DILAN CAMARGO, ESCRITOR, CIENTISTA POLÍTICO - ZERO HORA 15/07/2011
As igrejas, e particularmente a Igreja Católica, deveriam exercer um certo conservadorismo ilustrado e esclarecido sobre a sociedade contemporânea, de modo militante, menos acanhado, sem precisar pedir licença e, muito menos, desculpas, baseado em suas doutrinas e ideias, que remontam a séculos, e que estão fundamentadas em suas práticas rituais, em seus mitos e em alentados estudos e tratados sobre a natureza e a condição humana. Por ilustrado e esclarecido, levo em conta a cultura e a erudição, não só religiosa, da Igreja Católica, mas as suas culturas antropológica e filosófica, o seu papel caridoso e filantrópico e a sua inestimável contribuição para a educação e a civilização.
Alguns “formadores de opinião”, condicionados a um jornalismo minimalista, junto com alguns intelectuais maneiros, não demonstram o mínimo constrangimento em expressar e pregar, com uma imprudente loquacidade, as suas incipientes e malformadas “opiniões”, somente porque as consideram transgressivas, alternativas, avançadas, críticas, libertárias, e por aí vai. Por que instituições milenares, como as igrejas, universidades e até “velhos intelectuais”, com uma história de pensamento, arte e ciência, não podem exercer também o seu ensinamento e o seu direito de discutir, questionar, aprovar ou reprovar ideias, comportamentos, instituições, políticas públicas e privadas, valores, práticas individuais e coletivas, enfim, enfim?
Esse direito de também exercer o seu papel magistral na sociedade tem faltado principalmente à Igreja Católica, já que a sua representação, na América Latina e no Brasil, assumiu um messianismo ideológico e político, através da Teologia da Libertação, do que efetivamente a missão de “mãe e mestra” dos povos.
A sociedade contemporânea, essa sociedade de massas e tecnológica, saudavelmente heterogênea e plural, com o seu secularismo libertário e o seu mundanismo pop, libertada dos estábulos, do obscurantismo e das superstições da Idade Média pelos filósofos do Iluminismo, parece que, embora navegando na mais profunda e alta pós-modernidade, dá mais ouvidos às “vozes” da irracionalidade. Embalada em seu arrogante narcisismo consumista de uma “felicidade infeliz”, que celebra um individualismo aético, num trânsito e num transe moral vertiginoso, com uma “atitude” preconceituosa em relação às leis e à civilidade, parece cultivar com ingênuo entusiasmo a fronteira conflitada e movediça entre a “suspensão da consciência” e a anomia social.
Em nossa época, a existência humana parece mostrar-se ainda mais insatisfatória. É o que vemos no cotidiano dos noticiários e lemos nas recomendações dos manuais de performance individual. E o que buscamos e fazemos para preenchê-la de significado? Religião? Arte? Filosofia? Dinheiro? Prazeres? Às vezes, loucuras. Afinal, somos “humanos, demasiadamente humanos”, disse Nietzsche, embora os guaranis já tivessem identificado e vivido essa angustiante consciência do humano na sua interminável busca metafísica e religiosa da Terra Sem Males.
A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
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