A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

BASTA À CORRUPÇÃO - ESCÂNDALOS ALIMENTAM REAÇÃO


Escândalos alimentam reação - ZERO HORA 07/09/2011

Uma sequência de denúncias de corrupção em ministérios e a decisão dos deputados federais de absolver a colega Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo dinheiro do mensalão do DEM, geraram uma agitação inédita nos mouses, teclados e smartphones do país. Em menos de 30 dias, internautas em diferentes rincões depositaram em sites, blogs e nas redes sociais indignação com a corrupção, a impunidade e os privilégios.

De forma desordenada, dezenas de páginas foram criadas, compartilhadas e recomendadas, causando um efeito multiplicador difícil de ser mensurado com precisão. Um levantamento do grupo NasRuas, criado pela administradora Carla Zambelli, 31 anos, em São Paulo, apontou mais de 100 mil usuários de internet com presença confirmada em mais de 40 eventos em 22 Estados.

A iniciativa de Carla, por exemplo, gerou outros 30 grupos pelo país que vestirão preto e marcaram locais de encontro para protestar.

– Estamos de luto – diz ela.

Já os adeptos do movimento Caras Pintadas contra a Corrupção, que geraram combinações de passeatas em 21 cidades, devem investir nas cores da bandeira. Em Porto Alegre, eles pretendem aproveitar o desfile cívico de 7 de Setembro na Avenida Loureiro da Silva e caminhar até o Brique da Redenção. Há adesões de outros grupos virtuais e de entidades formalmente constituídas como a OAB, que enviará cavaleiros de seu piquete no acampamento farroupilha. Ontem à noite, o evento no Facebook local do grupo Caras Pintadas tinha mais de sete mil confirmações.

Na capital gaúcha, frequentadores do grupo Anonymous pretendem se encontrar diretamente na Redenção usando máscaras.

– Um se oferece para fazer folhetos, outro para imprimi-los. Outros fazem faixas. Somos todos voluntários – diz um frequentador das páginas do Anonymous, que trabalha no setor de TI de uma rede de hotéis.

Motivados pelo clima de indignação, alunos do Colégio Anchieta, em Porto Alegre, vestiram preto ontem e fizeram um protesto durante o recreio. Já as estudantes de Direito Eliza Medeiros e Raquel Villanova Urtassum se encontraram para elaborar cartazes.

– Tá na hora de a sociedade se movimentar. O povo precisa ver que os políticos são nossos representantes – diz Eliza.

A reação também se espalhou pelo Interior. Em Carazinho, no norte do Estado, os 300 participantes da mobilização Basta Corrupção prometem marchar usando roupa preta. Em Gramado, haverá shows, marcha e debate sobre a corrupção. Ainda na Serra, em Caxias do Sul, dois grupos se uniram para fazer uma passeata pelo centro. Todos devem aparecer vestindo preto e com rostos pintados.

“Ninguém diz um basta”. Adilson Correia da Silva, organizador do grupo Caras Pintadas

Consultor de organizações sociais, Adilson é conhecido no Facebook como Adilson Di. Em meados de agosto, ao perceber a movimentação nacional contra a corrupção, ele se ofereceu para criar uma página em Porto Alegre de um movimento que ganhou corpo na internet, o Caras Pintadas Contra a Corrupção.

ZH – O que motivou o senhor a ajudar a organizar uma mobilização pela internet?

Adilson – Depois dos caras pintadas (no governo Collor) e das Diretas Já, nunca mais vi nenhum outro movimento de indignação da juventude contra as coisas que acontecem no país. A corrupção se instalou em todos os níveis e ninguém diz um basta. Ninguém vai para a cadeia. A gente conversa com as pessoas e pergunta: “Ninguém vai fazer nada?” E ninguém faz nada.

ZH – Como o senhor criou o grupo no Facebook chamando para a passeata em Porto Alegre?

Adilson – Ao natural. Criei um evento para convidar os meus amigos para a gente tomar um chimarrão, ver o desfile da Independência e depois fazer uma caminhada. Aconteceu que as pessoas foram aderindo, se somando, e o movimento tomou corpo.

ZH – O senhor espera que elas, de fato, participem do protesto em Porto Alegre?

Adilson – A nossa expectativa é de que vá 10%. Mas a ideia não é só que elas se desloquem para a passeata, mas que protestem em qualquer lugar, tirem fotos e postem na internet.

ZH – Que resultado prático vocês esperam obter com a iniciativa?

Adilson – Mandar um recado para os políticos do tipo: “Olha, pode acontecer com vocês o que ocorreu com os países árabes”. É um alerta.

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