A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

INDIVIDUALISMO RESPONSÁVEL

JUREMIR MACHADO DA SILVA, CORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2012


Houve reação ao meu texto de ontem. Leitores alegam que não falei do avanço do individualismo, do egoísmo e do narcisismo. Volto a Gilles Lipovetsky, para quem, se houve uma crise de valores, já passou. "A cultura pós-moralista não conclama mais os cidadãos a morrer pela pátria, mas, ao mesmo tempo, nunca a democracia teve uma aprovação tão profunda e geral. Acreditarmos que a intolerância que só aumenta é, em parte, uma ilusão de ótica. Quando reina o culto do ego, os valores de tolerância progridem; quando desaparecem as grandes obrigações e as ideologias heroicas, triunfa o ideal do respeito às diferenças e dos Direitos do Homem; quando os indivíduos voltam-se, cada vez mais, para si mesmos é que manifestam a maior alergia à violência sanguinária. O pós-dever não significa o recuo do humanismo, mas a sua consagração social e histórica." O bicho é diferente do que se diz.

Democracia é aceitação de valores mínimos. O essencial cabe numa palavra: tolerância. Lipovetsky deita e rola: "É verdade, nossas sociedades endeusam o prazer, a sexualidade, a satisfação do desejo, etc. Por outro lado, contudo, elas são tudo menos sociedades entregues à orgia ou a anarquias sexuais. Que vemos? Nas últimas pesquisas francesas, os homens com mais de 25 anos declaram ter tido uma média entre 12 e 14 parceiras sexuais na vida; as mulheres, entre dois e cinco parceiros. Na média, nos 12 meses anteriores, homens e mulheres confessam um só parceiro sexual. Estamos, portanto, muito longe da promiscuidade e da indisciplina sexuais. A superação da cultura moralista e do sacrifício, assim como a espiral dos direitos a uma vida livre, não conduz, como se diz em demasia, à decadência de todos os valores nem ao vale-tudo libidinal".

O culto do antigamente era melhor tem muito de mito. Sim, o individualismo irresponsável mostra suas garras "com sua valorização do dinheiro e da liberdade individual", mas, enfatiza Lipovetsky, "não se destaca suficientemente uma outra inclinação do individualismo que coincide justamente com uma demanda e uma preocupação éticas. É o que chamo de individualismo responsável. Já dei alguns exemplos: a tolerância, a ecologia, o respeito pelas crianças, a exigência de limites, o voluntariado, a luta contra a corrupção, as comissões de ética. Por toda parte, o individualismo, na cultura pós-sacrificial, desenvolve-se tomando duas formas radicalmente opostas: por um lado, aumento da busca dos limites legítimos a fixar à liberdade de cada um; por outro lado, aumento do esquecimento ou da negação do direito dos outros".

Vivemos um tempo de paradoxos: "As sociedades pós-moralistas produzem mais individualismo responsável, mas também mais individualismo irresponsável, mais autonomia razoável, mas também mais autonomia descontrolada e sem regras. Nesse contexto, o que faz sentido hoje, não são mais os grandes projetos nem os grandes sacrifícios, mas o ideal de responsabilização humana, a ambição de fazer retroceder o individualismo irresponsável". Clareou?

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