ZERO HORA 11 de março de 2015 | N° 18098
MOISÉS MENDES
O Brasil não será o mesmo depois das passeatas desta semana.
A primeira, do dia 13, anuncia-se como uma mobilização pela Petrobras e pelas conquistas sociais. A segunda, do dia 15, se propõe a combater a corrupção e, no que está subentendido, mas não fica claro, também pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O Brasil se divide ao meio de novo, mas algumas coisas devem ser melhor explicitadas. Nomes que refugam a tese do impeachment já mostraram a cara, sem volteios. Falo de reputações acima de partidos, como Bresser Pereira, Ricardo Semler, Luis Fernando Verissimo, Leonardo Boff.
Mas quem, do outro lado, defende o impeachment, além de Bolsonaro e de militantes das redes sociais? Quem, entre intelectuais, jornalistas, articulistas conhecidos – entre os tais formadores de opinião – diz claramente que é pela interrupção do segundo mandato de Dilma?
Quem, sem subterfúgios, sem enrolação, sem atribuir pontos de vista aos outros, sem medo de correr riscos, sem a conversa fiada de que é contra tudo o que está aí, diz abertamente que defende o impeachment e a passeata do dia 15 pelo fim deste governo?
É difícil. Há, entre os articuladores do impeachment, um acovardamento que envergonharia os lacerdistas, seus ancestrais golpistas dos anos 50. É constrangedora a falta de desprendimento dos que deveriam dizer que não suportarão os quatro anos do segundo mandato e que o grande sonho do revanchismo é fazer o governo sangrar até o impeachment ou a renúncia de Dilma.
O golpe está apenas nas entrelinhas do discurso. Por isso, esta é uma semana para não esquecer. É agora que os indecisos, se é que existem, escolhem a sua passeata, ou ficam em casa vendo a banda passar.
Surge, então, aquele temor de que em algum momento, ou por um dia, ou para sempre você poderá estar, diante de uma questão essencial, alinhado a uma certa gente estranha. São os riscos das livres escolhas.
Posso estar errado, mas erro com convicção. Decidi seguir a turma dos já citados lá no começo, com os quais nunca teria grandes estranhamentos.
Estou com Bresser-Pereira, Leonardo Boff, Luis Fernando Verissimo e Ricardo Semler. Não cheguei (e espero não chegar nunca) a uma situação extrema que me faça alinhado com o Bolsonaro.
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