A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quinta-feira, 12 de março de 2015

OS LIMITES DAS MANIFESTAÇÕES



ZERO HORA 12 de março de 2015 | N° 18099


EDITORIAL


Se respeitados os requisitos da civilidade, os brasileiros terão a chance de oferecer, com as passeatas desta semana, mais uma contribuição à democracia.


Bater panelas, vaiar governantes, ir às ruas para defendê-los ou para criticá- los, tudo isso está assegurado pela Constituição e contribui para o vigor da nossa democracia. Assim como as redes sociais, ruas e praças também são espaços adequados para a população se manifestar – desde que, em todas essas plataformas, os limites sejam observados. E não pode haver dúvida de que o limite do direito de manifestação é o respeito a quem pensa diferente. Bloquear o trânsito, invadir prédios públicos e depredar patrimônio alheio são atos inaceitáveis. O país aprendeu, a partir das passeatas de junho de 2013, que todos os excessos serão condenados, como os atos de vandalismo que se repetiram há dois anos em muitas capitais.

As mobilizações marcadas para esta semana têm uma característica que as diferencia dos atos de quase dois anos atrás, quando os brasileiros realizaram os primeiros movimentos públicos de massa do século 21. Desta vez, está claro, nas convocações feitas pelos articuladores das passeatas, que apoiadores do governo, de forma declarada ou implícita, organizam as manifestações previstas para hoje e para amanhã. Sindicalistas, ONGs e outras entidades pretendem levar às ruas defensores das conquistas sociais, dos direitos trabalhistas e da Petrobras, sob o argumento de que é preciso preservar avanços dos últimos anos.

Não importa se tais manifestações são ou não articuladas por setores vinculados ou simpáticos ao Palácio do Planalto, mas que todos exerçam o direito de expressar posições. Assim como não cabem restrições ao fato de que as passeatas previstas para o dia 15 terão eventual apoio de partidos oposicionistas. As populações de cada Estado levarão às ruas também suas peculiaridades, num momento de instabilidade econômica, ética e política. Por isso, é natural que, neste contexto de insegurança com o futuro do país, os brasileiros expressem apreensão e descontentamento, de um lado, e que tal postura seja confrontada com as dos que pretendem tornar pública a confiança nos governantes.

A democracia brasileira já amadureceu o suficiente para permitir a convivência pacífica de contrários, mesmo em momentos de evidente tensão, como o que estamos vivendo. Espera-se que as lideranças envolvidas nas mobilizações, os participantes dos atos e as autoridades encarregadas de assegurar as condições à livre manifestação ofereçam de fato mais uma contribuição à democracia, desde que observados os requisitos do respeito à opinião alheia, da segurança e da civilidade.

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