A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
GUERRILHAS ESTATAIS, CALMA POPULAR
Vinicius Torres Freire - Folha de São Paulo, 25/12/2011
Crise em ministérios, nos partidos, no Judiciário, no CNJ, aversão do mercado etc.; governo resiste a tudo.
O povo assiste a tudo distraído, não muito bestificado, mas esquecido de morder, como abstrato ao luar, tal qual as serpentes de Drummond. Os nativos estão quietos. Não há tumulto no Brasil que vive à margem dos conflitos "estatais". Que não foram poucos. Mas a casa está quieta, e o mundo está calmo.
A medida mais comum e ampla de satisfação do cliente eleitoral, o prestígio da presidente, está nas alturas, maior que o da largada presidencial de Lula. Há briga de facas, mas apenas nas casas do governo.
Caiu meia dúzia de ministros, em parte devido a conflitos pela divisão do butim estatal. Não causou muita sensação na rua -onde andam os "indignados" brasileiros?
A gente esqueceu, mas houve facadas semelhantes na divisão dos cargos das estatais elétricas. Tipos parecidos agora se estranham na Caixa Econômica Federal.
Aliás, o governo precisa tolerar essa gente até em banco? Se por mais não fosse, é dar chance para o "azar" de outro escândalo. Note-se que, até agora, saiu barata (para o governo) a quebra cabeluda do PanAmericano, no colo da CEF.
Dilma Rousseff, porém, com o auxílio de Michel Temer, conseguiu conter o motim que o PMDB ameaçava no início do ano. Por ora.
Houve ainda mais conflito político-partidário, com repercussão social também mínima. O PSD de Gilberto Kassab sangrou quase metade da oposição já moribunda.
O PSDB se suicida lentamente -o conflito entre serrismo e aecismo é apenas uma das feridas abertas.
Tribunais e juízes estão em campanha contra o Conselho Nacional de Justiça e críticos em geral a fim de manter prerrogativas indevidas.
Fazem ainda campanha salarial nos corredores do Congresso, que olhará com ainda mais carinho as demandas do Judiciário quando estiver em vigor a lei da "ficha limpa".
O governo bateu-se com alguns setores sociais organizados. Levou a melhor. Não houve repercussão maior. A presidente conteve demandas de reajuste do funcionalismo, derrubou o aumento da verba para a saúde, enrolou o piso salarial dos policiais, viu o caso do Código Florestal enrolar-se em si mesmo.
Dilma mudou a política econômica. Seu governo tenta controlar a inflação com um mix de medidas administrativas de contenção de crédito e contenção de gastos, em vez de usar apenas juros.
A presidente e seus economistas ainda por cima se deram poderes de intervenção na Bolsa (derivativos) e controlaram a entrada de capital financeiro do exterior.
A mudança, relevante, mas a anos-luz de revolucionária, causou reação amarga, mas limitada a uma fímbria microscópica da elite e a economistas de bancos e consultorias, que erraram tanto sobre a economia neste ano que viram suas críticas desmoralizadas.
No mais, o governo não teve nenhuma ideia ou projeto novo muito relevante além do "Brasil sem Miséria". A presidente privatizou um tico aqui (aeroportos) e interveio um tico a mais ali nas empresas do complexo "estatal-oligopólio privado". Não fez nada de relevante para tentar mudar escolas, universidade e ciência no país. Nem discurso.
Os barões assinalados se engalfinharam; o povo parece distraído, contente com o crescimento ainda lento por falta de mudança institucional séria. Até quando isso dura?
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