EFEITO FACEBOOK. Protesto sem as bandeiras habituais - PAULO GERMANO E VIVIAN EICHLER
Sem a UNE, sem a CUT, sem a Força Sindical e sem o Cpers – que se ausentam neste feriado de 7 de setembro –, usuários da internet se mobilizam para protestar contra a corrupção
Há uma expectativa rodeando este 7 de Setembro, o dia em que a Independência do Brasil completará 189 anos com 130 mil pessoas protestando nas ruas – mas só se elas cumprirem o que prometeram.
Sem vínculo aparente com partidos ou sindicatos, uma insurreição nas redes sociais resultou em dezenas de protestos marcados para hoje: a bandeira é só uma, um basta à corrupção. Não há certeza sobre as proporções que o movimento ganhará fora da internet, mas há consenso sobre a nova realidade política dos brasileiros.
– É uma população que, embora esteja sedenta por se manifestar, não sabe direito como fazer. Os tradicionais “puxadores de rua”, que eram a UNE, as centrais sindicais, os partidos de esquerda, todos estão atrelados ao governo – diz a cientista política Lucia Hippolito.
Em meio à acomodação de corporações com poder de articular o povo, redes sociais como o Facebook surgem como alternativa de organização. Cidadãos comuns criaram páginas condenando a maracutaia (afinal, enquanto ministros caem por suspeita de corrupção, partidos se enfurecem contra investigações) e marcaram para hoje protestos em pelo menos 17 Estados. Dezenas de milhares de pessoas confirmaram presença.
– É uma incógnita, não há como precisar a real adesão. No ano passado, um movimento semelhante defendendo a Lei da Ficha Limpa funcionou em parte: 150 mil e-mails foram enviados aos parlamentares, deu certo. Mas o compromisso de protestar na rua, em Brasília, fracassou – recorda a pesquisadora de redes sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro Flávia Frossard, ponderando que a internet foi o berço de manifestações no Egito, na Inglaterra e no Chile neste ano.
Em Porto Alegre, uma passeata às 10h, partindo da Avenida Loureiro da Silva rumo à Redenção, deverá ser o principal evento. Antiga aliada dos movimentos contra a rapinagem no poder público, a CUT, tradicional parceira do PT, não vai participar.
– Não vamos nos somar um movimento cuja origem é desconhecida. Não há um caráter de transparência. Somos contra a corrupção, mas participamos de movimentos da sociedade organizada, não de manifestações obscuras – diz o presidente estadual da CUT, Celso Woyciechowski.
É o que se repete em outras entidades: a Força Sindical optou por campanhas salariais e a defesa dos aposentados, o Cpers estará longe.
– Estamos em caravana pelo Interior e nem discutimos o assunto (participação nos protestos) – disse a presidente da entidade, Rejane de Oliveira.
A UNE, segundo o presidente Daniel Illiescu, apenas apoia os estudantes a participarem de “toda e qualquer manifestação” – mas sem convocá-los oficialmente.
Não quer dizer que os protestos estarão livres de bandeiras partidárias. Certamente aparecerão algumas do PSOL, diz o presidente estadual do partido, Roberto Robaina. O PSOL é um dos poucos partidos de esquerda na oposição ao governo Dilma Rousseff.
– O movimento tem caráter de autoconvocação. Não há uma organização do PSOL, mas vamos participar – diz Robaina.
Na esteira da força popular, a OAB gaúcha prepara para hoje um ato paralelo, a partir das 14h, na sede da entidade. Será lançado o site www.agorachega.org.br, onde um cadastro permitirá às pessoas enviarem e-mails aos parlamentares defendendo, no mínimo, dois projetos: o que transforma corrupção em crime hediondo e o fim do voto secreto no Congresso.
– Queremos entupir as caixas deles – diz o presidente da OAB-RS, Claudio Lamachia.
Sindicatos, associações, conselhos de classe e até maçonaria confirmaram presença no evento da OAB.
A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
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