A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

PROTESTO DOS TRANSPORTES, GOVERNO ENDURECE E MANDA MULTAR



ZERO HORA 27 de fevereiro de 2015 | N° 18086

GUILHERME MAZUI RBS BRASÍLIA

RODOVIAS ECO DOS PROTESTOS
. GOVERNO MANDA PRF MULTAR. ENDURECE O DISCURSO CONTRA CAMINHONEIROS paralisados com a cobrança de até R$ 10 mil por hora de quem continuar bloqueando estradas. Motoristas multados terão nomes enviados à Justiça paraa cobrança de valores pelo descumprimento das ordens judiciais


Depois de apresentar uma proposta ignorada por milhares de caminhoneiros, em especial no sul do Brasil, o governo federal reagiu com rigidez: anunciou multas de até R$ 10 mil por hora para cada motorista que mantiver os bloqueios nas estradas.

A medida foi comunicada ontem pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um dia após o Planalto negociar com líderes do movimento uma série de medidas para liberar as rodovias. Apesar de insistir que firmou um acordo – houve redução das barreiras em alguns Estados –, o governo reforça sua atuação judicial para evitar uma crise de desabastecimento.

Cardozo informou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) vai multar os caminhoneiros parados nas estradas. A Advocacia-Geral da União (AGU) deve acelerar o registro das infrações de trânsito para identificar e cobrar nos tribunais multas de quem descumprir as ordens judiciais de desbloqueio. No caso judicial, as multas variam de R$ 5 mil a R$ 10 mil por motorista.

Firmes no discurso do acordo, assessores da presidente Dilma Rousseff admitem dificuldades e erros na negociação. O Planalto não estava preparado para a eclosão dos bloqueios, demorou a reagir e ainda carece de interlocutores com um movimento marcado por lideranças pulverizadas. Persiste o temor de que se consolide o discurso que vincula a alta dos combustíveis à corrupção na Petrobras.

Na quarta-feira, depois de mapear sem sucesso os principais nomes das paralisações, negociaram ministros, empresários e caminhoneiros. Da conversa saiu a proposta de conceder um ano de carência nos financiamentos de caminhões em programas federais, criar uma mesa para debater um valor referencial para o frete e sancionar sem vetos a Lei dos Caminhoneiros, que isenta de pedágio veículos vazios e estende a jornada de trabalho. As ações serão efetivadas com o final dos bloqueios.

A concordância anunciada foi firmada por 11 representantes de sindicatos e confederações, nenhum do Rio Grande do Sul ou Santa Catarina, Estados onde os bloqueios se intensificaram. Assinaram membros de instituições nacionais e sindicatos de Goiás, São Paulo e Paraná, parte ligada ao PT.

– Juntaram só os sindicatos amigos do PT e anunciaram um acordo que não existe – criticou Ivar Schmidt, do Comando Nacional do Transporte, que não endossou a ata e promete manter os bloqueios.

Além de Ivar, o comando é formado pelos caminhoneiros Márcio José Correa e Celso Dalbosco. O WhatsApp virou ferramenta para bloquear rodovias. Em gabinetes de deputados ou na tentativa de uma agenda no Planalto, eles passaram a quinta-feira em contato com colegas parados pelo Brasil.

Sem disposição para reduzir o preço do diesel, a equipe de Dilma mira no preço do frete a melhor maneira para acalmar os ânimos. Em 10 de março, o governo mediará uma primeira reunião entre empresas e caminhoneiros para estabelecer uma referência de valor.




Lei na contramão

A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) criticou a decisão do governo de sancionar sem vetos a Lei dos Caminhoneiros, na tentativa de colocar fim à mobilização da categoria. Para a entidade que representa as concessionárias de rodovias, se aprovada como passou pelo Congresso, a lei vai gerar “estradas com mais acidentes, pedágios mais caros, fretes mais elevados e aumento dos preços dos produtos transportados”. Sobre a liberação de pedágio para caminhões vazios ou com um eixo suspenso, a ABCR afirma que provocará alta da tarifa para todos os usuários, “como forma de manter viabilidade das concessões de rodovias”.




Passeata pacífica

Insatisfeitos com o acordo encaminhado com o governo federal, cerca de cem caminhoneiros autônomos fizeram uma passeata pacífica no início da tarde de ontem no cais do porto de Santos. O protesto foi organizado pelo sindicato local da categoria, que afirma não ter apoiado um provável entendimento com o governo federal.

Em São Paulo, na Ceagesp, maior entreposto de hortigranjeiros da América do Sul, parte das mercadorias, especialmente frutas de outros Estados, tem chegado com atraso aos atacadistas. Os problemas também afastaram os consumidores. Vendedores e carregadores reclamaram do movimento fraco durante o dia de ontem.


Sem acordo, movimento ganha força em rodovias no Estado

JOANA COLUSSI


No dia em que havia a expectativa de fim dos protestos de caminhoneiros no país, após o governo apresentar propostas à categoria, a mobilização ganhou força no Estado. Tradicional ponto de concentração de caminhoneiros, Três Cachoeiras, no Litoral Norte, protagonizou a resistência dos motoristas em voltar às estradas após o aumento do preço do óleo diesel e do custo do transporte. Sem acordo para liberar o tráfego de caminhões na BR-101, mais de 4 mil caminhoneiros seguiam concentrados às margens da rodovia e dentro da cidade de 11 mil habitantes.

Desde terça-feira, veículos de carga ocupam o acostamento e uma das faixas, liberando apenas a passagem de carros de passeio, ônibus e cargas hospitalares. Ontem pela manhã, após decisão judicial, motoristas foram avisados de que teriam de desocupar as margens da rodovia, sob pena de serem multados. Quando os primeiros caminhões tentaram sair, manifestantes impediram a passagem no quilômetro 25 da rodovia, entrando em conflito com agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

– Tentamos um acordo para liberarem os caminhoneiros que quisessem seguir viagem, mas não tivemos sucesso – disse Alexandre Boff Bergamaschi, chefe da 3ª Delegacia da PRF.

Sem a identificação de líderes, a manifestação foi mantida por caminhoneiros que afirmam não fazer parte de sindicato e estarem unidos em defesa da categoria.

– Vamos continuar na luta, a nossa causa é justa, não temos condições de continuar na estrada desse jeito – reclama Tadeu Américo, 53 anos, de Sombrio (SC).

Para dar apoio à PRF, a Força Nacional de Segurança Pública deslocou equipe para o Rio Grande do Sul. Até ontem à noite, a PRF não havia solicitado intervenção da tropa, e a rodovia seguia com quilômetros de congestionamento no sentido para Porto Alegre.

Conhecida como a cidade dos caminhoneiros, Três Cachoeiras está acostumada com protestos de motoristas e reforça a paralisação com ajuda de moradores. Ao meio- dia e à noite, a prefeitura garantiu alimentação aos motoristas no salão paroquial. Banheiros públicos e de casas foram oferecidos para caminhoneiros e familiares. A segurança na cidade foi reforçada por oito viaturas da Brigada Militar deslocadas da Capital.

Conforme levantamento do fim da tarde de ontem, havia concentrações em 60 pontos de rodovias federais e estaduais no Estado.

Três Cachoeiras


AÇÃO E REAÇÃO
MULTA
Será aplicada multa de R$ 5 mil a R$ 10 mil por hora para cada caminhoneiro que tiver seu caminhão em situação irregular nas estradas.
INQUÉRITO
Conforme o Ministério da Justiça, serão investigadas denúncias de que empresários incentivam o movimento.
REAÇÃO
O Comando Nacional do Transporte registrou nota no Planalto lamentando a criminalização do movimento. “Não é aplicando multas que as coisas vão se resolver”, informa o documento.

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