ZERO HORA 18 de junho de 2016 | N° 18559
INFORME ESPECIAL | Tulio Milman
A FAVOR DAS OCUPAÇÕES
Que sejam muitas e em muitos lugares – físicos, imaginários, simbólicos. Que sejam afirmativas, completas e profundas. Na levada neomessiânica, cada um tem sua receita para o Brasil. A minha: ocupar. É disso que a pátria precisa. Sobram espaço e urgência no país em que o inferno é sempre o outro, mas a filosofia é de banheiro.
E cheira mal.
A culpa é do governo, dos políticos, do vizinho. Apontar o dedo é catarse de consolação. A tensão do contrário se confunde com alimento. Mas é veneno.
Nos últimos dias, movimentos coordenados catapultaram a tal palavra defendida ao topo das manchetes: escolas, coordenadorias de Educação, Secretaria da Fazenda, prédios públicos.
Chamam de ocupação. Voltarei ao conceito na última linha. Me acompanhe até lá. É um convite. Antes, a solução:
Presidente: ocupar o vazio da eficiência de gestão e do governo para o bem comum.
Estado: ocupar a esperança roubada pelo tráfico nas periferias.
Jornalistas: ocupar o espaço da análise e da compreensão antes do julgamento apressado.
Professores: ocupar suas salas de aula e construir, com os alunos, o futuro do qual tanto se fala.
Pais: ocupar a lacuna do limite e da presença.
Cidadãos: ocupar o semiárido da convivência ética e civilizada.
Motoristas: ocupar as ruas e estradas com espírito de defesa da vida e não da conquista de espaço.
Médicos: ocupar postos de saúde para cumprir não só seus horários, mas seus juramentos.
Políticos: ocupar a vida pública pensando no coletivo.
Poderia ir além. Mas minha certeza está saciada.
Os exemplos acima me encheram a barriga. Não foram escritos só para os outros. Tem autocrítica na receita.
Em boas doses.
É tão óbvio: se cada um ocupasse seu espaço, ninguém precisaria invadir o do outro.
E nem confundir, de propósito, as duas coisas.
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