A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 23 de julho de 2011

A FORÇA DAS RUAS


Na maior onda de protestos em duas décadas, estudantes chilenos obrigam o governo a mudar o sistema educacional. Mariana Queiroz Barboza - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2176, 23.Jul.11 - 11:07

Era fim de tarde da segunda-feira 18 quando super-homens, batmans e mulheres-maravilha começaram a dançar na Plaza de Armas, em Santiago, a poucas quadras do Palácio La Moneda, sede do governo do Chile. O ato durou só seis minutos, mas se tornou um marco da luta dos estudantes chilenos por mudanças no sistema de ensino do país. Desde maio, milhares de secundaristas e universitários têm ido às ruas protestar – e as manifestações quase sempre são marcadas por elevadas doses de humor.

Os jovens já criaram uma praia artificial, ficaram seminus, organizaram uma maratona, um baile de carnaval e até promoveram um ousado “besatón” (algo como “beijaço” coletivo). Tudo combinado pela internet, a exemplo das passeatas que tomaram o mundo árabe e a Espanha no primeiro semestre. Trata-se da maior onda de protestos realizada no Chile desde a redemocratização, em 1990.

“Esses movimentos são espontâneos, parecidos com os dos anos 60”, diz o cientista político Bruno Konder Comparato. No caso chileno, as manifestações encontraram na estudante de geografia Camila Vallejo, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech), um símbolo.

O rosto delicado e os olhos azuis alçaram Camila à condição de musa nacional, presente diariamente nos telejornais e seguida por 42 mil pessoas no Twitter. “Nosso país precisa avançar para um novo modelo educativo público, gratuito e de qualidade”, disse ela em carta aberta.

Primeiro país da América Latina a implementar reformas de cunho neoliberal, o Chile sustenta bons níveis de crescimento econômico (5,2% em 2010 e previsão de 6,6% em 2011), mas sofre com a desigualdade social. Durante seu governo de quase duas décadas, o general Augusto Pinochet reduziu o repasse do Produto Interno Bruto (PIB) à educação de 7% para 2,3%. Segundo os dados mais recentes da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), o aporte público na educação chilena foi de 3,7% no biênio 2007/2008. Para efeito de comparação, Brasil e Argentina investiram mais de 5% no mesmo período.

O barulho já começou a causar estragos. Nas pesquisas de opinião mais recentes, a popularidade do presidente Sebastián Piñera, que em outubro do ano passado chegou a 63% após o resgate dos 33 operários da mina San José, caiu para 30%. Piñera reagiu.

No início do mês, anunciou a criação de um fundo de US$ 4 bilhões para a educação, que prevê, entre outras medidas, a ampliação de bolsas estudantis e a redução nos juros do crédito educativo.

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