A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
DOS REBELDES COM E SEM CAUSA
Rafael Codonho, Jornalista, estudou na Communication University of China - JORNAL DO COMERCIO, 17/11/2011
No dia 4 de maio de 1989, mais de cem mil pessoas marcharam pelas ruas de Pequim. Exibiam o rosto sem medo. Eram sobretudo estudantes, mas contavam com o apoio de trabalhadores e intelectuais. O movimento, que se espalhou por outras cidades chinesas, defendia bandeiras raras em um ambiente tão hostil: democracia, liberdade, aceleração das reformas econômicas, combate à corrupção e imprensa livre. Ali era a ouvida a voz que décadas de regime autoritário fizera calar. Caminhadas pacíficas e greves de fome compunham seu modus operandi. Em 2 de outubro de 2011, 70 jovens invadiram o prédio da reitoria da USP.
Cobrindo o rosto, arrombaram a garagem e, mesmo sob determinação judicial, não arredaram pé. Não protestavam contra a corrupção, que transforma em pó os recursos para educação. Não agiam em nome dos direitos humanos, expressando compaixão pelos perseguidos políticos ao redor do mundo, como a cubana Yoani Sánchez. Também não levantavam a voz em defesa da liberdade de imprensa, este braço do Estado de Direito que vem sendo amputado a prestações em nosso continente.
O motivo da ocupação era a presença da Polícia Militar no campus, principalmente após a detenção de três alunos que ali fumavam maconha. Queriam a saída da corporação que reduziu enormemente a incidência de assaltos, homicídios e estupros na cidade universitária. E, caso estivesse presente há mais tempo, poderia ter salvo a vida de Felipe de Ramos Paiva, estudante de 24 anos assassinado em maio no estacionamento da faculdade. Os dois protestos tiveram objetivos e métodos distintos, bem como seus desfechos. Os estudantes chineses – no episódio conhecido como o Massacre da Praça da Paz Celestial – foram brutalmente atacados pelo exército. As estimativas de mortos vão de centenas a milhares de pessoas, enquanto os vivos seguem reprimidos. O rapaz que enfrentou sozinho uma fila de tanques gerou uma das imagens mais emblemáticas da luta pela democracia da humanidade. Os jovens daqui foram retirados da reitoria, mas antes destruíram móveis, picharam paredes e deixaram para trás coquetéis molotov. Por lá, havia o idealismo da liberdade. Por aqui, tão somente selvageria e pobreza de causas. São rebeldes do nada.
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