda das manifestações e quais personagens estavam mais associados a ela. Segundo a análise, 40% dos tuítes faziam referência ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Nos cinco temas mais citados, apareceram também corrupção (4%), a CPI da Petrobras (2,2%) e golpe militar (menos de 1%). Isso mostra que, se as redes sociais potencializam a emoção dos usuários, foi o sentimento antipetista que encheu as ruas no dia 15.


Sem pesquisas oficiais como a feita pelo Twitter e pelo Ibope, os organizadores das manifestações de 15 de março entenderam a mudança de comportamento do público. Mesmo com ideologias e estilos bem diferentes, eles atuam de forma muito parecida nas múltiplas plataformas virtuais. Em primeiro lugar, eles se estruturaram para atender a vontade dos brasileiros de extravasar suas opiniões e sua indignação. Todos os movimentos postaram vídeos, imagens e mensagens dos seguidores – inclusive das reações de repúdio aos discursos da presidente Dilma Rousseff. Assim, o número de curtidas e compartilhamentos aumentou exponencialmente. Eles também se organizaram internamente para chegar ao maior número de pessoas. O Movimento Vem pra Rua tem 30 organizadores e 20 líderes regionais voluntários. Eles elegem o material que terá maior propagação nas redes e os temas que precisam de esclarecimentos pontuais. As manifestações podem ser espontâneas e ter coordenadores pulverizados – mas esses coordenadores usam de estratégia em seu trabalho.

SEGUNDO CAPÍTULO
Protestos em São Paulo em 15 de março. O sentimento antipetista uniu os manifestantes (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

Marcello Reis, do Revoltados On Line, diz passar 18 horas por dia conectado. Parte desse tempo é usada para escolher os administradores da página (20 no total), que podem publicar conteúdo sem restrição, e os 150 colaboradores, responsáveis pela interlocução com a imprensa nacional e estrangeira, entre outras atividades. No processo de seleção dos colaboradores, Reis acompanha, por 90 dias, o perfil do usuário, sem avisá-lo. Se aprovado, ele convida o potencial colaborador para uma conversa on-line. O trabalho, diz Reis, garante a audiência. A página do Revoltados no Facebook teve mais de 41 milhões de visualizações desde a criação, em agosto de 2010.

Ao longo da história, as ruas se consolidaram como um palco privilegiado das manifestações políticas. Isso vale para a Revolução Francesa e para os protestos de maio de 1968 – e, no Brasil, para demonstrações como a campanha das Diretas Já ou o movimento que pediu o impeachment de Fernando Collor em 1991. A diferença é que agora entrou em ação uma ferramenta tecnológica poderosa, com capacidade de dar voz e poder de influência a qualquer pessoa com um smartphone na mão. Com essa tecnologia, as ruas – e os cidadãos nelas – ganharam poder de influenciar a agenda política. Um exemplo da influência dos novos movimentos gerados pelas redes sociais se vê nos Estados Unidos. O movimento OcupemWall Street surgiu em reação às consequências da crise do mercado financeiro desencadeada pela quebra do Lehman Brothers, em 2008. O movimento – cujo slogan, criado por publicitários, era “Somos os 99%” – eclodiu em Nova York em setembro de 2011. E colocou definitivamente o tema da desigualdade na agenda política americana. Nas democracias, como diz o pensador espanhol Manuel Castells, a dinâmica da política será cada vez mais essa. As ruas influenciarão mais e mais a agenda – mas continuará cabendo aos partidos políticos, às instituições, como o Congresso Nacional, e aos governos eleitos adaptarem-se à nova realidade e encaminhar as respostas e as soluções para os gritos que vêm das redes.

terça-feira, 17 de março de 2015

A PESSOALIZAÇÃO DA REVOLTA



ZERO HORA 17 de março de 2015 | N° 18104


JULICE SALVAGNI*



Sobre o atual torvelino de manifestações políticas, pensei que as trocas de farpas já significavam que havíamos atingido o ápice da comoção. Mesmo em meio ao declarado desrespeito, algo de ingênuo me levava a crer que o comportamento repugnante dos coletivos, autorizados e impulsionados em suas próprias relações desmedidas, pudesse ter ficado arquivado nos livros de História. Entretanto, muito mais do que isso, são crescentes as revelações desprezíveis, por meio de agressões verbais, físicas ou mesmo ameaças de morte, vindas de todos os lados desse cabo de guerra, que não salvaguardam os que se posicionam politicamente.

Pela pessoalização das violências, é notável que o conhecimento crítico e argumentativo sobre política é escasso, ou não é suficiente para justificar tamanha bestialidade dos acontecimentos. Parte-se, então, para a linguagem da tortura, que é quando o alvo da afronta é o ser humano em sua individualidade.

Ao invés de corromper a daninha política em prol da construção de um país melhor, está se produzindo uma digladiação mútua por egos, poderes e dinheiro, protagonizado especialmente pelos senhores das bandeiras. Enquanto houver esse exército doentio e cego, que prefere perder seus ideais a repreender o seu representante, vamos continuar cativando uma catastrófica construção do ódio, que nos distancia paulatinamente da prática de uma convivência em sociedade e, especialmente, de um debate efetivamente político.

As tentativas das legendas, pela voz dos seus discípulos, de negar e encobertar a putrefação política estão de forma direta contribuindo para a manutenção desse modelo corrupto, desigual e elitista. A má notícia é que não existe um partido de referência que se salve.

Carecemos, acima de tudo, de uma urgente limpeza interna nas bandeiras, para que os próprios partidos sejam críticos de si mesmos, dispensando a má índole e a interferência privada, possibilitando a criação de outro caráter político. Encobrir a imundície alheia, acima de qualquer critério moral, é coisa do crime organizado. Os ultrajes só comprovam o tamanho da podridão que um fanatismo iludido é capaz de produzir, enquanto a população segue como massa de manobra de uma engrenagem política solidificada em sintonia com as corporações. Aviso aos que se perderam: o caminho para a construção de um mundo melhor é para o outro lado.

*PROFESSORA UNIVERSITÁRIA

CORRUPÇÃO NA POLÍTICA MOTIVOU IDA À MARCHA



ZERO HORA 17 de março de 2015 | N° 18104


PROTESTO DO PARCÃO À REDENÇÃO



INSTITUTOS DE PESQUISA traçaram o perfil dos participantes da manifestação realizada domingo.

Descontentamento com a classe política, com a corrupção e necessidade de mudanças foram os principais motivos que levaram pessoas às ruas na Capital no domingo, conforme dois institutos de pesquisa que entrevistaram participantes da marcha que saiu do Parque Moinhos de Vento.

Em levantamento do Instituto Index, a corrupção representou por larga margem o principal problema do país, com 60,1% das citações, enquanto a administração pública foi a segunda opção mais lembrada, com 8,6% das menções.

Além disso, 78,1% dos entrevistados opinaram que os desvios aumentaram muito nos últimos quatro anos, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, e 86,4% consideram o combate à corrupção no Brasil como “não eficiente” e “nada eficiente”.

Em escala de um a cinco para o nível de corrupção, a maioria dos entrevistados apontou o grau máximo tanto para partidos políticos (76%), quanto para Congresso (73,4%) e para a Presidência da República (71,3%).

Na pesquisa do Instituto Amostra, em opção sem resposta múltipla, 78,8% dos entrevistados disseram acreditar que o movimento de protesto não pode ter a participação de partidos e políticos, contra 20% que admitem essa possibilidade.










Como cada um contou a multidão

BRUNA VARGAS


DATAFOLHA E POLÍCIA MILITAR usaram métodos diferentes para mensurar presença em São Paulo



Após os protestos, o Brasil dormiu e acordou sem saber ao certo quantos manifestantes passaram pela Avenida Paulista, ponto mais movimentado entre as manifestações de domingo. Enquanto a Polícia Militar de São Paulo divulgava 1 milhão de pessoas, o instituto Datafolha garantia que os insatisfeitos não passavam de 210 mil. Em Porto Alegre, segundo a Brigada Militar, teriam sido mais de 100 mil nas ruas.

– Não tem nada muito técnico nesses cálculos. Normalmente, dão um número redondo – avalia o estatístico Jéferson Daniel Matos, que atuou na Fundação de Economia e Estatística e agora está no Tribunal Regional do Trabalho.







OS CÁLCULOS
POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO
O cálculo na Avenida Paulista e adjacências foi feito por uma ferramenta tecnológica chamada “Copom Online”, que usaria recursos de mapas e georreferenciamento baseados em imagens aéreas captadas por um helicóptero. Para realizar a contagem, foi adotado como constante o número de cinco pessoas por metro quadrado.
DATAFOLHA
Para os protestos de domingo, foram tiradas as medidas da Avenida Paulista, desconsiderando os canteiros. A área de 16 mil metros quadrados (m2) foi dividida em setores, distribuídos entre uma equipe de 60 pessoas. Elas faziam a contagem de manifestantes por metro quadrado, de hora em hora.
– Esse é o ponto essencial para uma medição mais precisa. Se considerarmos apenas uma visão aérea e contarmos cinco pessoas por metro quadrado, chegamos naquele 1 milhão que a polícia divulgou – diz Mauro Paulino, diretor-geral do Instituto Datafolha.
O procedimento ocorreu ao longo de toda a via, entre 14h e 18h. No “horário de pico”, às 16h, o Datafolha registrou 188 mil pessoas no local. Ao todo, 210 mil teriam passado pelo protesto.
Além da contagem, as equipes aplicaram questionários em amostragem de 330 manifestantes para saber o horário em que chegaram ao local. O público foi dividido entre “persistentes”, os que acompanharam o protesto do início ao fim, e “entrantes”, que fizeram parte do percurso. A soma dos dois dados resultou no total divulgado.
BRIGADA MILITAR
De cima da passarela da Avenida Goethe, os policiais observaram a movimentação ao longo da via a partir das 15h. Segundo o coronel Paulo Stocker, subcomandante-geral da BM, a média ficou entre cinco e seis pessoas por metro quadrado. Ainda assim, a BM preferiu usar quatro pessoas por metro quadrado para o primeiro cálculo: 45 mil manifestantes.
– Depois, observamos um grupo que carregava uma faixa preta, posicionado no fim da via. Quando ele completou o trajeto, a Goethe seguia cheia. Aí chegamos em 90 mil pessoas – explica Stocker.
Os 10 mil restantes seriam as pessoas que seguiram transitando pela avenida “por cerca de 10 minutos após a última contagem”, somados a pessoas que ocupavam “os barrancos e o interior” do Parque Moinhos de Vento.

A PRAÇA AGORA É DE TODOS



ZERO HORA 17 de março de 2015 | N° 18104



MARCELO RECH*



Menos pela surpreendente envergadura e mais pelo ineditismo ideológico, assistiu- se em 15 de março de 2015 à maior novidade em praça pública do Brasil nos últimos 38 anos. Desde a retomada dos protestos estudantis contra o regime militar, em 1977, as ruas do Brasil eram um território delimitado pelas tintas da esquerda. De facções de linha trotskista a partidos que flertavam com o socialismo europeu, convencionara-se que apenas os matizes esquerdistas poderiam mostrar abertamente sua face país afora.

À “direita” – um carimbo em quem não se alinhasse com a esquerda –, estava reservada a vergonha de aparecer em público e enunciar seu nome em voz alta. Era compreensível. Foi a esquerda a sufocada pelos anos de chumbo, e sua reaparição no cenário político equivalia ao ar aspirado com sofreguidão pelo afogado ao retornar à superfície. A partir de 1980, muito por mérito dos barbudos do PT, a esquerda que já havia arquivado a luta armada foi avançando das ruas, dos sindicatos e dos veículos de comunicação em direção às urnas. Entre seu primeiro prefeito de capital eleito, Maria Luisa Fontenele, em 1985 (que acabaria expulsa dois anos depois), à posse do quarto mandato presidencial consecutivo, o PT e seus satélites nos movimentos sociais governaram as ruas.

Goste-se ou não, esta era acabou no domingo. Em 2013, houve um ensaio de que a esquerda tradicional perdia espaço nas ruas, mas aquelas massas não tinham rumo claro nem amálgama político, e logo o fenômeno se dissolveu. As multidões de 15 de março exibiram um posicionamento distinto. Os milhões que ocuparam as cidades formam uma frente contra o PT e o que ele, em uma sequência de erros, passou a simbolizar no imaginário de parte considerável do Brasil: corrupção e privilégios, originados na explosiva receita de partido, aparelhamento do Estado e sede incontrolável de poder.

Que Brasil emergirá desta salada ideológica nas ruas tingidas de vermelho e agora de verde-amarelo não se sabe. O fato é que, à esquerda, ao centro ou à direita, a praça deixou de ser reserva de mercado de uma corrente de pensamento. E esta é mais uma das belezas da democracia.


*JORNALISTA DO GRUPO RBS

segunda-feira, 16 de março de 2015

GOVERNO PROMETE AÇÕES ANTICORRUPÇÃO PRESSIONADO POR MAIS DE UM MILHÃO NAS RUAS

ZERO HORA 15/03/2015 | 20h31

Mais de um milhão vão às ruas, e governo promete ações anticorrupção. Em Porto Alegre, cerca de cem mil pessoas participaram do protesto



Em Porto Alegre, cerca de 100 mil foram às ruas, conforme a BM. Já em São Paulo, polícia estimou presença de um milhão Foto: Montagem sobre fotos de Ricardo Duarte e Diego Vara / Agência RBS

Uma série de protestos contra o governo de Dilma Rousseff e a corrupção marcaram o domingo em diversas cidades do país. O ato mais numeroso foi registrado em São Paulo, onde um milhão de pessoas foram às ruas, conforme a Polícia Militar. Em Porto Alegre, cerca de 100 mil marcharam do Parcão à Redenção.

Após os atos, o governo federal prometeu anunciar nos próximos dias um conjunto de medidas de combate à corrupção, durante um pronunciamento dos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, realizaram um pronunciamento para divulgar a posição oficial do governo.

Grande parte dos manifestantes exigiu o impeachment da presidente, reeleita por uma margem de 3%. Muitos também pedem a intervenção militar para acabar com mais de 12 anos de governo petista, um paradoxo em um dia em que se comemora, justamente, os 30 anos da volta da democracia ao Brasil após a longa ditadura iniciada em 1964.


Veja mais imagens dos protestos no país:


Quem são os articuladores nacionais do protesto contra Dilma Em São Paulo, foi praticamente impossível caminhar entre a multidão que lotou os 4 km da Avenida Paulista. Com cerca de um milhão de participantes, o ato foi o mais numeroso do país.

Entre 45 mil e 50 mil pessoas também marcharam até o Congresso, em Brasília, entre eles o empresário de construção civil Alessandro Braga, de 37 anos, acompanhado da mulher e do filho pequeno em um carrinho.

— Apoio a saída de Dilma. Os maiores escândalos de corrupção ocorreram durante seu governo, e ela não disse nada — argumentou.


Já no Rio de Janeiro, a orla de Copacabana foi tomada por cerca de 15 mil pessoas, segundo a polícia. Entre os manifestantes estava a produtora de TV Rita Souza, 50 anos, que exibia um cartaz com as palavras "Intervenção militar já".

— Não estou pedindo um novo golpe de Estado, e sim uma intervenção constitucional para convocar novas eleições limpas, sem urna eletrônica, sem manipulação do PT. Que vão todos para Cuba! — declarou.

Em Porto Alegre, cerca de cem mil pessoas foram às ruas, segundo a Brigada Militar. O grupo concentrou-se no Parcão, no bairro Moinhos de Vento, e caminhou até a Redenção. Pela manhã, um grupo que apoia o governo federal assou coxinhas de galinha em uma crítica aos manifestantes.

PANELAÇO DURANTE ENTREVISTA DE MINISTROS DO GOVERNO

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 15/03/2015

Panelaços acontecem pelo país durante entrevistas de ministros. Miguel Rosseto e José Eduardo Cardozo davam entrevista enquanto acontecia panelaço contra o governo Dilma em várias cidades do país.





Enquanto os ministros Miguel Rosseto e José Eduardo Cardozo davam entrevista em Brasília, um panelaço contra o governo Dilma acontecia em vários bairros de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Em São Paulo, foram registrados protestos em Moema, na Zona Sul da cidade. Também no bairro do Jardins e em Santos, no litoral paulista.

No Rio de Janeiro em Ipanema, Humaitá, Copacabana e Alto Leblon, na Zona Sul do Rio. E também na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. E em Niterói, na Zona Metropolitana do Rio.

Em Belo Horizonte, em Curitiba, no bairro Água Verde na região central da cidade. Em Goiânia. Em Brasília, no sudoeste também houve panelaço.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, comentou o panelaço.

“Em relação ao panelaço que estava ocorrendo, ou está ocorrendo ainda em alguns lugares, é importante ter claro que isso é uma manifestação democrática. As pessoas têm o direito de fazer isto. Ou seja, não é porque essa manifestação é contra ou é crítica ao governo Dilma Rousseff que nós não vamos respeitá-la. Como também, nós temos que respeitar todas as manifestações que sejam feitas de apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff. Democracia é isso", disse.

GOVERNO E OPOSIÇÃO SE PRONUNCIAM SOBRE PROTESTOS

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 15/03/2015

Governo e oposição se pronunciaram sobre protestos. Governo diz que vai lançar novas medidas para combater a corrupção. A oposição afirma que é impossível ignorar cobranças das ruas.





O governo e a oposição se pronunciaram sobre os protestos deste domingo (15). No início da noite, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da presidência, Miguel Rossetto, falaram sobre as manifestações deste domingo. Eles disseram que o governo vai anunciar novas medidas para combater a corrupção - e destacaram o caráter democrático das manifestações.

No Palácio da Alvorada, em Brasília, ministros repassaram à presidente Dilma Rousseff informações sobre os protestos. No fim da tarde, ela se reuniu com alguns ministros que fazem a coordenação política do governo.

Depois da reunião, os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo e da Secretaria-Geral da presidência, Miguel Rossetto, deram uma entrevista coletiva. O ministro Cardozo disse que as manifestações fazem parte da democracia.

“É importante observar que o governo está atento e revela a disposição que sempre teve de ouvir as vozes das ruas, as manifestações de brasileiros e de brasileiras, e sempre estará aberto ao diálogo. Não há democracia sem diálogo, não há democracia sem tolerância de posições divergentes. Faz parte do ser democrático o respeito a quem não pensa como se gostaria que se expressasse”, afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Já o ministro Rossetto acentuou que os manifestantes eram aqueles que não votaram na presidente Dilma.

“As manifestações ocorridas hoje são manifestações onde majoritariamente participaram setores críticos, setores da sociedade críticos ao governo, seguramente essa participação ela aparece nessas manifestações, seguramente, majoritariamente também, eleitores que não votaram na presidenta Dilma Rousseff”, disse o ministro da da Secretaria-Geral da presidência, Miguel Rossetto.

O ministro da Justiça anunciou, para os próximos dias, medidas de combate à corrupção.
“Irá nos próximos dias anunciar algo que já era uma promessa eleitoral da presidenta Dilma Rousseff, que é um conjunto de medidas de combate a corrupção e a impunidade. Nos próximos dias essas medidas serão anunciadas. E é importante que se frise, que a postura do governo é que suas ações nessa área não se encerrem com o anúncio dessas medidas. Estamos abertos ao diálogo, estamos abertos a ouvir propostas. Seja de quem defende o atual governo, seja de quem o critica”, anunciou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

José Eduardo Cardozo também defendeu mudanças no sistema político-eleitoral.
“É necessário uma reforma política que feche as portas de um sistema anacrônico a corrupção e que vede terminantemente a possiblidade de financiamento empresarial das campanhas eleitorais”, disse José Eduardo Cardozo.

O ministro da Secretaria-Geral da presidência reconheceu que as manifestações são legítimas desde que a lei seja respeitada.

“As manifestações contrárias ou favoráveis ao governo são legítimas. O que não é legitimo, o que não é aceitável, que dever ser condenado, é o golpismo, a intolerância, o impeachment infundado que agride a democracia, a violência”, afirmou Miguel Rossetto.

Sobre os grupos que neste domingo (15) pediam o impeachment da presidente Dilma, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, disse que a liberdade de expressão permite que eles discutam temas como este - embora não veja, neste momento, nenhuma base jurídica para que isso venha a acontecer.

“Pedir o impeachment enquanto manifestação livre de vontade, tudo bem. Agora, concretamente, vamos convir, a presidente da República no curso deste mandato que mal se inicia não cometeu nenhum crime que é pressuposto do impeachment. Seja à luz do artigo 85 da Constituição, seja à luz da lei 1079, de 1950, versando sobre crimes de responsabilidade e por consequência, impeachment, não há a menor possiblidade de enquadramento da presidente da República nessas normas, sejam constitucionais, sejam legais”, disse Ayres Britto, ex-presidente do STF.

Entre os juristas, há uma unanimidade no entanto: a de que não há qualquer legalidade, nem sentido, pedir uma intervenção militar. Essa reivindicação foi demonstrada em alguns cartazes, no Rio de Janeiro. O ex-ministro do Supremo, Carlos Velloso, lembrou que as Forças Armadas têm a obrigação de proteger o estado democrático.

“Uma intervenção militar seria algo inusitado, fora da lei, fora da Constituição, ao arrepio da lei, ao arrepio da Constituição. Vale evocar Rui Barbosa no ponto quando ele afirmou diante do Supremo Tribunal Federal, ‘fora da lei não há salvação’. Temos que sempre nos comportar dentro da lei. No momento em que a lei, que a violação da lei prejudica alguém e nos colocamos em silêncio, amanhã poderá ser nós, sermos nós aqueles atingidos por quem está violando a lei. Sempre dentro Constituição, sempre com observância da lei”, analisou o ex-presidente do STF, Carlos Velloso.

A forma pacífica das manifestações foi elogiada pelo senador Aécio Neves, presidente do PSDB, um dos partidos que apoiaram os protestos. No Rio de Janeiro, ele disse que é preciso mobilizar o país para a discussão de uma agenda positiva.

“Nós temos que ter uma agenda propositiva, o Brasil é muito maior do que as dificuldades que estamos vivendo hoje, mas há um divórcio hoje, entre o poder executivo, entre o poder público como um todo, e a sociedade brasileira, nós precisamos construir no Congresso Nacional uma agenda que passe pela reforma política, pra que as pessoas se sintam mais próximas de seus representantes, que passe pela questão tributária, onde haja um grande pacto em favor da federação, dos municípios, e dos estados”, disse Aécio Neves.

Para o líder dos Democratas, na Câmara dos deputados, é impossível ignorar as cobranças das ruas.

“Eu acho que isso é o começo de um grande ambiente em favor de mudanças, de combate efetivo à corrupção, de que o governo entre na agenda da sociedade e ao mesmo tempo a conta do ajuste econômico não recaia sobre a classe média e os trabalhadores. Infelizmente, a crise foi gerada pelo próprio governo e quem paga pela crise hoje é a população brasileira”, afirma o deputado Mendonça Filho.

“Há um momento em que nós temos que ser maiores do que as nossas divergências, há um momento que nós temos que pensar na sociedade e no estado brasileiro. É evidente que a sociedade brasileira clama por combate a corrupção e evidente que é necessário que nós tenhamos que ter uma reforma política. Para isso é necessário dialogar, para isso é necessário sentarmos aliados e até mesmo com a oposição junto com a sociedade para que nós possamos construir uma alternativa que efetivamente atenda a expectativa de todos os brasileiros e brasileiras”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

BRASILEIROS NO EXTERIOR PROTESTAM CONTRA O GOVERNO E A CORRUPÇÃO




G1 FANTÁSTICO Edição do dia 15/03/2015

Brasileiros no exterior fazem protestos contra o governo e a corrupção. Londres, Lisboa, Buenos Aires e Nova York tiveram protestos de brasileiros que vivem no exterior.





Em um dia frio e de chuva, em Londres, cerca de 70 pessoas se reuniram em frente à Embaixada brasileira. Havia muitas bandeiras do Brasil, balões e roupas verde e amarelas. Os manifestantes cantaram o hino nacional e carregaram cartazes em português e em inglês, contra a corrupção e contra o governo, como um que dizia que "Patriotismo é ficar ao lado do país, não dá presidente".

Em Lisboa, cerca de 50 brasileiros se reuniram na Praça Luís de Camões, uma das principais regiões turísticas da capital portuguesa. Muitos pintaram o rosto de verde e amarelo, bateram panelas e também cantaram o hino nacional. O protesto pediu o fim da corrupção.

“Não importa onde a gente more, onde a gente esteja, nosso coração é brasileiro e a gente está junto com o Brasil desde sempre”, diz uma mulher.

Em Buenos Aires, a concentração começou no início da tarde em frente ao obelisco, na região central da cidade. O protesto contra o governo e contra a corrupção reuniu cerca de 70 brasileiros, entre turistas e residentes na Argentina. Os manifestantes caminharam até a embaixada do Brasil. A polícia acompanhou de longe só para evitar que a manifestação atrapalhasse o trânsito.

Em Nova York, o protesto foi na Union Square, um tradicional ponto de manifestações. Eles pedem o fim da corrupção e mudanças no governo. Com cartazes em inglês e português, os manifestantes defenderam o fim da mentira e fizeram gestos de rendição. Eram cerca de 100 pessoas, imigrantes e turistas, que enfrentaram o frio de sete graus, e criticaram também os parlamentares. A maioria defendeu a saída da presidente Dilma Rousseff do governo. Houve bate-boca quando uma mulher e um homem contrários ao impeachment chegaram à manifestação. Depois da confusão, o protesto seguiu com o hino nacional e demonstrações de apoio ao Brasil.

Os protestos no Brasil tiveram grande repercussão na imprensa internacional.

O site do New York times disse que os brasileiros marcharam contra a economia em ritmo lento, o aumento dos preços e a corrupção - e pediram o impeachment da presidente Dilma.

O Washington Post destacou que houve manifestações em mais de 50 cidades e que um dos motivos era o esquema de corrupção na Petrobras, um dos maiores do país.

A britânica BBC estampou na primeira página que mais de um milhão de brasileiros participaram do protesto, pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O espanhol El País destacou, na edição digital, que a manifestação em São Paulo foi a maior desde a redemocratização do Brasil.

O argentino La Nación disse que os protestos são contra o governo da presidente Dilma, por causa dos escândalos na Petrobras e da desvalorização de quase 30% do real frente ao dólar.

BRASILEIROS CONTRA CORRUPÇÃO E GOVERNO

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 15/03/2015


Brasileiros manifestam em vários estados contra corrupção e governo. Atos lotaram ruas e praças pelo país. Maiores manifestações aconteceram em Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belém e São Paulo.




Quinze de março de 2015, domingo de ruas e praças cheias em cidades de 26 estados e do Distrito Federal para manifestações contra a corrupção e contra o governo Dilma. Os maiores atos públicos aconteceram em Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belém e São Paulo.

Foi em São Paulo que se viu neste domingo (15) uma das maiores manifestações públicas dos últimos tempos, na Avenida Paulista e arredores. Os repórteres acompanharam este dia de protestos em todo o país desde cedo.

Na parte da manhã, a concentração de manifestantes começou às 9 horas. Vestidos de verde e amarelo e empunhando bandeiras do Brasil eles foram chegando aos pontos de encontro, nas capitais e em cidades do interior de pelo menos 15 estados.

Às 10 horas, ruas e praças já reuniam uma multidão de milhares de pessoas, de maneira pacífica. As faixas e cartazes mostravam palavras de ordem contra o governo, a presidente Dilma e o PT. Os atos pediram apoio ao Ministério Público, à Operação Lava Jato, e, em muitos deles, pediam também o impeachment da presidente Dilma.

A manifestação foi convocada por movimentos sociais que se dizem apartidários, como o “vem pra rua” e o “movimento Brasil livre”.

No Rio de Janeiro, aconteceu na Avenida Atlântica, com início na altura do posto cinco e seguiu até o hotel Copacabana Palace, um trecho de pouco mais de dois quilômetros.

O batalhão da polícia militar de Copacabana chegou a anunciar que 15 mil pessoas participavam do protesto. Mas, à tarde, o comando da PM anunciou que essa era uma estimativa inicial e que não haveria um número oficial. Líderes do movimento “vem pra rua” disseram que foram 100 mil pessoas. Os manifestantes carregavam uma enorme bandeira do Brasil.

“Manifestação pacífica, maravilhosa. Queremos Brasil, Brasil, só Brasil”, disse uma mulher.

Havia cartazes e faixas pedindo um basta na corrupção e contra a presidente Dilma Rousseff. Até na água, houve protesto. Das janelas e varandas, teve morador acenando em apoio à manifestação.

“A gente que um Brasil melhor, né? A gente quer de fato o progresso do país”, disse outra mulher.

No meio da multidão, um cartaz destoava pedindo a volta da ditadura militar, uma atitude ilegal e contra a constituição.

Em Brasília, 1600 policiais foram convocados para garantir a segurança dos manifestantes e evitar invasão a prédios públicos. A concentração foi em frente ao Museu da República, mas a multidão caminhou até o Congresso Nacional, onde os manifestantes sentaram-se no gramado. Segundo a Polícia Militar, eram entre 45 e 50 mil pessoas. Para os organizadores, entre 80 e 100 mil pessoas participaram do protesto.

Em Salvador, os manifestantes se concentraram no Farol da Barra, cartão postal da cidade. Bateram frigideira, carregaram cartazes contra o PT e ao som de uma banda cantaram o hino nacional. Foram 8 mil manifestantes, segundo os organizadores. E seis mil para a PM.

No Recife, o protesto foi na praia da Boa Viagem. As pessoas em verde e amarelo pediam o fim da corrupção. Havia faixas e cartazes pelo impeachment da presidente Dilma e exigindo cadeia para os corruptos. Os organizadores não estimaram o número de participantes. Segundo a PM, foram 8 mil.

Em Belo Horizonte, a Praça da Liberdade foi tomada por uma multidão que exigia justiça, ética e punição para os corruptos. Algumas pessoas usaram nariz de palhaço e apitos. E em vários momentos, a manifestação gritava em coro "fora Dilma". Os organizadores também não calcularam o número de participantes. Segundo a PM, 20 mil pessoas.

Sessenta mil pessoas, segundo os organizadores, foram para as ruas em Belém. Segundo a PM, eram 30 mil caminhando da Avenida Visconde de Souza Franco, no centro da cidade até o Teatro da Paz. A manifestação terminou por volta de meio dia sem nenhuma ocorrência de tumulto.

Em Aracaju o protesto foi em frete aos arcos da orla da Atalaia. Cinco mil pessoas participaram, de acordo com os organizadores. Segundo a PM, eram 900 pessoas. O início da passeata atrasou por conta de uma forte chuva, mas depois seguiu tranquilamente pelas ruas da cidade.

Em Fortaleza tanto a PM quanto os organizadores calculam que 20 mil pessoas ocuparam a Praça Portugal. Como no resto do país, os manifestantes usavam roupas com as cores da bandeira brasileira.

Em Goiânia a concentração foi na Praça Tamandaré. Um balcão foi instalado para que as pessoas assinassem um manifesto pró-impeachment. Os organizadores não estimaram o número de participantes, segundo a PM eram 60 mil.

À tarde os protestos se ampliaram em vários estados. Em algumas cidades, manifestantes voltaram às ruas em locais diferentes dos protestos da manhã. Como em São Luiz, Salvador e Belém.

Em Porto Alegre, cem mil pessoas, segundo a Polícia Militar e 110 mil pelas contas dos organizadores, caminharam entre os parques moinhos de vento e redenção. Muita gente vestiu as cores do Brasil. Cartazes e faixas pediam o impeachment da presidente Dilma e o fim da corrupção.

Em Curitiba, os manifestantes se reuniram na Praça Santos Andrade, no centro, e caminharam até a Boca Maldita, também no centro. Oitenta mil pessoas participaram do protesto, segundo a PM. Os organizadores falam em cem mil.

Em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, os manifestantes saíram do centro da cidade e percorreram quatro quilômetros com faixas contra a corrupção. A passeata reuniu 32 mil pessoas, segundo os organizadores do movimento, 30 mil pelos cálculos da PM.

Em Franca, na mesma região, a praça principal foi o local escolhido para o protesto. Cartazes pediam o impeachment da presidente Dilma. Alguns agricultores chegaram a cavalo. Outros passearam pelas ruas de trator. A Polícia Militar contou 4,5 mil pessoas e os organizadores, 5 mil.

Em Natal, o protesto foi à tarde. Como no resto do Brasil, muitas pessoas usaram as cores da bandeira. De acordo com os organizadores, 40 mil pessoas participaram do ato. A PM contou 12 mil.

A manifestação em Teresina foi em frente à Assembleia Legislativa do Piauí e teve um velório simbólico do PT, onde foram queimados bonecos da presidente Dilma e do ex-presidente Lula. Um grupo de manifestantes usava camisa do Brasil pedindo “fora Dilma”. O protesto foi pacífico. A organização do evento disse que cerca de 5 mil pessoas estiveram na manifestação. E a Polícia Militar diz que foram 4 mil pessoas.

Em Vitória uma passeata saiu da sede da Petrobras, outra saiu da cidade de Vila Velha e atravessou a terceira ponte até Vitória. As duas se encontraram com um terceiro grupo na praça do Papa, a maior da cidade. De acordo com a PM, cem mil pessoas foram para as ruas de Vitória protestar. A organização do evento fala em 120 mil pessoas. A manifestação transcorreu tranquilamente.

Em Florianópolis, os manifestantes se reuniram no centro, em frente ao terminal de ônibus. E seguiram pela Avenida Beira Mar Norte, a principal da cidade. Faixas e cartazes pediam o impeachment da presidente Dilma. Tanto a PM, quanto os organizadores do movimento concordaram que havia 30 mil pessoas nas ruas.

Em João Pessoa, muitas famílias foram para a Praia de Tambaú. Muita gente pintou o rosto e usou nariz de palhaço. Um homem fez uma fantasia em protesto contra a corrupção na Petrobras. Para a PM, havia 4 mil manifestantes. Para os organizadores, eram 7 mil.

Em São Paulo, manifestações por toda a parte e de todo lugar. De caminhão, de moto e de metrô.

A maior concentração foi na Avenida Paulista, que duas horas antes do horário marcado, já estava lotada. Os comerciantes colocaram tapumes. Os moradores apoiaram a manifestação com bandeiras nas janelas. No cartaz, o orgulho de ser brasileiro. Em outro, o pedido em impeachment da presidente Dilma. Também tinha professores pedindo a saída de Lula, Dilma e do PT. Os manifestantes também pediam mais saúde, mais educação e menos corrupção.

“Eu estou cansada. A gente luta tanto, trabalha todos os dias e temos o que como resposta? Roubo, mais roubo. Brasileiro não aguenta mais”, diz Silmara Vettori, gerente comercial.

“É muita roubalheira, o Brasil não aguenta mais, entendeu”, diz um homem.

Banda podre do Executivo, Legislativo, Judiciário e empresários também foi alvo de protestos. Na cruz, inflação e juros e o questionamento: que país é esse?

“Não é o caso de intervenção militar, não é o caso de impeachment. É o caso de criar vergonha na cara e de termos um país decente, honesto, de gente trabalhadora e pôr um fim a toda essa corrupção que toma conta do país de maneira deslavada e vergonhosa”, diz Paulo Niemeyer, advogado.

Vinte jovens foram detidos, com eles foram encontrados rojões e socos ingleses. Eles vestiam camisetas de um grupo chamado "carecas do subúrbio". Os manifestantes apoiaram os policiais e hostilizaram os presos.

O helicóptero da Polícia Militar sobrevoou a Avenida Paulista para calcular o número de manifestantes. Nas contas da polícia, um milhão de pessoas foram até lá. E os organizadores concordaram com a PM. O protesto ocupou quase dois quilômetros da avenida e se espalhou por pelo menos 15 quarteirões. Não parava de chegar gente. No meio da tarde, uma das principais estações da Avenida Paulista fechou as portas porque não cabia mais ninguém.

Os caminhões que mais cedo percorreram ruas da capital se juntaram aos manifestantes.
A equipe do Fantástico esteve na esquina da Avenida Paulista chegando a Rua da Consolação. E foi no local que caminhoneiros que decidiram participar da manifestação fizeram o seu protesto. Eles não podem entrar na avenida por causa da quantidade de manifestantes então eles pararam ali e tão fazendo um buzinaço.

“É uma emoção indescritível, só quem está aqui pode sentir. Só quem é brasileiro independentemente de partido, que trabalha e paga imposto e quer um pouco de justiça social verdadeira sabe o que é estar aqui nessa Avenida Paulista hoje”, destaca uma manifestante.

A Polícia Militar de São Paulo informou como chegou ao número de um milhão de manifestantes na Avenida Paulista. A PM diz que usou uma ferramenta tecnológica com mapas e georreferenciamento, baseadas nas imagens aéreas colhidas por um dos helicópteros águia. Assim, determinando a extensão principal da manifestação, bem como, a ocupação das ruas adjacentes, foi adotado como parâmetro de cálculo, naquele momento, de cinco pessoas por metro quadrado.

Já o Instituto Datafolha, usando metodologia própria, calculou em 210 mil o número de manifestantes no protesto deste domingo (15), na Avenida Paulista. Segundo o Datafolha, esse número refere-se ao total de pessoas diferentes que participaram, em algum momento, da manifestação. O Datafolha não considerou as pessoas nas adjacências da Avenida Paulista. O Instituto salientou, no entanto, que 210 mil é o maior número medido em um ato político em São Paulo, desde as Diretas Já, quando em 1984, o Datafolha calculou que 400 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé.

sábado, 14 de março de 2015

EU VOU PARA O PARCÃO



ZERO HORA 14 de março de 2015 | N° 18101


REGINA LINDEN RUARO*



No próximo domingo, vou protestar com meu direito fundamental de liberdade de expressão e lutar pela manutenção da liberdade de imprensa. Mas não me atri- buam o qualificativo de golpista ou de alinhada com a direita, muito menos me identifiquem com quem quer o impea- chment. Não pertenço a partido político nem fui financiada, porque consciência, moral, ética, honestidade, resguardo do dinheiro público, não têm preço. Estarei lá para protestar contra todos que tenham sangrado os cofres públicos, contra a corrupção, descontente com promessas de campanha que se configuraram em estelionato eleitoral. Vou pelo direito de saber quem deixou a Petrobras nessas condições. Para que paguem por seus crimes e restituam o dinheiro desviado. Pelo fim dos projetos de poder, dos empréstimos sem transparência.

Sou da classe média, mas não me enquadrem como pertencente a um grupo estigmatizado que leva a pecha de “coxinha”. Trabalho três turnos pela minha vida inteira e o custo pessoal é alto. Não me passem a fatura do desvio praticado. Como contribuinte, quero que o arrecadado dos altos impostos seja usado para custear direitos sociais da população desfavorecida que amarga em filas e no chão dos corredores de hospitais, em uma educação pública de qualidade já no Ensino Fundamental, em segurança pública, em infraestrutura e em melhoria das condições de vida da nação. Não posso conviver com um salário mínimo insuficiente para o mínimo existencial enquanto alguns políticos empurram o orçamento estatal para o buraco. Quem quer enriquecer não pode estar no serviço público. Busco solidariedade com o próximo que perde seus direitos custeando falcatruas. Lá, passarei recado para a presidente e políticos: humildade é uma qualidade, autocrítica contribui para corrigir o rumo, alternância no poder é democracia. Atribuir os problemas econômicos a fatores externos ou causas naturais do meio ambiente é fazer como o avestruz faz: coloca a cabeça no buraco. Aos políticos e intelectuais que atribuem aos movimentos sociais das redes o título de golpistas, não sou oito ou oitenta, só não aceito pano de fundo nem cortina de fumaça. Creio no Brasil e não pretendo ser a última a “apagar a luz”.

*Advogada e professora da PUCRS

A DEMOCRACIA NAS RUAS



ZERO HORA 14 de março de 2015 | N° 18101


EDITORIAL



Antecipando-se ao protesto antigoverno programado para amanhã, centrais sindicais, grupos de trabalhadores e movimentos sociais protagonizaram ontem, em várias cidades do país, manifestações em defesa da Petrobras, da democracia e da presidente Dilma Rousseff.

Apesar da pauta diversificada, que incluiu demandas específicas de algumas categorias, a mobilização teve também um sentido de rejeição à possibilidade de impeachment presidencial que vem sendo levantada por alguns setores da sociedade e por lideranças políticas.

Independentemente da quantidade de manifestantes ou das entidades que os mobilizaram, o importante é que as concentrações e as caminhadas foram pacíficas, sem mascarados, sem provocações, sem depredações e sem resistências de quem pensa diferente. É o que também se espera do movimento previsto para este domingo.

Se as manifestações transcorrerem de forma civilizada, mesmo com o clima de belicismo existente nas redes sociais, os brasileiros estarão reforçando a democracia – e não forçando uma eventual ruptura democrática como alegam os críticos dos defensores do impeachment. Como lembrou a própria presidente Dilma, todos podem e devem se manifestar livremente – desde que ajam sem violência. Criticar os governantes, apoiá-los, defender a Petrobras e pedir a punição dos corruptos, reclamar da inflação e do custo de vida, defender causas setoriais – tudo isso é do jogo democrático. Mas o compromisso definitivo com a democracia é respeitar as manifestações, mesmo discordando de suas bandeiras.

ÁUDIOS SOBRE GOLPE NÃO TÊM QUALQUER FUNDAMENTO



ZERO HORA 14 de março de 2015 | N° 18101


SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI




Não tem qualquer fundamento ou seriedade a avalanche de áudios apócrifos, jurando que vem aí um golpe militar no Brasil. Quem afiança isso são oficiais graduados do Exército com os quais conversei na manhã de ontem. Eles ouviram o material divulgado no WhatsApp, no qual civis anônimos com sotaque paulista falam que os militares se preparam para tomar as ruas após as manifestações de domingo. Ou de um pseudo-tenente carioca, do S2 (Segunda Seção do Exército, o serviço secreto), recomendando aos companheiros de setor que estoquem alimentos e mantenham as famílias em casa, “porque a guerra civil vai estourar” e “estrangeiros infiltrados já agem no Brasil”.

Falei com dois oficiais de alta patente do Exército, inclusive um que chefiou o S2 gaúcho. Eles ressaltam atos falhos nas gravações, como quando é mencionado que a cúpula militar do Rio ordenou aquartelamento (quando só Brasília poderia fazer isso). “É gente se passando por milico”, afiançam.

Os áudios alarmistas falando em golpe foram inclusive assunto da reunião semanal do QG do Comando Militar do Sul, realizada ontem pela manhã. Questionado a respeito, um general disse que é tudo falso e assegurou: não há aquartelamento, não há estado de atenção, as folgas dos fardados continuam mantidas e o expediente será normal no domingo, ou seja, só os oficiais do dia e alguns poucos praças estarão nos quartéis. Como sempre. O Exército inclusive expediu nota oficial, negando vínculo com os áudios que grassam pela blogosfera.

A verdade é que os milicos, ressabiados com a rejeição sofrida após 21 anos de ditadura militar, não estão dispostos a embarcar em aventura. Talvez apenas se uma guerra civil se instaurasse, mas a própria oposição não parece endossar soluções abruptas. Os líderes oposicionistas Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, do PSDB, disseram nesta semana que o impeachment da presidente Dilma não é uma boa ideia, muito menos golpe militar. E alguém acredita em mobilização militar sem apoio partidário?

Os oficiais consultados por ZH garantem: os militares confiam no bom senso dos organizadores das passeatas. Não querem derramamento de sangue, e não acreditam que isso vá ocorrer, tanto que sequer tomaram qualquer providência para patrulhamento das ruas. Isso será feito pelas polícias militares, como ocorre há 30 anos, desde o fim do regime de força implantado em 1964.

– Acreditamos em vocês da mídia, na Justiça e, principalmente, na força do nosso povo. Minha palavra: não vejo quem conspira e se tiver alguém, sou contra –resume um coronel.

PROTESTOS CONTRA IMPEACHMENT



ZERO HORA 14 de março de 2015 | N° 18101

MARCELO GONZATTO | São Paulo

MANIFESTAÇÕES PELO PAÍS

MANIFESTANTES FORAM ÀS RUAS ontem em 24 Estados e no Distrito Federal para defender a manutenção do mandato da presidente Dilma Rousseff. Mobilizações foram organizadas por movimentos sociais e sindicatos



O protesto convocado por organizações sociais para a sexta- feira ensaiou dar mais ênfase a cobranças ao governo federal, mas, na prática, um dos temas centrais da mobilização que ocorreu em 24 Estados e no Distrito Federal foi mesmo a defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Em São Paulo, onde ocorreu o maior, milhares de manifestantes ligados a CUT, MST e UNE e apoiadores em geral fecharam a Avenida Paulista e marcharam até a Praça da República sob chuva forte em diversos momentos para condenar um eventual processo de impeachment – além de defender a Petrobras, os direitos trabalhistas e a reforma política. Muitos usavam adesivos com a inscrição “Fica Dilma”.

Sem presença de grandes estrelas, logo no início do protesto ficou claro que uma das prioridades dos participantes era fazer um contraponto à manifestação anti-Dilma prevista para amanhã – embora isso não tenha sido exposto explicitamente nos materiais de divulgação. O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, esclareceu o que significava o slogan de “defesa da democracia” anunciado como um dos motes da mobilização:

– A eleição já acabou. O Brasil precisa encerrar o terceiro turno. As pessoas têm o direito de se manifestar contra ou a favor do governo, mas não podemos viver esse clima de continuidade eleitoral o resto da vida. Precisamos criar condições de o Brasil crescer.

Freitas defendeu, ainda, a continuidade de investimentos para garantir o crescimento do país, em vez da recente política de austeridade iniciada pelo governo federal. Entre os participantes que enfrentaram sucessivas pancadas de chuva (mais de 50 mil, conforme os organizadores, ou cerca de 12 mil, segundo a PM), havia desde líderes sindicais até servidores públicos, estudantes e aposentados dispostos a defender pautas variadas – tendo o mandato de Dilma como ponto em comum.

Uma parte dos participantes foi convocada por líderes sindicais para reforçar a manifestação. Um grupo de moradores do bairro do Limão vestindo coletes da CUT informou que não sabia bem que bandeiras defenderia no local, mas que havia sido convencido por uma líder sindical a lutar por “direitos dos trabalhadores”. Eles informaram ter recebido carona até a Avenida Paulista, mas nenhuma outra vantagem.

A representante do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo que convocou o grupo, Noélia Bandeira, 45 anos, afirma que todos foram convidados para defender seus próprios interesses.

– Não podemos perder conquistas como seguro-desemprego e 13º salário – afirmou Noélia.

REFORMA POLÍTICA E EDUCAÇÃO NA PAUTA

Muitos outros participaram sem vinculação a organizações. O casal de aposentados Kiyosumi e Helena Misawa, ambos de 67 anos, foram à rua pedir uma reforma política que privilegie financiamento público de campanhas.

– Hoje, é o capital que elege os políticos – afirmou Kiyosumi.

As irmãs Dalita, 29 anos, e Deborah Guimarães, 24, tomaram a Paulista em favor da educação – mas também para garantir Dilma até o fim do mandato.

– A Dilma foi eleita pelo povo, e não pode ser tirada pela elite econômica – defendeu Dalita, enfrentando a chuva que desafiou os milhares de participantes.

No Rio Grande do Sul, as manifestações promovidas por movimentos sociais e sindicatos em defesa do mandato da presidente Dilma ocorreram na quinta- feira. Os manifestantes fizeram um ato na Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, e percorreram ruas da Capital.



ATOS OCORRERAM EM VÁRIAS CAPITAIS
RIO DE JANEIRO
O líder do MST João Pedro Stedile disse durante a manifestação no centro da cidade que não aceita “infiltração de capitalistas” e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no governo federal. Ele pediu também que a presidente Dilma Rousseff “saia do Palácio” para ouvir os trabalhadores. De acordo com a Polícia Militar, 1,5 mil pes- soas participaram do ato, mas os organizadores contabilizam 5 mil pessoas participando da caminhada da Cinelândia até a sede da Petrobras.
RECIFE
Bandeiras e camisetas da campanha de Dilma, além de faixas que clamam por reformas políticas, foram usadas no ato que reuniu milhares de pessoas – as estimativas variam de 2 mil (companhia de trânsito) a 5 mil (organizadores). Também havia camisetas com a imagem de Dilma e a mensagem “renovar a esperança”.
BRASÍLIA
Reunidos na rodoviária, os manifestantes gritavam “não vai ter golpe” e “o povo na rua, Dilma continua”. As estimativas de público ficam em torno de mil pessoas.
SALVADOR
Em Salvador, o ato ocorreu pela manhã e teve a presença do ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli. “Respeitem a soberania popular e a democracia” e “Todos pela democracia, abaixo os golpistas” foram duas das faixas erguidas pelos cerca de mil participantes.
BELO HORIZONTE
Estudantes participaram do protesto entoando que “não vai ter golpe”. Eles também defendem a presidente, cantando “Dilma guerreira da pátria brasileira”. Os manifestantes reunidos pela CUT, MST e outros movimentos sociais somavam de 1,2 mil pessoas, conforme a polícia, a 5 mil pessoas, segundo os organizadores. A presidente Dilma tinha agenda prevista na capital mineira ontem, mas cancelou em razão de problemas de saúde sua mãe, de acordo com o Planalto.
MACEIÓ
Cinco mil pessoas, segundo a CUT local, e 1,8 mil, de acordo com a Polícia Militar, participaram de uma passeata pelas principais ruas da cidade. A manifestação teve a presença de caravanas do interior do Estado.

CARA-PINTADA NO ATO CONTRA DILMA

ZERO HORA 14/03/2015 | 04h06

Cara-pintada volta à rua para ato contra Dilma. Passeata marcada para domingo à tarde em Porto Alegre, do Parcão à Redenção, terá percurso divulgado somente na largada. Denúncias de corrupção também estão no foco dos participantes

por Marcelo Monteiro




Lisiane, que foi cara-pintada em 1992, irá às ruas mais uma vez para defender a saída de um presidente Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS


A fonoaudióloga Lisiane Martins Collares, 43 anos, é uma das 56 mil pessoas que, no Facebook, confirmaram presença na manifestação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, marcada para este domingo, em Porto Alegre. Mãe de três filhos, a porto-alegrense tem uma história de militância política desde a juventude: em 1992, aos 20 anos, ela foi um dos milhões de brasileiros que pintaram o rosto e saíram às ruas pedindo a saída do então presidente Fernando Collor de Melo.


Desta vez, embora Dilma não tenha sido diretamente implicada no escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, Lisiane defende o impeachment por considerar a presidente "comprometida" no caso, seja por culpa ou por omissão.

– Os protestos são por transparência, punição e afastamento de todo e qualquer político envolvido, independentemente de partido. Todos, inclusive a presidente e o ex-presidente que a antecedeu, estão comprometidos, assim como os demais coniventes e partícipes deste projeto que está acabando com o Brasil – diz Lisiane, que garante não ter qualquer filiação partidária.

No evento deste domingo, os manifestantes devem concentrar-se a partir das 14h, no Parque Moinhos de Vento. Às 16h, o grupo – estimado pelos organizadores entre 20 mil e 40 mil pessoas – seguirá em direção ao Parque da Redenção. Por questões de segurança, o trajeto só será divulgado no momento da saída dos manifestantes.

Lisiane, que chegou a levar os filhos – Pietro, nove anos, Letícia e Nicole, sete anos – a um dos protestos de junho de 2013, defende a apuração aprofundada das denúncias de corrupção em todas as estatais brasileiras, com a punição severa dos envolvidos, corruptores e corrompidos, independentemente de partidos, cargos e funções que ocupem. Entretanto, rejeita qualquer possibilidade de intervenção militar no país.

– Não sou a favor, em hipótese alguma. Estamos lutando justamente pelo impedimento da instauração de um modelo autoritário de poder. Por que defenderíamos outro? – rechaça.

Intervenção militar na pauta


Entre os manifestantes deste domingo, há quem defenda a interferência das Forças Armadas diante da crise política do país. Indignado com o fato de, por vezes, "não ter ataduras, gazes e outros materiais" necessários às cirurgias, o médico Firmo Krebs Neto, 50 anos, reclama dos investimentos feitos pelo Brasil no porto cubano de Mariel e apoia a ideia de "impeachment universal".

– Devíamos começar tudo do zero, com novas eleições. Gostaria que toda essa gente que está lá em cima agora saísse. Sobre os militares, não seria ditadura, mas intervenção. Não quero ditadura militar, mas sou a favor de o Exército e a Polícia Federal fazerem a segurança do país – conclui.

BM reforçará policiamento
Em razão do temor de conflitos entre opositores e defensores do governo, a Brigada Militar deve reforçar o contingente que acompanhará a manifestação. Na manhã deste domingo, simpatizantes de Dilma farão um protesto irônico, assando e vendendo coxinhas – termo pelo qual se referem, jocosamente, aos opositores –, justamente no Parque da Redenção, local onde se encerrará o ato anti-

Dilma. Sem mencionar números, o comandante do policiamento da Capital, coronel Mário Ikeda, afirma que o contingente policial será "o suficiente para garantir a segurança de todos" e que não haverá tolerância com vandalismo.

Em São Paulo, a polícia reforçará o efetivo para a manifestação marcada para a Avenida Paulista. O jogo entre Palmeiras e XV de Piracicaba foi antecipado para as 11h por medida de segurança.

sexta-feira, 13 de março de 2015

SENSATEZ CONTRA O GOLPISMO



ZERO HORA Atualizada em 12/03/2015 | 03h32


Rosane de Oliveira



Diz um velho provérbio que mais sabe o diabo por ser velho do que por ser diabo. Esse dito popular explica por que homens experientes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro Bresser Pereira e o senador Aloysio Nunes Ferreira não embarcam na canoa do impeachment. FHC, o mais sábio dos tucanos, comparou o impeachment a uma bomba atômica: É feito para dissuadir, não para usar.

O comentário de FHC desencantou parte dos seus admiradores, que não entendem a cautela do ex-presidente e a confundem com tolerância à corrupção, embora ele seja um crítico mordaz do governo. Aos 80 anos, FHC sabe o perigo embutido na precipitação. Pedir o impeachment sem provas de que Dilma tenha cometido crime de responsabilidade é flertar com o golpismo.


FHC é um homem inteligente. Sabe que a defesa precipitada do impeachment pode transformar Dilma em vítima e favorecer a volta de Lula ao poder numa futura eleição. Sabe, também, que se a presidente for impedida, quem assume é o vice, Michel Temer, e não Aécio Neves, como imaginam sociólogos de almanaque e cientistas políticos de Facebook.

Com elegância, FHC responde, 16 anos depois, à desastrada proposta do petista Tarso Genro, que em artigo na Folha de S.Paulo pregou a renúncia dele, presidente recém reeleito, porque o governo enfrentava uma crise de credibilidade.


Por ser experiente, FHC sabe também que as circunstâncias hoje são muito diferentes das de 1992. Fernando Collor caiu sem que ninguém o defendesse porque não tinha base social nem política. Dilma está desgastada, sim, mas conserva o apoio de setores importantes do movimento social e sindical. Em caso de ruptura democrática, esses grupos podem parar (ou incendiar) o país. Com a autoridade de ex-presidente, FH pode ajudar a desarmar os espíritos e evitar uma guerra civil.

BOATARIA CRIMINOSA



DIÁRIO GAÚCHO 12/03/2015 | 18h33


Opinião




Antônio Carlos Macedo




O momento de tensão política vivido pelo Brasil serve de terreno fértil para a disseminação de boatos criminosos, que buscar instalar pânico entre as pessoas. Nesta quinta-feira, nossa redação recebeu vários telefonemas de leitores assustados com mensagens de áudio que receberam via WhatsApp. Nelas, desconhecidos recomendam armazenar comida e combustível porque o caos será instalado no país. "Na floresta amazônica, descobriram guerrilheiros com 20 mil armas", diz a voz de uma mulher. "Se eles tem isso lá, imaginem o resto", acrescentou, justificando que foi avisada por uma amiga que tem um tio que é tenente da inteligência do Exército. Suas "informações privilegiadas" também apontariam para um possível confisco da poupança. Em outra dessas mensagens, um homem com sotaque carioca se identifica como o ex-soldado Carvalhal, agora sargento Ferreira. Ele também recomenda guardar mantimentos para se garantir diante uma intervenção federal apoiada por "países vizinhos a favor do comunismo que desejam implantar no Brasil". Segundo ele, "tropas inimigas" já estariam aquarteladas em território nacional.


Amigos, por favor, não se deixem enganar. É tudo mentira. Invenção de irresponsáveis interessados apenas em gerar medo e instabilidade. Coisa de incendiário disposto a ver o circo pegar fogo. Não acredite nesse tipo de coisa. Não há motivos para estocar comida ou combustível. Não há razão para tirar dinheiro do banco. Mantenha a calma e ignore a boataria. Continua agindo normalmente. Na dúvida, procure orientação apenas em fontes de reconhecida credibilidade. E, por favor, evite repassar essas bobagens para parentes e amigos. Não sirva de inocente útil para cretinos. É tudo o que eles desejam.


 Colunista do Diário Gaúcho escreve sobre a onda de boatos que circulou nesta quinta-feira nas redes sociais

BOATOS SOBRE GUERRA CIVIL VIRALIZAM NAS REDES SOCIAIS

ZERO HORA 12/03/2015 | 19h27

por Cristiane Bazilio

Em meio a protestos, boatos sobre guerra civil viralizam nas redes sociais. Repudiados pelo Exército, áudios compartilhados no WhatsApp falam em estoque de comida e combustível como preparação para uma guerra iminente



Foto: Justin Sullivan / AFP / zero hora

Mais do que mobilização política e social, as manifestações que devem movimentar o Brasil neste fim de semana estão gerando preocupação e medo em muita gente, diante de boatos que se espalharam pelo whatsapp e viraram tema de debate nas redes sociais nos últimos dias. Através de mensagens de áudio que viralizaram, pessoas anunciam uma guerra civil e orientam a estocar alimentos e evitar sair de casa.

Pelo menos três tipos de gravações diferentes circulam com o mesmo teor: o Exército Brasileiro estaria mobilizado para enfrentar a guerra. São várias versões do mesmo boato, com diferentes vozes. A maioria anônima. Em alguns casos, são citados nomes ou cargos referentes ao Exército. Em uma das mensagens, um homem se diz militar e alerta: "A segunda seção (setor de inteligência) está trabalhando descaracterizada. Está para estourar uma guerra no país. Já tem informe de tropas inimigas dentro do território nacional".


Em outra gravação de voz, uma mulher afirma que a amiga tem um tio, tenente do Exército, que teria dado um aviso para que as pessoas abastecessem as casas e estocassem tudo o que fosse preciso, de alimento a combustível. "Porque, no dia 15, eles querem trancar tudo. Descobriram, na Floresta Amazônica, um grupo de guerrilheiros com 20 mil armas. Estão prevendo uma guerra civil", diz a mulher na gravação.


Até a poupança dos brasileiros virou alvo nas mensagens. "Há rumores de que vão fazer como naquela época (na década de 1990, o chamado Plano Collor bloqueou as poupanças) e tirar todo o dinheiro da nossa poupança. Então, vamos nos prevenir", orienta a voz feminina.

Exército analisa gravações e nega boatos

Todas as gravações dizem que o Exército Brasileiro estaria de prontidão para a suposta guerra. No entanto, não há nenhum indício da veracidade do conteúdo veiculado por estas mensagens. Não há confirmação de identidade de nenhuma das fontes mencionadas nos áudios nem prova das informações divulgadas.

O Diário Gaúcho entrou em contato com a assessoria de comunicação do Exército Brasileiro, que analisou as gravações e, em nota oficial, esclareceu: "A Força Terrestre faz o acompanhamento da conjuntura nacional, bem como permanece em constante preparo para manter elevados níveis operacionais, com a finalidade de cumprir suas missões constitucionais. Ressalta-se ainda que os áudios veiculados nas mídias sociais não têm origem no Exército Brasileiro", diz a nota.

Rotina de serviços públicos não deve ser alterada

Apesar dos protestos deste final de semana em Porto Alegre, a rotina da Capital não deve ser alterada, no que diz respeito a serviços públicos. A reportagem fez contato com órgãos de saúde, educação, transporte e comércio e foi informado de que não deverão ocorrer modificações nos horários e cronogramas normais de atividades. Confira:

* Conforme a secretaria de Saúde, postos médicos e hospitais deverão funcionar normalmente nos horários habituais

* Nesta sexta-feira, as aulas das escolas municipais também serão inalteradas, segundo a secretaria de Educação.

* Os consórcios Unibus, Conorte e STS vão operar normalmente, segundo a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATL), sem alteração na quantidade de ônibus nas ruas nem nos intervalos. O mesmo acontecerá com a Carris.

* Lotações manterão horários e itinerários, conforme a Associação dos Transportadores de Lotação (ATL)

* Os shoppings da Capital funcionarão em horário normal, bem como o comércio das ruas, segundo o Sindilojas.

* Bancos terão expediente normal nesta sexta-feira, de acordo com a Associação dos Bancos no Estado do Rio Grande do Sul * A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) informou que não há modificações pré-estabelecidas para o trânsito e que eventuais desvios momentos serão feitos de acordo com o rumo dos manifestantes.

quinta-feira, 12 de março de 2015

O DIREITO DE NÃO TER LADO



ZERO HORA 12 de março de 2015 | N° 18099



RODRIGO MUZELL*



Por esta eu não esperava. Depois de anos vivendo em um país que penou para reaprender a deixar todo mundo dizer o que pensa, sofremos agora o cerceamento em um direito que nem sabíamos ser fundamental: ser ponderado.

Entre dois domingos de protestos contra o governo, estamos em uma semana na qual é quase impossível ser razoável. Se eu digo que é óbvio que roubos na Petrobras sempre existiram, mas que está na cara que a situação degringolou no governo petista, sou massacrado pelos governistas. Se digo que é estupidez pedir impeachment – porque dissolver o Executivo colocaria o país nas mãos de um Congresso cujos presidentes são investigados por corrupção –, sou execrado pelos oposicionistas.

O debate político entre as torcidas organizadas Geral do Impeachment e Camisa Dilma (obrigado ao meu amigo Igor Natusch pela nomenclatura) exige que todos tenham lado. Quem não tem filiação é medroso, quem critica um dos lados mas garante não ser de lado algum é mentiroso. Desistiram de qualquer debate – inclusive de discutir o que é mesmo pensar de forma independente.

Não é por acaso que “golpe” seja uma palavra tão associada a “impeachment”. Assim como nos anos 60, o diálogo está empobrecendo, quase sumindo. Na época, o medo do comunismo era o rótulo usado para resumir tudo. “Quer reforma agrária? Comunista!”. Hoje, é o repúdio à corrupção. “Quer cautela antes de chamar a presidente de ladra? Safado!”. E por aí vamos, rede social e WhatsApp afora, com gritarias de parte a parte.

A coisa está tão grave, que dá vontade de aplaudir até aquelas ações cheias de segundas intenções. Exemplo: a postagem no perfil de Dilma de um card no qual a presidente, sob a imagem de uma simpática panela, lembra que protestar é direito de todos e deve ser respeitado. Claro que há cálculo político: mostrar grandeza depois que seus militantes passaram três dias ironizando o “protesto coxinha”. Mas também há sensatez em tentar diminuir ânimos. Do outro lado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso critica a presidente até a raiz dos cabelos, mas lembra que impeachment é loucura. É pouco, mas de comemorar, nesta época difícil de dizer a verdade sem ter de sair correndo.

Lembro de quando era difícil ser radical. Agora, o desafio é ser ponderado. Não lembro de nenhuma época na História em que isso tenha dado muito certo.

*Jornalista, editor de Notícias/Digital rodrigo.muzell@zerohora.com.br

OS LIMITES DAS MANIFESTAÇÕES



ZERO HORA 12 de março de 2015 | N° 18099


EDITORIAL


Se respeitados os requisitos da civilidade, os brasileiros terão a chance de oferecer, com as passeatas desta semana, mais uma contribuição à democracia.


Bater panelas, vaiar governantes, ir às ruas para defendê-los ou para criticá- los, tudo isso está assegurado pela Constituição e contribui para o vigor da nossa democracia. Assim como as redes sociais, ruas e praças também são espaços adequados para a população se manifestar – desde que, em todas essas plataformas, os limites sejam observados. E não pode haver dúvida de que o limite do direito de manifestação é o respeito a quem pensa diferente. Bloquear o trânsito, invadir prédios públicos e depredar patrimônio alheio são atos inaceitáveis. O país aprendeu, a partir das passeatas de junho de 2013, que todos os excessos serão condenados, como os atos de vandalismo que se repetiram há dois anos em muitas capitais.

As mobilizações marcadas para esta semana têm uma característica que as diferencia dos atos de quase dois anos atrás, quando os brasileiros realizaram os primeiros movimentos públicos de massa do século 21. Desta vez, está claro, nas convocações feitas pelos articuladores das passeatas, que apoiadores do governo, de forma declarada ou implícita, organizam as manifestações previstas para hoje e para amanhã. Sindicalistas, ONGs e outras entidades pretendem levar às ruas defensores das conquistas sociais, dos direitos trabalhistas e da Petrobras, sob o argumento de que é preciso preservar avanços dos últimos anos.

Não importa se tais manifestações são ou não articuladas por setores vinculados ou simpáticos ao Palácio do Planalto, mas que todos exerçam o direito de expressar posições. Assim como não cabem restrições ao fato de que as passeatas previstas para o dia 15 terão eventual apoio de partidos oposicionistas. As populações de cada Estado levarão às ruas também suas peculiaridades, num momento de instabilidade econômica, ética e política. Por isso, é natural que, neste contexto de insegurança com o futuro do país, os brasileiros expressem apreensão e descontentamento, de um lado, e que tal postura seja confrontada com as dos que pretendem tornar pública a confiança nos governantes.

A democracia brasileira já amadureceu o suficiente para permitir a convivência pacífica de contrários, mesmo em momentos de evidente tensão, como o que estamos vivendo. Espera-se que as lideranças envolvidas nas mobilizações, os participantes dos atos e as autoridades encarregadas de assegurar as condições à livre manifestação ofereçam de fato mais uma contribuição à democracia, desde que observados os requisitos do respeito à opinião alheia, da segurança e da civilidade.

quarta-feira, 11 de março de 2015

OS GOLPISTAS ENCABULADOS



ZERO HORA 11 de março de 2015 | N° 18098


MOISÉS MENDES




O Brasil não será o mesmo depois das passeatas desta semana.

A primeira, do dia 13, anuncia-se como uma mobilização pela Petrobras e pelas conquistas sociais. A segunda, do dia 15, se propõe a combater a corrupção e, no que está subentendido, mas não fica claro, também pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O Brasil se divide ao meio de novo, mas algumas coisas devem ser melhor explicitadas. Nomes que refugam a tese do impeachment já mostraram a cara, sem volteios. Falo de reputações acima de partidos, como Bresser Pereira, Ricardo Semler, Luis Fernando Verissimo, Leonardo Boff.

Mas quem, do outro lado, defende o impeachment, além de Bolsonaro e de militantes das redes sociais? Quem, entre intelectuais, jornalistas, articulistas conhecidos – entre os tais formadores de opinião – diz claramente que é pela interrupção do segundo mandato de Dilma?

Quem, sem subterfúgios, sem enrolação, sem atribuir pontos de vista aos outros, sem medo de correr riscos, sem a conversa fiada de que é contra tudo o que está aí, diz abertamente que defende o impeachment e a passeata do dia 15 pelo fim deste governo?

É difícil. Há, entre os articuladores do impeachment, um acovardamento que envergonharia os lacerdistas, seus ancestrais golpistas dos anos 50. É constrangedora a falta de desprendimento dos que deveriam dizer que não suportarão os quatro anos do segundo mandato e que o grande sonho do revanchismo é fazer o governo sangrar até o impeachment ou a renúncia de Dilma.

O golpe está apenas nas entrelinhas do discurso. Por isso, esta é uma semana para não esquecer. É agora que os indecisos, se é que existem, escolhem a sua passeata, ou ficam em casa vendo a banda passar.

Surge, então, aquele temor de que em algum momento, ou por um dia, ou para sempre você poderá estar, diante de uma questão essencial, alinhado a uma certa gente estranha. São os riscos das livres escolhas.

Posso estar errado, mas erro com convicção. Decidi seguir a turma dos já citados lá no começo, com os quais nunca teria grandes estranhamentos.

Estou com Bresser-Pereira, Leonardo Boff, Luis Fernando Verissimo e Ricardo Semler. Não cheguei (e espero não chegar nunca) a uma situação extrema que me faça alinhado com o Bolsonaro.