A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

PRESSÃO DEMOCRÁTICA

EDITORIAL ZERO HORA 03/12/2011

É exemplar para o país o embate em torno da situação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acusado de irregularidades não apenas na administração da pasta que ocupa atualmente, como também na sua vida pregressa. A hesitação da presidente Dilma Rousseff em afastar o assessor, como já fez com outros cinco auxiliares, reflete bem o verdadeiro jogo de pressões entre os defensores da moralização na administração pública e correntes políticas partidárias da flexibilização ética como instrumento de governo e estratégia de poder.

A mídia independente, ao investigar e divulgar malfeitorias de governantes e ocupantes de cargos públicos importantes, acabou assumindo a liderança do processo moralizador, levando na carona, indistintamente, tanto a parcela séria do estamento político quanto a oposição interesseira. Do outro lado, estão partidos integrantes da coalizão governista, especialmente setores do PT envolvidos com o mensalão, que apostam suas fichas na teoria da conspiração, acusam a imprensa de promover linchamentos morais e aconselham o governo a fazer vistas grossas às denúncias.

Para reforçar suas teses mirabolantes, insinuam que a “grande mídia” está a serviço da classe dominante – rótulo desgastado usado comumente para substituir a falta de argumentos. Desconhecem, ou fingem desconhecer, que faz parte da natureza do jornalismo numa sociedade democrática a vigilância do poder e a defesa dos interesses da sociedade. Essa vigilância apontou indícios de irregularidades, depois confirmados, em cinco ministérios e provocou as mesmas reações, com as mesmas origens, de setores de política que tentaram desqualificá-la. A população sabe identificar com clareza, em situações que têm se repetido, quem afinal cumpre suas atribuições e responsabilidades e quem procura confundir, na tentativa de relativizar cada denúncia e anistiar os flagrados em delitos em cargos públicos.

O que importa, como observa a relatora da Comissão de Ética Pública, Marília Muricy, ao recomendar o afastamento do ministro Carlos Lupi, é que as ações moralizadoras sejam orientadas pela consciência de cada um, de acordo com a legislação, e que o governo adote as providências cabíveis em cada caso.

O que não pode prevalecer, enfatiza a relatora, é a arrogância dos acusados, que caracterizou agora o comportamento do ministro diante das denúncias. Tal atitude é típica de denunciados com proteção direta ou indireta do poder político, como ocorre com o chefe do esquema do mensalão, Marcos Valério, que continua agindo como delinquente. Ele foi preso ontem por envolvimento em planos de grilagem de terras na Bahia. Um dos réus do escândalo que deve ser finalmente julgado no ano que vem estava em liberdade porque não seria uma ameaça à sociedade até o veredicto da Justiça. É lamentável que outros indiciados no mesmo processo em tramitação no Supremo continuem com fortes influências políticas, a ponto de tentar interferir até mesmo no destino de companheiros flagrados em delito no exercício de altas funções públicas.

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