FÁBIO OSTERMANN, DIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS EMPRESARIAIS - ZERO HORA 11/11/2011
Há cerca de dois meses, um grupo de manifestantes ocupa simbolicamente um parque em Nova York protestando contra a influência de Wall Street nos rumos da política americana e, especificamente, na atual crise. O movimento, que alcançou certa repercussão mundo afora, e até no Brasil ganhou representações esparsas, parece, no entanto, estar destinado à irrelevância. As razões para isso são basicamente duas. Primeiro, os participantes de tal movimento partem de um diagnóstico equivocado. Segundo, carecem de uma agenda de reivindicações coerente e minimamente factível.
Seu diagnóstico é equivocado porque parte da premissa de que o mercado e a ganância foram os principais culpados pela crise. O mercado é o conjunto de indivíduos e empresas interagindo dentro de um arcabouço institucional delimitado pelo governo. No caso específico dos Estados Unidos, incentivos governamentais perversos, motivados por uma política habitacional populista, fizeram com que agentes econômicos se sentissem seguros para apostar alto em créditos de liquidação incerta. Já a ganância não pode ser considerada como culpada pela crise simplesmente por não ser um fator novo: trata-se de uma constante onde quer que tenham existido seres humanos. No mercado, a ganância humana é limitada pelo risco de perdas. Tendo o governo tacitamente eliminado o fator risco, a ganância correu à solta sem seu indispensável contrapeso.
No que diz respeito à sua agenda propositiva, esta não passa de um conjunto de medidas com clara tendência a piorar o atual cenário econômico. Dentre as reivindicações dos manifestantes, há restrições ao comércio internacional, perdão às dívidas com o sistema de crédito estudantil e, é claro, o fim do sistema capitalista. No geral, as demandas dos participantes do movimento incorporam a mesma mentalidade assistencialista que está levando a Europa para o buraco.
Por conta dessa visão distorcida dos fenômenos político-econômicos da atualidade, os manifestantes acabam batendo na porta errada em seu afã por protestar contra “tudo isso que está aí”. Seria mais efetivo se estivessem protestando junto à sede do poder político. Afinal, é em Washington e, no nosso caso, Brasília que são construídos os marcos regulatórios deficientes que tanto dano causam ao bom funcionamento dos mercados, redundando em incentivos distorcidos que, por sua vez, aumentam a incidência e o tamanho de bolhas como a imobiliária americana.
A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
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