A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

REAÇÃO À CORRUPÇÃO

EDITORIAL ZERO HORA 02/08/2011

Há dois modos de se avaliarem os sete meses do governo Dilma Rousseff: sob o ângulo dos escândalos, que vêm se sucedendo com indesejável frequência, ou sob o da investigação das denúncias, que também está sendo uma característica da atual administração. É chocante constatar tantos casos de corrupção e tantas irregularidades, que já provocaram a demissão de dois ministros, a troca de dois outros e a exoneração de mais de duas dezenas de diretores e servidores de órgãos públicos. Mas é, também, tranquilizador ver que a presidente não está varrendo o lixo para baixo do tapete, ainda que as denúncias de irregularidades, inicialmente concentradas em áreas e em partidos específicos, se mostrem cada vez mais disseminadas.

Como revelou o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em entrevista ao jornal O Globo de ontem, a determinação presidencial é de que nenhuma denúncia fique sem averiguação. Mas, ainda que reafirme a disposição de não tolerar nenhum ato irregular, o ministro se apressa em negar a existência de um clima de caça às bruxas e em descartar a possibilidade de o governo promover uma “varredura geral”. Uma das explicações é o fato de as suspeitas de irregularidades já não se restringirem a um partido de menor expressão que, ainda assim, comandava o Ministério dos Transportes, responsável por uma parcela expressiva das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A cada dia, as suspeitas envolvem mais agremiações políticas e se estendem a diferentes áreas, desafiando a real disposição do Planalto de enfrentá-las a fundo.

Quando a corrupção parece fugir ao controle, é natural que a percepção inicial da sociedade seja a de um aumento no número de irregularidades. É inevitável também que integrantes de partidos da base de sustentação se mostrem desconfortáveis com a situação, que o próprio governo tema os prejuízos e que segmentos da oposição procurem tirar algum proveito da situação criada. A preocupação se amplia pelo fato de o Executivo precisar de votos para seus projetos no Congresso e de alianças eleitorais para as eleições do próximo ano.

A presidente da República está diante do que pode se constituir num marco do combate a abusos no setor público. A sociedade precisa saber até onde o governo pretende ir para desmontar a máquina dos desvios. Também os demais poderes devem mostrar se estão dispostos a contribuir de forma efetiva, e não apenas rotineiramente, como fez o Congresso ao aprovar em sabatina os dirigentes afastados da área de Transportes. Ainda que não pareça, o país vem registrando avanços na atuação de seus órgãos de fiscalização. O que falta agora é profissionalizar mais quem deve ficar submetido a esse controle, reduzindo ao máximo a presença de quem passa a ocupar a máquina administrativa por interesses que, na maioria das vezes, são meramente partidários.

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