A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 3 de abril de 2012

A AUTOCURA SOBRE A CORRUPÇÃO ESTÁ EM NÓS TODOS


Editorial JORNAL DO COMERCIO 03/04/2012


Agora é um senador que, há pouco menos de dois meses, era o arauto da moralidade, dando explicações pouco convincentes sobre relações perigosas, no mínimo. De um partido opositor ao que está no governo, o outro lado logo vibra, com um pensamento não explicitado, mas que povoa a mente de todos os governistas: “Viu, eles também têm corruptos”. Só falta dizer que “os nossos corruptos são mais honestos que os deles”, embora esse assunto baixe a autoestima nacional e não se preste para piadas, a rigor. O importante é punir, não importa qual seja a grei partidária.

Diariamente divulgam-se lamúrias nos meios de comunicação social por conta da corrupção, do excesso de vantagens, dos vencimentos díspares entre categorias do funcionalismo público e, depois, destes com os empregados da iniciativa privada. Não se prega, em absoluto, o abominável nivelamento por baixo. Mas quando temos um País com uma dívida pública de R$ 2 trilhões e que pagou, em 2011, de juros para rolar esta quantia nada menos que R$ 216 bilhões, chega-se à percepção de que algo precisa ser feito para acabar com esta sangria desatada.

No entanto, a corrupção floresce quando há permeabilidade nas estruturas de Estado. Os desvios de dinheiro precisam da colaboração de agentes da autoridade, lastimavelmente. Devem ser enfrentados com rigor, a começar por um sistema de corregedorias fortes e autônomas. As pessoas se espantam, bradam, pedem punições, justiça e que os larápios das verbas oficiais sejam trancafiados. Quanto à Justiça, a carência de meios humanos e materiais é grande. Por isso ela é demorada, verborrágica, processualística em demasia e aplica códigos ultrapassados no tempo, no espaço e na realidade nacional. É na educação – desde a mais tenra idade - que está a cura para os nossos males. Não existem instituições corruptas no País, mas sim pessoas sem ética e moral sólidas. Na autocura todos devem seguir em frente. Os brasileiros, querendo, são maiores que as dificuldades que enfrentam. Mas a vida nacional não é tão frágil assim. O que falta é determinação e gestão. A desigualdade social é não dar, desde a infância, as chances de estudo e educação para todos.

Se combatermos o malfeito com perseverança como se fosse o nosso destino como Nação, com certeza venceremos. O subconsciente age sobre o corpo e a mente, de maneira individual ou coletiva, e aí começa a restauração que queremos para a nossa cidade, o nosso Estado e o nosso Brasil. Não basta a indignação, é preciso uma mudança quase drástica nas estruturas das cidades, dos estados e do País. Se certos segmentos da sociedade abrirem mão de algum privilégio em favor do coletivo, atingiremos um novo patamar socioeconômico bem mais rápido do que imaginamos. Alguém tem que dar um basta e aplicar as mudanças. Cabeças pensantes, no Executivo, no Judiciário e no Legislativo, estudem e mudem para um novo regramento. O que não se pode é manter esse imobilismo administrativo nos três Poderes que apenas perpetua obstáculos, enganos e desilusões. O progresso do Brasil é um caso de amor entre nós e a Nação. Como a fé dos brasileiros vê o invisível e acredita no inacreditável, talvez todos nós recebamos o impossível: o fim, ou bem menos corrupção no País.

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