A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O PANELAÇO ARGENTINO





ZERO HORA 12 de novembro de 2012 | N° 17251

EDITORIAIS

A insatisfação dos argentinos, expressa recentemente em protestos de milhares de pessoas em Buenos Aires e outras cidades, já não está restrita a opositores da presidente Cristina Kirchner. O que o panelaço evidenciou é que o populismo autoritário da presidente, com restrições às liberdades individuais, perseguição à imprensa e intervenção na economia, pode estar chegando ao limite. Cristina reelegeu-se, no ano passado, num momento de prosperidade econômica e, quando o país passou a enfrentar dificuldades, dobrou-se ao peso do cargo. Não manteve a postura de estadista e, diante da natural posição crítica da imprensa independente, passou a retaliar veículos que não fossem aliados.

Com a mesma intenção, decidiu destinar fartos recursos da publicidade governamental a órgãos de comunicação que a apoiam sem restrições. Mesmo assim, e apesar do apoio subserviente de aliados que se transformaram em propagandistas da Casa Rosada, a população reage. É frustrante para os que, mesmo fora da Argentina, chegaram a torcer para que a reeleição consagradora da peronista se traduzisse em benefícios internos e em melhorias nas relações do país com os vizinhos. Ocorreu o contrário, e hoje a herdeira política do próprio marido se ocupa da administração de conflitos com os mais diversos setores da sociedade.

É previsível que o desencanto tenha contagiado inclusive antigos aliados do partido e até seus eleitores. Cristina e seus assessores se mostram incapazes de conter a insatisfação com o constante aumento dos preços, as restrições à compra de moedas estrangeiras, a estagnação econômica e as denúncias de corrupção. Cresce igualmente, como decorrência da instabilidade econômica e seus danos sociais, a insegurança nas cidades, um fenômeno do qual a Argentina estava livre até bem pouco tempo atrás. Ao tentar amordaçar a imprensa e camuflar esse cenário, o governo recorre a uma tática que pode ter efeitos imediatos, mas que é incapaz de manter manipulações por muito tempo.


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