A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

QUANTOS SOMOS NÓS?


FERNANDO DE OLIVEIRA SOUZA, MÉDICO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO - ZERO HORA 07/01/2012

Nesta semana, duas apresentações pretenderam criar uma prova de honestidade de uma determinada parcela da população de dois países, Brasil e Portugal. Explico: primeiro foi um vídeo divulgado na internet como propaganda de uma conhecida marca de refrigerantes em que um ingresso disputadíssimo para a final do campeonato português de futebol, já com a lotação esgotada, foi deliberadamente “deixado” dentro de uma carteira no chão, perto da bilheteria e à frente de uma câmera escondida que filmava a reação das pessoas ao encontrar a carteira com o ingresso. Depois de um longo tempo de observação, foi constatado que 95% dos portugueses devolviam o ingresso na bilheteria. Este vídeo foi mostrado no próprio estádio do jogo e provocou uma reação exultante nas pessoas que o viram, e era finalizado com algo assim: “Temos razão para acreditar num mundo melhor”.

A segunda foi veiculada por uma renomada rede de televisão do Brasil que monitorava a ação dos manobristas de carros e para isto “deixou” um saquinho de moedas no carro à feição dos condutores, vigiado também por uma câmera escondida. Após um bom tempo de observação, que envolveu vários carros e manobristas, ficou constatado que 30% deles ou pegaram algumas moedas ou retiraram do carro outros pertences do proprietário. Ao analisar a reportagem, um delegado de polícia de São Paulo saiu com esta joia para tentar explicar o ocorrido: “A ocasião faz o ladrão”.

Claro que, academicamente falando, não se trata de grupos comparáveis sob nenhum aspecto, mas não deixa de chamar a atenção a disparidade das condutas.

Muito se diz que devemos muito das nossas mazelas e maus hábitos aos nossos colonizadores, notadamente após a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808. Não parece ser o caso.

O que tem impregnado no DNA de muitos brasileiros é a famosa lei de Gérson, para os mais jovens, um excepcional jogador de futebol da Seleção Brasileira campeã do mundo em 1970, mas que passou para a história, infelizmente, com um comercial de uma marca de cigarros em que alardeava que se deve levar vantagem em tudo que se faz. Esta mentalidade permeia todos os escalões nacionais desde os manobristas até seus legítimos representantes em Brasília.

Agora, para outra parcela da população, a ocasião não faz o ladrão. Quantos seremos? Não sei.

Imagino o recenseador do IBGE nas suas atribuições do Censo dois mil e alguma coisa, perguntando: “O senhor é honesto?”.

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