A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
domingo, 22 de janeiro de 2012
UFC e BBB
JOÃO OSÓRIO, PSIQUIATRA E PSICANALISTA - ZERO HORA 22/01/2012
UFC e BBB são siglas profusamente conhecidas. Ambas identificam grupos de pessoas restritos a um espaço diminuto, onde um terá que eliminar o outro de maneira mais primitiva possível ou de forma mais hipócrita possível. Tomam importante espaço na mídia, giram milhões e interesses paralelos.
O público debruçado às tevês, se não atento, torna-se insidiosamente entorpecido. As edições do BBB não só confinam seus habitantes, de corpos sarados, à mais torpe compulsividade do acasalamento por contiguidade corporal, como por pseudoarrebatamentos amorosos, num cenário de plena ausência crítica.
Por outro lado, desde que um senhor Dana White comprou os direitos do ground and pound, isto é, socar, triturar, encurralar no chão, tem-se com hora marcada o trauma da violência até que, pela “mão bondosa” do juiz debaixo do deleite “adrenalítico” da torcida, erga-se e interrompa-se o massacre e abra-se um novo espaço aos gladiadores pós-contemporâneos, num exercício da atividade mais primitiva do homem, limítrofe raciocínio da ação, luta e fuga, do ataque ao inimigo. Dos grunhidos à palavra, construiu-se por séculos e séculos a hominização, mas à maneira de um ex-fumante, como qualquer adicto, há o risco de se aproximar do estímulo porque irá reincidir, assim poderíamos dizer de nós mesmos adictos à agressão, capacitados a descargas da agressividade, do combate avulso ao ódio justificado ou vazio de causa, e frente a esses super-homens do corpo tão cinematograficamente montados e prestigiados, temos um temível gatilho a cópias mambembes.
Desde os velados punhos engomados dos senhores de gravata aos punhos dos murros patrocinados, o que muda é o caráter expressivo, a plástica e a imediatez. Se expõe a pele da violência diretamente pelo ator da verdade bruta nas luzes frenéticas e milionárias do espetáculo. Nós, projetados e identificados, passamos a ser gladiadores passivos no mais cru e animal de nós próprios, com o risco lamentável do aprendizado e estímulo de que, na porrada, truculência, se cresce, se vence, se ganha e mais se enriquece.
Da guerra, destruição a granel, ao evento do ringue, assistimos se possível de smoking. O sanguinário, o outro, depositário do que então fica fora de mim. Se ficasse por aí seria um profilático serviço público de saúde. O esporte sempre procura a derrota do outro, mas onde regras envolvem o mínimo de respeito e boa parte de sublimação da pura agressão e, ao que se vê, se as câmaras não trazem o espirro de sangue, a cena perde interesse.
Em todos nós, há alguma coisa do Coliseu, há o mais bruto, mas não necessariamente solto, prestigiado e descontrolado. Tem-se cargas de outra energia contraponto do afeto e intelecto. No BBB, os ruídos são diversos, pouco inteligíveis, os conteúdos dos ditos ou não ditos valem o mesmo, os heróis que aí se criam do nada saem e para o nada vão. Mas há sempre alguém que anuncia que o espetáculo vale a pena.
Isto, para sabermos o que podemos fazer melhor, além das campanhas do câncer, da bebida zero, do crack, pelas infâncias, adolescências, por todos nós, além de um fantástico joelhaço no crânio ou do edredom que se movimenta anunciando um priapismo raso com um risco de se ouvir, Brasil Brasil!
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