JORNAL DO COMÉRCIO 10/03/2015
EDITORIAL
O discurso da presidente Dilma Rousseff (PT), na noite de domingo, pelo transcurso do Dia Internacional da Mulher, veio em linha com outros anteriores. Aproveitou para questionar as críticas contra o ajuste fiscal, pedindo, basicamente, paciência e compreensão. A rigor, compreensão para os problemas nacionais de caixa, todos têm. O que talvez falte, como o ar e não coragem ao então político moribundo Julio de Castilhos, é paciência.
A culpa dos nossos problemas é da crise internacional e do clima. Os aumentos da energia, dos combustíveis e o fim das desonerações fiscais têm que ter compreensão dos brasileiros. Compreensão, embora haja "panelaços" durante o discurso pelo rádio e TV em várias cidades, mas, com certeza, o que está diminuindo é a paciência do povo. Brada-se contra mais inflação, dólar passando dos R$ 3,00 e altos juros, mas se repudia golpe.
Mesmo assim, correndo o risco de estarmos, como se diz popularmente, "pegando leve" com a presidente, há que haver coerência. Se aqui no Rio Grande do Sul entendemos os cortes que o governador José Ivo Sartori (PMDB) anunciou e o provável parcelamento dos vencimentos dos que percebem acima de R$ 4 mil no Executivo, da mesma forma é necessário entender a opção pelo ajuste fiscal em nível federal. As isenções fiscais custaram R$ 25 bilhões ao Tesouro Nacional e acabarão. O ideal seria cortar muito mais no custeio e manter os impostos e contribuições mais baixos. Porém, o ideal se persegue e, enquanto isso, se faz o possível.
Se existe algo que não falta aos brasileiros é paciência. Porém, até esta tem limite. Analisando com calma e sem ranços ideológicos, podemos dizer que as medidas deverão, ainda em 2015, trazer resultado. Dinheiro tirado do bolso dos empresários e dos trabalhadores, com certeza. Não há outra fórmula, pois governos não produzem nada, arrecadam o que têm através de impostos, taxas e emolumentos de todos os tipos.
Mas ao proclamar o apoio à punição dos que saquearam a Petrobras e prometer a continuidade dos programas sociais e reformar ações na educação, saúde e segurança, Dilma Rousseff merece o obséquio da compreensão, por mais antipáticas que sejam as medidas. Que o ano seria difícil todos sabiam, era previsível pelos déficits das contas oficiais. Não se tem como arrumar as despesas pessoais, empresariais e, muito menos, as públicas, sem gastar menos e arrecadar mais. O que os empresários e a população assalariada pediam, pedem e sempre almejarão, é que os governos façam seus gastos no máximo iguais às suas receitas. É por demais elementar que se gastando mais do que é arrecadado haverá déficit. Em seguida, inflação e, com a desestrutura econômico-financeira, desemprego, criando-se um cenário do pior dos mundos.
Ao citar a crise internacional, o clima adverso e os problemas que outros países passaram e ainda sofrem, a presidente tegiversou. Esqueceu de dizer que o que está fazendo foi aquilo que, na campanha eleitoral, afirmou que seus adversários aplicariam, jamais ela. Crasso engano, pois fosse quem fosse o eleito teria que adotar menos gastos e mais arrecadação, acabando com as isenções fiscais, cujos efeitos se esgotaram tão logo as pessoas consumiram tudo o que podiam, aproveitando as facilidades de crédito dadas a rodo. Enfim, a presidente, a rigor, falou o mais do mesmo, com as manifestações dos que lhe são contrários, evidentemente. Esperamos que, em alguns meses, a teoria dela, na prática, seja confirmada.
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