A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 16 de julho de 2011

CHILENOS COBRAM MEDIDAS NA ÁREA SOCIAL E NA EDUCAÇÃO


FIM DA TRÉGUA. Por que os chilenos protestam. Presidente Sebastián Piñera enfrenta manifestações de estudantes, servidores e ambientalistas, que cobram medidas na área social. - LÉO GERCHMANN, ZERO HORA 16/07/2011

Em meio a protestos de ambientalistas, funcionários públicos e estudantes que pedem a repartição do bolo fermentado por uma economia pujante, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, teve invertidos os índices da alta popularidade adquirida com o resgate dos 33 mineiros soterrados na mina San José, em outubro do ano passado. De festejado como o gestor ideal, tornou-se impopular, em um espelho que mostra índices semelhante, só que invertidos.

Apenas 31% dos pesquisados aprovam a gestão de Piñera, o percentual mais baixo de apoio que recebeu um presidente desde que o Chile recuperou a democracia, em 1990. Depois do resgate dos mineiros, apenas 26% rejeitavam o governo. O número subiu agora para 60%, segundo o instituto Adimark.

No momento de fazer o “retrato” do presidente, 62% dos chilenos reconhecem que Piñera é “ativo e enérgico”. Em compensação, só 37% creem que ele é “querido”. O único consolo para o governo é que a oposição também não tem bons resultados: 68% reprovam a Concertación, a coalizão de centro-esquerda que estava antes no poder.

A estimativa é de que a economia chilena cresça 6% em 2011 – por isso, a impopularidade intriga os analistas. O governo busca explicações. Um funcionário disse a Zero Hora que há uma forte crítica à divulgação falha das realizações do governo. Outro ponto de reflexão: Piñera estaria se limitando a dar continuidade ao que fez a Concertación.

– A economia vai bem, mas há questões sociais pendentes. Há um vácuo a ser resolvido. E a população mostra sua contrariedade em relação a isso – explica Luis Larraín, diretor do instituto Libertad y Desarrollo, uma organização privada.

Os níveis de criminalidade são semelhantes aos registrados no governo anterior, e a reconstrução após o terremoto de fevereiro de 2010 teria sido lenta – o que não é pouco: são milhares de chilenos que perderam suas casas, amargando o segundo inverno em casas de emergência feitas de madeira. Nas pesquisas qualitativas, a saúde, a educação – três grandes protestos estudantis ocorreram nos últimos dias, pedindo investimentos públicos – e o transporte aparecem como setores duramente criticados pela população.

Também sobram críticas às políticas ambientais – em 9 de maio último, foi aprovada a construção de cinco represas na Patagônia. Para piorar a situação, na última segunda-feira, os trabalhadores da estatal Codelco, a maior produtora de cobre do mundo, fizeram uma paralisação de 24 horas para rejeitar sua privatização.


ENTREVISTA: “Não há vontade de avançar”. Camila Vallejo, líder estudantil chilena

Ela é bela e sabe disso. Sabe também que a beleza, a inteligência e a combatividade a tornam referência nos protestos em que os chilenos pedem mais sensibilidade social a Sebastián Piñera. A comunista Camila Vallejo, 23 anos, estudante de Geografia e presidente da Federação Estudantil da Universidade do Chile (Fech), já é vista como alternativa em um país que pede novos rostos na política. Olhos azuis, traços delicados, piercing no nariz, chegou a ser tema de música. Confira trechos de sua entrevista:

Zero Hora – Você é considerada uma espécie de musa? Isso ajuda ou atrapalha?

Camila Vallejo – Sim, sou bonita e não tenho problemas em dizer isso abertamente. Certamente, isso me ajudou na minha atividade política, fez a imprensa se aproximar de mim, o que não é ruim, evidentemente. Mas não coube a mim decidir sobre qual seria a minha aparência. O que pude decidir é o meu projeto político, e meu foco é a educação do país, é por ela que tenho trabalhado e é por esse trabalho que quero ser reconhecida.

ZH – Há uma carência de novos nomes na política chilena. Você pode preencher esse vácuo?

Camila – Estamos em meio a uma mobilização, e esse é o meu foco neste momento. Temos uma luta.

ZH – Onde erra o governo Piñera?

Camila – O governo é conservador na sua essência. Começa por aí. Não cede, para não mexer com interesses não só da classe política, mas dos grupos econômicos. Não há vontade de avançar.

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