Militantes do Facebook descobrem a política com Marcha Contra a Corrupção. Escândalos levaram irmãs a desencadear ato apartidário e agora falam em se engajar por novas causas - 09 de setembro de 2011 | 8h 20 - Leandro Cólon, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - "A gente não entende nada de política", avisam as irmãs Lucianna, 30 anos, e Daniella Kalil, 32. Elas montaram uma página no Facebook no começo de agosto e "bombaram". Um mês depois, levaram 25 mil pessoas às ruas de Brasília para protestar contra a corrupção e ofuscaram a presidente Dilma Rousseff no desfile oficial do 7 de Setembro. Para elas, não é defeito o desconhecimento detalhado sobre política. "Não precisa entender de política para saber que falta transparência no Brasil. O povo precisa se mobilizar, ninguém faz nada", diz Lucianna.
Lucianna Kaliu (à esq.) e sua irmã Daniela ajudaram a organizar a marcha
As irmãs estão longe da elite de Brasília e dos partidos políticos. Lucianna é autônoma, vendedora comercial e mora de aluguel com o marido. O casal tem uma renda mensal de R$ 6 mil. Daniella não tem emprego fixo, vive de comissões como corretora e mora com a mãe em Sobradinho, periferia do Distrito Federal. Lucianna é mais contida. Daniella, não: "Eu sou da ‘night’ (noite)".
As duas já votaram no ex-presidente Lula, em Marina Silva, no tucano José Serra e em deputados e senadores de PT, PSB, DEM e PSDB. O voto, para elas, é na pessoa. "Para federal, eu votei no Paulo Tadeu (PT) porque ele ajuda Sobradinho", diz Daniella. Feliz da vida com o sucesso da marcha, ela agora começa a sonhar com a política. "Estudei com o deputado (Antônio) Reguffe na faculdade e quero entrar no partido dele, nem sei qual é. Qual é?" Reguffe é do PDT.
Orgulhosa dos 3,7 mil seguidores na página pessoal do Facebook, Daniella alerta: "Quero me engajar. Já estou lendo muito mais. Pesquisei muito no Google sobre política. Estou aprendendo muito". Lucianna não gostou da ideia: "Nunca me envolvi e não vou me envolver. Prefiro ajudar na conscientização popular". Numa coisa as duas concordaram no protesto de quarta-feira: impedir o uso de adereços partidários. "Mandei abaixar as bandeiras. É um movimento apartidário", diz Lucianna.
A ideia das irmãs de criar a Marcha Contra a Corrupção surgiu dos recentes escândalos envolvendo os Ministérios da Agricultura e dos Transportes, logo após a queda de Antonio Palocci da Casa Civil. "As coisas precisam mudar. Não precisa entender de política para saber que a Dilma está fazendo manobras nessa faxina", afirma Lucianna. "Ela está tapando o sol com a peneira."
Para protestar, as duas montaram então o "evento" "Marcha da Corrupção" no Facebook. Em poucos dias, mais de 5 mil pessoas aderiram.
Na semana passada, chegou a 25 mil, mesmo público que, segundo estimativa da Polícia Militar do DF, tomou conta da Esplanada dos Ministérios na quarta-feira.
A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
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