Palácio de São Bento - "A Prudência". Lisboa, Portugal
EDITORIAL
Cabe ao poder público fazer a sua parte. Mas fazer mesmo, sem escamoteações. Diminuiu muito a margem para os governantes lenientes e para os servidores relapsos.
Passada a primeira semana de comoção pelo dramático episódio de Santa Maria, o país precisa transformar a dor, a revolta e a indignação em ações pragmáticas destinadas a efetivamente assegurar um futuro melhor para seus jovens. Talvez precisemos de décadas ou mesmo de séculos para alcançarmos o estágio cultural de povos orientais que priorizam a educação, a ética e o cumprimento rigoroso das normas sociais, mas, enquanto isso não ocorre, podemos adotar medidas pontuais que assegurem avanços na segurança, na ordem pública e na preservação dos valores da vida _ independentemente da investigação policial em curso e das propostas de mudanças na legislação.
A questão mais premente no momento é a vistoria geral das casas noturnas e dos locais de grande afluência de público, para que não se repitam as condições de negligência que provocaram o desastre do dia 27 de janeiro. Entre as medidas esperadas e indispensáveis, está o cumprimento pelos empresários de todas as exigências da legislação e dos órgãos públicos responsáveis pela autorização de funcionamento de tais casas. Como diz o antigo ditado, quem não tem competência que não se estabeleça. Chega de tapeação, de puxadinhos, de transformar locais de diversão em armadilhas. Tais atitudes, invariavelmente motivadas pela ganância, tornaram-se ainda mais intoleráveis depois dos traumáticos acontecimentos de Santa Maria. E são criminosas _ não há mais como relevar isso.
Cabe ao poder público fazer a sua parte. Mas fazer mesmo, sem escamoteações. Diminuiu muito a margem para os governantes lenientes e para os servidores relapsos. Se quisermos realmente construir um país mais prudente em relação à segurança de seus cidadãos, temos que começar a levar a sério detalhes legais e técnicos que nem sempre são observados. E os órgãos fiscalizadores e autorizativos não devem ser apenas mais rigorosos. Precisam, também, ser mais ágeis, superar a burocracia sem desconsiderar as normas. É assim que funciona uma administração pública eficaz.
O comportamento dos cidadãos também precisa ser revisado. Não que ele deva se sentir culpado ou responsável por estar no momento errado na hora errada, como costumam alegar agentes públicos quando ocorre alguma desgraça, normalmente com o propósito de desviar o foco de suas próprias falhas. O cidadão tem o direito de se divertir, tem o direito de andar na rua com segurança, tem o direito de viver sem ser constantemente ameaçado pela violência dos delinquentes ou pela incúria de seus representantes. Mas tem também o direito _ e o dever _ de fiscalizar o Estado, de exigir qualidade nos produtos e serviços que recebe, de denunciar o que está errado e de ser atendido nas suas demandas.
O caminho da prudência passa pelo exercício pleno da cidadania.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não concordo que "o caminho da prudência passa só pelo exercício pleno da cidadania", já que cidadania é basicamente é um conjunto de direitos ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive, muito ligado a direitos políticos. Os defensores da "cidadania" no Brasil conseguiram exilar o "civismo", somando direitos e deveres como questão de cidadania e desprezando a importância do "espírito cívico" que enaltece os deveres e fomenta a defesa do interesse público, o respeito às leis e às autoridades constituídas e os sentimentos de solidariedade, de ética e de moral, tudo o que falta no Brasil de hoje e que poderia mobilizar a nação contra os saques ao erário, contra impostos abusivos e contra o descaso na saúde, na educação e na segurança. A prudência ensina dominar vários pontos de vista, especialmente aqueles que estão longe da nossa perspectiva e dos quais dependemos para conviver em sociedade.
NOTA: Prudência em São Bento, Atenta, a Prudência toma consciência do espaço à sua volta. Observando à sua frente e nas suas costas, domina os vários pontos de vista para conhecer o que se passa — ou passou — prevenindo a surpresa ou a traição. Depois julga as ações, fazendo a distinção entre atos de coragem ou de covardia. A Prudência não executa ações. Associada à razão, ao conhecimento, à introspecção e à sabedoria, regula as restantes Virtudes (Temperança, Justiça e Força). http://1825.in/Prudencia-em-Sao-Bento
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