A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 6 de agosto de 2011

VIVA TONHO CROCCO!

LUCIANO ALABARSE, DIRETOR TEATRAL, COORDENADOR DO PORTO ALEGRE EM CENA - 04/08/2011

Estarrecido diante da página da Zero Hora. Foi assim que me senti ao ler a matéria publicada neste jornal ontem. Não conheço pessoalmente o músico Tonho Crocco, embora escute, com prazer, muitas canções de sua banda, a Ultramen. Vamos aos fatos.

Tonho é alvo de uma ação processual, iniciada na Assembleia Legislativa, que, acreditando na reportagem, pode levá-lo a pegar dois anos de cadeia. Tudo em função de uma música intitulada Gangue da Matriz, cuja letra se reporta, diretamente, ao aumento salarial que nossos deputados votaram e aprovaram em benefício próprio. Não entro no mérito de ser legítimo ou necessário o generoso reajuste financeiro autoconcedido. Vá que haja razões que desafiam a lógica, e que os deputados tenham razão... O que discuto aqui, no mês em que comemoramos 50 anos da Legalidade, esse extraordinário movimento capitaneado por Leonel Brizola e que mobilizou a sociedade gaúcha contra a ideia de negar ao Jango o direito legítimo de assumir a presidência do Brasil, é o fato de um deputado do PDT, partido desse grande e libertário político, tomar uma atitude dessas. Vamos combinar: Tonho, como cidadão e artista, tem todo o direito de se expressar, e temos de lhe garantir tal direito. Silenciá-lo sob a mordaça da censura ou da prisão, jamais.

Artistas e políticos são homens públicos. Deveriam saber lidar com críticas negativas, ao se sentirem ameaçados em sua honra, quando confrontados com o contraditório. Não é proibindo filmes destinados ao público adulto ou ameaçando um músico com cadeia que vamos restabelecer os padrões de honestidade e bom senso que todos desejamos para o país. Vai faltar espaço nas prisões, aliás, se todos os que se sentem indignados com as falcatruas e corrupções do Estado brasileiro forem nelas trancafiados. E, se não é esse o caso do aumento salarial, por que atitude de tal dimensão? Não seria mais digno e correto, simplesmente, vir a público e dar a sua versão dos fatos, suas razões, exemplificando assim um padrão democrático de comportamento?

Apelo, como homem público que também sou, ao deputado Giovani Cherini e ao Ministério Público, pela imediata revogação desse processo absurdo. Aí, sim, assegurados aos cidadãos o direito à livre expressão, estaremos construindo o país tão desejado por todos. Serenidade e anistia sempre geram bons resultados. E que deputados e artistas tenham assegurada no país, minimamente, essa tão ansiada liberdade de expressão. Viva Tonho Crocco!

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