A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

RISCOS DE UM NOVO CONFRONTO

ZERO HORA 29 de março de 2013 | N° 17386


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA

As imagens gravadas pelas câmeras da prefeitura e dos veículos de comunicação não deixam dúvida: o que ocorreu na quarta-feira não foi uma manifestação pacífica, muito menos espontânea, como tentou convencer um dos líderes do movimento. Armados com taquaras, pedras, paus e bolinhas de gude para atirar nos vidros, os rapazes e moças (alguns usando toucas ninja para não serem reconhecidos) ultrapassaram a barreira da legalidade. Foi depois de analisar essas imagens que o prefeito José Fortunati procurou o Ministério Público para entregar uma notícia-crime e pediu a adoção de todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis ao completo esclarecimento dos fatos e a apuração de responsabilidades.

Em entrevista coletiva e também pelo Twitter, Fortunati repudiou a depredação do prédio da prefeitura e as agressões sofridas pelo secretário de Coordenação Política e Governança Local, Cézar Busatto, e pelo chefe de Segurança do Paço Municipal, Paulo Rogoski. Fortunati foi duro:

– Atos como este não podem ser tolerados. Não foi uma manifestação pacífica, as pessoas vieram para o confronto. Ninguém vem dialogar com taquaras de mais de dois metros, pedras, tinta e bolas de vidro. Convoco os cidadãos de bem a se indignar com esse ato, pois hoje eles estão agredindo pessoas e a prefeitura, mas amanhã eles podem estar incendiando os ônibus e isso não terá mais fim.

O prefeito tem um problema sério para administrar na segunda-feira. O mesmo grupo que promoveu o quebra-quebra na quarta-feira prepara uma nova manifestação em frente à prefeitura. A preocupação é proteger o patrimônio público e os funcionários de eventuais agressões, sem entrar em confronto com os participantes do protesto. A guarda municipal não tem preparo técnico para agir em situações como essa, e a Brigada Militar está orientada a só entrar em ação em último caso. Desde o episódio da destruição do tatu-bola, símbolo da Copa, que terminou em confronto em frente à prefeitura, a recomendação do governador Tarso Genro ao Comando de Policiamento da Capital é para que os policiais sejam cautelosos e não aceitem provocações.

Os estudantes exigem a redução do preço da passagem, fixado em R$ 3,05, mas o prefeito reiterou ontem que isso é impossível. Que já reduziu o valor em relação à tarifa pedida pelos empresários, de R$ 3,30, e que os cálculos foram feitos seguindo a determinação do Tribunal de Contas. Diante do argumento de que Porto Alegre tem a segunda passagem mais cara do Brasil, o prefeito responde que em outras capitais, como São Paulo, o dissídio dos rodoviários tem data-base em junho e que o aumento salarial dos motoristas e cobradores será repassado à tarifa.

Apesar dos protestos, a prefeitura vai continuar batendo na tecla de que só existem duas formas de baratear o preço da passagem em Porto Alegre: pela redução das gratuidades ou pela concessão de subsídio federal. Pelos cálculos do Executivo e das empresas de ônibus, de cada cem pessoas que passam pela roleta, 33 não pagam passagem.


Sal grosso

Por ter sido um dos alvos dos jovens que depredaram o prédio da prefeitura na quarta-feira e jogaram tinta vermelha em sua camisa, o secretário da Governança, Cézar Busatto, virou motivo de brincadeiras pela frequência com que está no centro de confusões. E reagiu com bom humor.

– Só pode ser carma. Fui a Santa Maria manifestar solidariedade a um amigo (o prefeito Cezar Schirmer) e me chamaram na polícia por conta de uma denúncia anônima de que eu teria tirado documentos da prefeitura. Ontem, fui tentar dialogar com os manifestantes e virei alvo de uma turba enfurecida. Tive muita sorte em não sair ferido com gravidade.


Histórico

Em outros dois episódios, Busatto esteve no olho do furacão. Quando era chefe da Casa Civil de Yeda, procurou o então vice-governador, Paulo Feijó, para propor um armistício.

Na conversa, que Feijó gravou sem ele saber, disse que os partidos se financiavam no Daer e no Banrisul. Feijó tornou a conversa pública e Busatto perdeu o cargo.

Vinte anos antes, era assessor do governador Pedro Simon quando colonos sem-terra degolaram um brigadiano em frente à Praça da Matriz e ele se viu no meio da confusão, tentando acalmar os ânimos.

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