ZERO HORA 14 de março de 2015 | N° 18101
SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI
Não tem qualquer fundamento ou seriedade a avalanche de áudios apócrifos, jurando que vem aí um golpe militar no Brasil. Quem afiança isso são oficiais graduados do Exército com os quais conversei na manhã de ontem. Eles ouviram o material divulgado no WhatsApp, no qual civis anônimos com sotaque paulista falam que os militares se preparam para tomar as ruas após as manifestações de domingo. Ou de um pseudo-tenente carioca, do S2 (Segunda Seção do Exército, o serviço secreto), recomendando aos companheiros de setor que estoquem alimentos e mantenham as famílias em casa, “porque a guerra civil vai estourar” e “estrangeiros infiltrados já agem no Brasil”.
Falei com dois oficiais de alta patente do Exército, inclusive um que chefiou o S2 gaúcho. Eles ressaltam atos falhos nas gravações, como quando é mencionado que a cúpula militar do Rio ordenou aquartelamento (quando só Brasília poderia fazer isso). “É gente se passando por milico”, afiançam.
Os áudios alarmistas falando em golpe foram inclusive assunto da reunião semanal do QG do Comando Militar do Sul, realizada ontem pela manhã. Questionado a respeito, um general disse que é tudo falso e assegurou: não há aquartelamento, não há estado de atenção, as folgas dos fardados continuam mantidas e o expediente será normal no domingo, ou seja, só os oficiais do dia e alguns poucos praças estarão nos quartéis. Como sempre. O Exército inclusive expediu nota oficial, negando vínculo com os áudios que grassam pela blogosfera.
A verdade é que os milicos, ressabiados com a rejeição sofrida após 21 anos de ditadura militar, não estão dispostos a embarcar em aventura. Talvez apenas se uma guerra civil se instaurasse, mas a própria oposição não parece endossar soluções abruptas. Os líderes oposicionistas Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, do PSDB, disseram nesta semana que o impeachment da presidente Dilma não é uma boa ideia, muito menos golpe militar. E alguém acredita em mobilização militar sem apoio partidário?
Os oficiais consultados por ZH garantem: os militares confiam no bom senso dos organizadores das passeatas. Não querem derramamento de sangue, e não acreditam que isso vá ocorrer, tanto que sequer tomaram qualquer providência para patrulhamento das ruas. Isso será feito pelas polícias militares, como ocorre há 30 anos, desde o fim do regime de força implantado em 1964.
– Acreditamos em vocês da mídia, na Justiça e, principalmente, na força do nosso povo. Minha palavra: não vejo quem conspira e se tiver alguém, sou contra –resume um coronel.
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