ZERO HORA 04 de junho de 2016 | N° 18547
EDITORIAL
Há indícios claros de que o país tem potencial para reagir e para superar este período de estagnação política, econômica e moral.
O país passa por um dos momentos mais angustiantes de sua história: denúncias incessantes de corrupção atingem a alta administração, tanto do governo afastado por improbidade e incompetência quanto do que se instalou no poder a partir da admissibilidade do processo de impeachment; o governo interino promete austeridade e novos tributos, mas gasta o que não tem com reajustes e contratações de servidores públicos; os cidadãos não se sentem representados pela classe política, que, com raras exceções, faz por merecer esse descrédito; a crise econômica não arrefece, provocando inflação, desemprego e fechamento de empresas; e os serviços públicos essenciais se deterioram visivelmente, com escandalosas carências na área da saúde, caos na segurança e perda de qualidade na educação, nestes últimos dias ainda mais comprometida pelas greves e ocupações de escolas. Até parece que essa tempestade perfeita não vai passar nunca.
Mas haverá de passar. Há indícios claros de que o país tem potencial para reagir e para superar este período de estagnação política, econômica e moral. Vamos a eles. Mesmo nesse ambiente degradado de delações, traições, prisões e manifestações, as instituições democráticas estão funcionando e os conflitos de ideias e ideologias vêm sendo debatidos de maneira relativamente pacífica. Nunca, como agora, tivemos um Judi- ciário e um Ministério Público tão fortes e atuantes na investigação e na punição dos corruptos e corruptores que arruinaram a nação. Também o Legislativo opera com legitimidade e independência, ainda que parte de seus membros esteja contaminada por práticas pouco republicanas. Além disso, as pessoas desfrutam ampla liberdade para se manifestar e a imprensa vem cumprindo o seu papel de fiscalizar o poder público em nome da sociedade.
Há, portanto, plenas condições para uma reação firme e consequente.
Motivos não faltam. Agora mesmo, nossos representantes no Congresso, com a chancela do novo governo, acabam de aprovar um pacote de projetos que cria mais de 14 mil cargos federais e aumenta vencimentos de 38 carreiras do funcionalismo público, em evidente contraste com o déficit público, o compromisso com a austeridade e a imposição de novos sacrifícios à população.
Da mesma forma como saíram às ruas para protestar contra a corrupção e contra os desmandos da administração anterior, os brasileiros têm o dever de reagir aos erros do governo provisório com um sonoro e rotundo “não”.
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