ZERO HORA 03 de julho de 2012 | N° 17119. ARTIGOS
Rodrigo Barbieri, médico
Dando seguimento à coluna escrita pelo psicanalista Abrão Slavutzky (ZH de 30/06/12) sobre o vazio deste século, numa interpretação precisa do sentimento coletivo a que estamos todos vivendo, proponho que este diálogo não termine.
É fato que a humanidade perdeu suas expectativas idealizadas de um mundo bom para todos e o que temos hoje é o oposto da idealização: o vazio e a descrença. A descrença nas instituições de toda ordem, a perda de confiança na política, no futuro econômico, num mundo sustentável. As iniciativas de construção de uma cultura que viva em equilíbrio com o meio ambiente ainda não passam de sementes plantadas em solo árido.
Contudo, a sustentabilidade, a ciência e a tecnologia são como boias encontradas pela humanidade naufragada no meio de um mar revolto.
No meio deste oceano de vazio passado por telas touch screen, os rumos do mundo sempre foram definidos por uma minoria da humanidade dissociada entre ricos e pobres, fracos e fortes, religiões fanáticas e religiões mais racionais, se é que é possível aplicar a razão a alguma religião.
Diante disto e como sempre na história da humanidade, os rumos a seguir sempre foram ditados pela economia. Sempre foi o dinheiro que puxou o progresso e a esperança que manteve a humanidade caminhando sem direção. Neste momento, o Velho Continente, onde tudo começou, passa por uma crise de irresponsabilidade fiscal, cuja principal raiz é a ganância, a riqueza pela riqueza, o conceito econômico da destruição criativa, em que as coisas existentes têm que se destruir para se reconstruir sem levar em consideração que tudo isso se passa sobre o sofrimento de grandes contingentes populacionais.
A economia sempre vai voltar a crescer, a tecnologia sempre vai achar formas de sobrevivência nas condições mais adversas, pelo menos para quem puder pagar. É esse o grande perigo, que o progresso novamente exclua as maiorias. Agora, mais do que nunca, economia precisa de humanização e não só de sustentabilidade. É claro que a semente de sustentabilidade plantada no deserto de concreto tem de ser cultivada, mas é preciso humanizar todos os vínculos da vida em sociedade. Os processos econômicos, todos eles, precisam ser humanizados, não só no discurso, mas na prática de fato.
Há sinais de esperança. Mas o sentimento de vazio também surge na urgência por mudança de rumo por parte das instituições em geral. Crescer novamente com base somente no consumo é a mesma coisa que escambo.
Ou será que vamos ter que regredir ao caos para recomeçar?...
Nenhum comentário:
Postar um comentário