A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

PRESSÃO DA SOCIEDADE


EDITORIAL ZERO HORA 08/09/2011

Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff ter garantido, em pronunciamento à nação sobre a data da Independência, que o combate à corrupção é “uma ação permanente, inquebrantável”, milhares de brasileiros saíram ontem às ruas, em diferentes cidades do país. O movimento, espontâneo, sem a participação direta de representantes de partidos ou de centrais sindicais, é consequência natural de uma crescente indignação de parcelas expressivas da sociedade com a insistência de grupos políticos não só em práticas que implicam desvio de recurso público como também em justificá-las. Por isso, é importante que esse e protestos semelhantes não se restrinjam a um ato isolado, nem às ruas, mas possam contribuir de forma consequente – sempre no limite da lei e sem interferir na liberdade dos demais cidadãos –, para um país mais ético.

Não por acaso, a mobilização teve início a partir dos temores de que, preocupada em não fragilizar em excesso sua base parlamentar de apoio, a presidente da República estaria na iminência de paralisar a faxina ética no governo federal. O estopim do movimento foi justamente a decisão majoritária de integrantes da Câmara de, mesmo confrontados com a exibição de um filme mostrando a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) se locupletando com dinheiro suspeito, livrarem-na da cassação, sob a alegação de que o flagrante antecede a eleição da parlamentar. A população precisa se mostrar vigilante, nas ruas e junto às instituições, enquanto políticos e gestores públicos continuarem desviando dinheiro e se favorecendo de privilégios.

Em muitos aspectos, os atos que se multiplicaram ontem por todo o país remetem às Diretas Já e aos caras-pintadas, ainda que o uso massificado das redes sociais façam-nos se parecer mais com protestos recentes no Chile e na Espanha. Quem saiu ontem às ruas, porém, com roupa preta ou verde-amarela, nariz de palhaço e cara pintada, manifestou nos cartazes, em sua maioria confeccionados à mão, a indignação contra questões bem atuais e bem brasileiras. É o caso, além do desvirtuamento de verba pública, da impunidade que costuma estar associada a crimes envolvendo políticos e homens públicos, dos megassalários, da imunidade parlamentar, do foro privilegiado para autoridades, do sigilo bancário excessivo, da falta de transparência nas contas oficiais, dos recursos obscuros de campanhas eleitorais, de abusos com emendas parlamentares e da morosidade do Judiciário, entre outros.

Diante de tanta deformação, as manifestações de ontem, à primeira vista, parecem frágeis demais para conter a ganância de corruptos e corruptores, ajudando a estancar um verdadeiro escoadouro de dinheiro público. Os ganhos da marcha contra a corrupção vão depender da capacidade dos brasileiros de continuarem permanentemente mobilizados, nas ruas e onde sua presença se fizer necessária.


BRASÍLIA | Carolina Bahia - Cegueira

A marcha contra a corrupção coloriu a Esplanada, mas mal foi notada pela presidente Dilma Rousseff e pelos ministros que lotaram o palanque das autoridades. É sintomático. Nas duas horas do desfile, eles trocaram ideias sobre assuntos do momento, como a economia mundial. Pedro Novais (Turismo) e Mário Negromonte (Cidades) marcaram presença, como se não estivessem com a corda no pescoço. A crise econômica tomou o lugar da crise política. E há quem se sinta aliviado por ter escapado da limpeza ética. Dilma é refém dessa pressão, mas opta por se concentrar nos mercados. Com ou sem manifesto, é a economia aquecida que lhe garante bons índices de aprovação popular.

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