A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 8 de setembro de 2013

A POLÍTICA ESTÁ ENTRANDO NA VIDA DAS PESSOAS

O ESTADO DE S.PAULO 07 de setembro de 2013 | 15h 31

Análise

Maria Aparecida de Aquino, professora do Departamento de História da USP


O poder de apelo das redes sociais é fenômeno novo, que não é brasileiro, é mundial. Para ficarmos só no exemplo mais conhecido, a Primavera Árabe também foi organizada via internet. O que nos cabe fazer, hoje, é perguntar por que as pessoas atendem a esses chamados das redes.

Tenho uma história de participação no passado, de luta sindical, e me lembro dos convites do tipo "você aí parado, também é explorado!" As pessoas viam as manifestações, mas não aderiam. E agora, de certa forma, estão aderindo. As transformações tecnológicas criam mudanças por toda parte e não podemos deixar de atentar para esse mundo novo e tentar entender o que ele representa.

Esse fenômeno se mescla com outro que cabe considerar - uma forte revisão da historiografia que, nas últimas décadas, faz uma reavaliação da história do Brasil. Trata-se de algo que ocorre, também, em outras regiões do mundo, como a Europa e os Estados Unidos. Versões únicas da História, como a de considerar a chegada dos portugueses como o "descobrimento" do Brasil, ou pensar que a nossa independência precisaria ser feita por um herdeiro da Coroa portuguesa que levantou a espada e gritou "independência ou morte", têm sido vigorosamente contestadas por esse novo modo de entender e escrever a História. E esse modo de entender não mais se limita à versão dos vencedores.

Tomemos o simples exemplo da nossa independência, comemorada neste Sete de Setembro. Foi um episódio comandado, literalmente, pelo herdeiro da Coroa Portuguesa - algo como contratar a raposa para tomar conta do galinheiro, se cabe aqui uma avaliação mais coloquial. Quando isso se dá, escamoteiam-se, de modo cruel, todas as manifestações populares pela independência já feitas antes. Para mencionar as mais significativas, a Inconfidência Mineira em 1789, a conjuração baiana de 1798, a revolução pernambucana de 1817 - movimentos que não só mostravam o desejo de independência mas também já continham o ideal republicano.

O que se tem é este Sete de Setembro, uma data feita para escamotear o real processo de independência do povo brasileiro e sua presença efetiva nos movimentos sociais. Talvez se possa dizer que o Brasil que agora vai às ruas quer acabar com as histórias da carochinha - as de antes e de agora.

Com ajuda dessa nova historiografia, que já marca presença nos livros didáticos, o País vem construindo um processo que vai contra a maré do "ter vergonha de ser brasileiro". O Brasil ganha espaço, como os outros países emergentes. É convocado para todos os grandes fóruns mundiais. Somos neste início do século 21 uma nação que importa no contexto internacional.

Não acho que daqui a 30 anos essas redes sociais sejam vistas como o grande fenômeno do começo do século 21. Mas elas vieram para ficar, e isso é algo que não podemos deixar de considerar. É preciso entender seu significado, como elas podem ajudar a melhorar as condições do povo brasileiro. Graças a elas, pessoas sem participação ou vinculação partidária de repente estão em passeatas. Essas redes nos informam que a política está entrando na vida das pessoas.

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