BEATRIZ FAGUNDES, O SUL
Porto Alegre, Segunda-feira, 18 de Junho de 2012.
É revoltante assistir as cenas que ocorrem diariamente dentro de ônibus lotados, sujos e muitos com a tripulação absolutamente incapaz de lidar com os usuários de maneira civilizada.
Causa no mínimo antipatia junto à maioria dos contribuintes-eleitores a insistência de certos políticos de darem às obras da Copa uma importância que, se existe, está diretamente ligada a interesses econômicos e jamais ao interesse da coletividade. As prioridades, determinadas exclusivamente pelas tais obras viárias com vista às duas ou três disputas da Copa que Porto Alegre deverá sediar, deixam órfãos a maioria dos porto-alegrenses e todos os moradores da Região Metropolitana que passam ou trabalham na Capital. O governo federal, preocupado, e com razão, com a crise financeira mundial, está preocupado em manter o comércio funcionando a mil e para isso vem mantendo vantagens fiscais para a venda de automóveis, decisão que aliada à conhecida "tara" do brasileiro por carro, está tornando nossas cidades verdadeiros infernos na questão do trânsito. Todo mundo reclama dos congestionamentos, que na Capital já não tem mais lugar ou horário determinados, mas pergunte a qualquer motorista se deixaria seu carro em casa para colaborar com a mobilidade urbana? Ninguém topa. E por que ninguém trocaria o conforto de seu carro, mesmo enfrentando as trapalhadas provocadas pelas inúmeras armadilhas construídas metodicamente pelos engenheiros de trânsito da EPTC? Porque não temos um transporte coletivo que mereça ao menos uma avaliação como razoável. Não! Pelo contrário!
Desafio a quem duvidar de minhas afirmações a encontrar duas pessoas que morem na periferia de nossa Capital que estejam satisfeitas com sua linha de ônibus. Aliás, nem precisa ir para a periferia, pois mesmo as linhas que atendem à região central e os bairros de classe média alta, são lamentáveis. Não temos metrô em Porto Alegre. E não me venham com a aquela tal ladainha que monopolizará o tema nos previsíveis discursos dos candidatos no próximo horário eleitoral. A tal ladainha de que o sonho do metrô esta próximo de se realizar e blá blá blá. Quantos ônibus atendem, por exemplo, os moradores da Zona Sul da Capital no trajeto da avenida Juca Batista em direção à Restinga, Belém Novo e Lami? O número de coletivos permanece o mesmo apesar das dezenas de condomínios construídos nos últimos anos na região. O mesmo raciocínio vale para quase todos os lados da cidade. É verdade que as atuais linhas estão circulando com prazo de concessão vencido e que já passou do prazo de novas licitações? Quem controla o cumprimento das tabelas, especialmente nos horários de pico? É revoltante assistir as cenas que ocorrem diariamente dentro de ônibus lotados, sujos e muitos com a tripulação absolutamente incapaz de lidar com os usuários de maneira civilizada.
O usuário reclama, grita, xinga enquanto corre para chegar ao trabalho ou em casa já exausto e sem vontade ou forças de levar sua indignação adiante. E o tempo voa. Em especial para aqueles que decidem deixar o carro, pois não existem estacionamentos, e os que estão disponíveis cobram preços escorchantes sem controle nenhum. Para quem deixa o carro em casa e opta pelo serviço de lotação, a tragédia não é menor. Não cumprem horário, cada linha faz a sua tabela, sem qualquer fiscalização. Se optar pelo serviço de táxi, terá que contar com a sorte já que em muitos horários eles simplesmente desaparecem. Sem falar nos dias de chuva, quando se tornam produto de luxo! Entretanto, os políticos só falam em mobilidade urbana voltada para a Copa. Pensam em obras viárias ignorando solenemente o transporte coletivo de massa, que se fosse de qualidade e confiável poderia reduzir substancialmente os congestionamentos em nossa leal e valorosa Porto Alegre! Eles confiam na vocação de nosso povo para oferecer pela eternidade a outra face. Como o brasileiro é bonzinho, não é mesmo!
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