A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
BRASILEIRO NÃO AGE, NÃO EXIGE
ENTREVISTA. Corina Breton, ex-presidente do Instituto Chega de Violência - ZERO HORA 14/12/2011
A advogada aposentada Corina Breton falou ontem a Zero Hora. A seguir, trecho da entrevista concedida em sua casa:
Zero Hora – O que mais lhe indignou?
Corina Breton – A falta de interesse da população e a inanição do poder público no tocante à segurança em geral. O brasileiro se distrai com Carnaval, futebol e não age, não exige. Fico indignada com as instituições públicas e com a sociedade, passivamente, esperando sua vez de ser atacada.
ZH – Qual o sentimento em relação ao poder público?
Corina – O poder público é inerte, paquidérmico, pesado, amassante. Tem o interesse pessoal dos políticos em detrimento do coletivo. Tem gente boa, mas a máquina estatal é emperrada. Teve um empresário que queria doar viaturas e não podia.
ZH – Foi o principal motivo para o fim do movimento?
Corina – Sim. As pessoas se encantavam com a ideia, mas não se comprometiam. Eu queria quebrar o paradigma das pessoas só se queixarem e transformar isso em ações. E fiz bastante. Não me sinto fracassada. Nem o Chega foi um fracasso. Foi um sucesso enquanto viveu.
ZH – O que mais lhe deu satisfação?
Corina – Conseguir realizações. Houve uma época que eu consegui mobilizar pessoas, sociedade. Fui bastante ouvida pelo poder público, mas não recebi respostas. A Brigada Militar nos ajudou muito, assim como a Secretaria de Direitos Humanos de Porto Alegre, no tempo do Kevin Krieger.
ZH– Lembra de um episódio marcante?
Corina – Com a ajuda da professora da UFRGS Eny Toschi, fizemos um projeto-piloto de prevenção a assaltos nas ruas do bairro Petrópolis, onde ela morava e a comunidade estava muito apavorada com a violência. Com o setor de inteligência da Brigada Militar, mapeamos 14 ruas do bairros, e oito PMs faziam o patrulhamento. Foram dois meses de projeto. O número de assaltos diminuiu em 70%. Depois, por iniciativa da Helena (Helena Raya Ibañez, ex-presidente da entidade) foram doados 60 coletes à provas de balas para a BM, comprados com a renda de um concerto do pianista Miguel Proença, no Teatro do Sesi.
ZH – O que causou mais tristeza?
Corina – O encerramento. Quando o nosso grupo chegou à conclusão de que não dava mais para continuar porque não tinha mais dinheiro. A gente precisava se movimentar, organizar eventos para arrecadar recursos e ninguém podia.
ZH – Alguma situação desagradável?
Corina – Trabalhamos em um projeto de prevenção à violência com a prefeitura de Porto Alegre. A ideia era uma parceria com a Guarda Municipal. Fizemos pressão para os guardas voltar a usar arma, tinha um empresário do bairro Moinhos de Vento que iria doar duas viaturas, mas o projeto não foi adiante. Foi barrado pela burocracia estatal. No começo do ano, o grupo da última presidente, a psicóloga Denise Issler, elaborou um trabalho de prevenção à violência para desenvolver com professores em escolas de Porto Alegre, mandou o projeto e nenhuma escola se interessou. Isso desmobilizou muito.
ZH – Sem o movimento, a senhora se sente menos segura?
Corina – O movimento me dava a sensação de que havia um trabalho pela segurança. Pela contingência atual, me sinto cada vez mais insegura.
ZH – A senhora se preocupa com o futuro dos seus netos?
Corina – Me sinto culpada. Penso: que vida ajudei a construir para essas crianças? Sinto culpa pela minha geração que foi cortada pelos militares, depois desabrochou com a democracia e agora está perdida.
ZH – A senhora gastou muito dinheiro com o instituto?
Corina – Fiz doações, meu marido doou computadores. Gastei alguns valores. Fiz por amor. E continuo gastando para encerrar as atividades.
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