ZERO HORA 26 de fevereiro de 2013 | N° 17355
EDITORIAIS
Parcela expressiva da população brasileira não aceita o senhor Renan Calheiros como presidente do Senado, cargo para o qual foi eleito por seus pares pela terceira vez no início deste mês. Pessoas que discordam desta escolha, por julgar que o senador alagoano não tem condições morais para comandar o Congresso Nacional, participaram de uma mobilização nas redes sociais e tentaram levá-la às ruas no último final de semana. Embora tenham ocorrido atos de protesto em 33 cidades brasileiras e até no Exterior, a presença de público foi infinitamente inferior ao 1,6 milhão de assinaturas recolhidas na petição virtual encaminhada ao Senado com o propósito de dar início a um processo de cassação. Na prática, o manifesto eletrônico não tem qualquer base legal para uma análise do Conselho de Ética e os protestos de rua foram pouco significativos para convencer os parlamentares a revisar a decisão.
Fica, porém, uma mensagem clara: os cidadãos brasileiros, armados pelas novas ferramentas tecnológicas e estimulados pelo recente julgamento do mensalão, não estão mais dispostos a tolerar a política do jeitinho, das articulações pouco transparentes e do uso da função pública em benefício próprio. A reação contra Renan Calheiros não é gratuita. Em 2007, ele renunciou à presidência do Senado para não ser cassado após a revelação de relações suspeitas com uma empreiteira, que pagava a pensão de sua filha. Desde então, embora tenha mantido o mandato por decisão de seus pares, Renan Calheiros passou a contar com severa oposição, o que, num ambiente de total domínio da base governista, que ele integra, não impediu sua reeleição para a presidência da Casa.
Lá, ao que tudo indica, ele vai ficar até o final do seu mandato de dois anos – a não ser que fatos novos determinem uma mudança de rumo. Para atenuar a reação contrária, Renan Calheiros anunciou na semana passada que implementará no comando do Congresso uma administração baseada em quatro pontos principais: austeridade, transparência, racionalização de gastos e defesa intransigente da liberdade de expressão. Resta conferir se as bondades anunciadas resultarão em ações efetivas.
Quanto à liberdade de expressão, é bom que o senador alagoano e os políticos brasileiros em geral passem a considerar também a voz dos internautas, pois essa é uma manifestação inequívoca do pensamento dos cidadãos com acesso aos computadores. Ainda que no caso referido a correspondência entre uma e outra tenha sido decepcionante, a voz da rede pode, sim, se transformar em voz das ruas, como já ocorreu em outras situações e em outros países. Independentemente do seu formato, porém, o importante é que as manifestações por honestidade e transparência na política sejam percebidas pelos governantes e pelos parlamentares escolhidos democraticamente para representar os autores dessas mensagens, sejam eles o contestado senador ou outros que lhe dão sustentação.
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