A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

HERÓIS INVISÍVEIS


NILSON SOUZA - ZERO HORA 07/01/2012

Somos um povo carente de heróis. Por isso, rotulamos de semideuses nossos ídolos esportivos, nossos artistas mais talentosos e até mesmo figuras caricatas que, por algum motivo, alcançaram projeção. O heroísmo, na sua origem, caracteriza-se por ser um ato moralmente justificável, mas este aspecto nem sempre é levado em conta na avaliação popular. Na maioria das vezes, o que conta é a visibilidade.

O primeiro herói de 2012 foi um pedreiro de Belo Horizonte que encarou duas vezes a fúria da enchente na capital mineira para tirar pessoas presas em carros arrastados pela água. Neste caso, o homem mereceu a louvação, pois mostrou coragem e determinação para salvar a vida de pessoas desconhecidas. Ainda assim, só recebeu reconhecimento porque alguém filmou o seu ato e as imagens foram reproduzidas na televisão – ainda a principal vitrine das mais notáveis aventuras humanas. A tevê consagra, mas também deforma. Basta lembrar Pedro Bial chamando os participantes do Big Brother de “nossos heróis”.

Herói, diz a definição, é aquele que reúne virtudes como fé, coragem, força de vontade, determinação e paciência – e as utiliza por uma causa nobre. O pedreiro Charles, naquele momento de tensão do aguaceiro de Belzonte, cumpriu alguns desses pré-requisitos. Também tiro o meu chapéu simbólico para ele. Mas gostaria de lembrar que o país tem muitos outros heróis invisíveis, que raramente recebem reconhecimento porque praticam suas ações longe das câmeras e dos holofotes.

A lista é grande e poderia, sem qualquer demagogia, começar pelos trabalhadores que ralam para ganhar a vida honestamente, muitas vezes tendo que sustentar famílias numerosas. Mas não é a eles que quero homenagear neste texto. Meus heróis anônimos são os casais que adotam crianças doentes, muitas delas enjeitadas por serem portadoras de deficiência. Meus heróis anônimos são os pais e mães que abdicam de suas próprias vidas para cuidar de filhos que vieram ao mundo sem todas as ferramentas de sobrevivência. Meus heróis anônimos são os médicos, enfermeiras e cuidadores que dedicam o melhor de sua habilidade e muito do seu tempo para amenizar o sofrimento de pacientes que sequer conhecem. Meus heróis anônimos são os professores e professoras que vão além da obrigação do ofício, lançando sobre os alunos um olhar de humanidade para ajudá-los a se tornarem pessoas dignas e íntegras. Meus heróis anônimos são todos os brasileiros que se preocupam com os seus semelhantes, tanto ou mais do que consigo mesmo, sem esperar reconhecimento.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Muito bom e oportuno este artigo. Infelizmente, o autor esqueceu de citar os bombeiros e os policiais que diariamente arriscam a vida para salvar a vida de pessoas que não conhecem, promovendo atos de heroísmo e solidariedade em conflitos e emergências de alto risco. Por tudo isto, estes heróis recebem um carinho especial daqueles que tiveram a sorte de contar com a presteza destes agentes públicos. Entretanto, estes agentes são obrigados a extrapolar a carga de trabalho com bicos e sacrificar suas folgas para aumentar o poder aquisitivo devido aos salários miseráveis e contraditórios que recebem do Estado, representante da sociedade. Bombeiro e policial cumprem um dever público em profissões que são apresentadas como as mais estressantes e perigosas do mundo contemporâneo, muito valorizadas em países de primeiro mundo. Este são os meus heróis, não menos importantes daqueles apresentados pelo autor.

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