Igreja Católica estimula fiéis a protestar contra corrupção - BERNARDO MELLO FRANCO DE SÃO PAULO e MATHEUS MAGENTA ENVIADO ESPECIAL A APARECIDA (SP), FOLHA.COM, 13/10/2011 - 07h21
No feriado de Nossa Senhora Aparecida, líderes da Igreja Católica discursaram contra a corrupção e usaram a data religiosa para incentivar os fiéis a participar das manifestações realizadas ontem em diversas cidades do país.
O tema marcou as falas dos cardeais dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, e dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB (Conferência da Nacional dos Bispos do Brasil).
Eles criticaram os políticos e disseram que a sociedade deve se mobilizar e fiscalizar o uso do dinheiro público.
Na igreja de São Luiz Gonzaga, em Pirituba (zona norte de SP), dom Odilo elogiou os protestos e disse que a corrupção "está em toda parte, afligindo o povo brasileiro".
"Quando não somos mais capazes de reagir e nos indignar diante da corrupção, é porque nosso senso ético também ficou corrompidoº, afirmou, em sermão. ªQuando o povo começa a se manifestar, a coisa melhora. É isso que precisa acontecer."
Depois de chamar o rio Tietê de "rio da morte" e "esgoto a céu aberto", o cardeal comparou a situação de suas águas aos desvios na política. "A corrupção é como a água suja do Tietê. Não gera vida, não é coisa boa", disse.
Em seguida, ele pediu à santa que "interceda por todos os responsáveis pelo governo". "Nossa Senhora Aparecida é a padroeira do Brasil. Queremos que o Brasil melhore, que seja um país mais digno e decente."
Na Basílica de Aparecida, o presidente da CNBB disse, em entrevista após a missa solene, que a entidade defende os atos contra a corrupção.
"Nós sabemos de manifestações organizadas por redes sociais e defendemos que a população deve acompanhar os nossos homens públicos, sejam do Executivo ou do Legislativo", afirmou dom Raymundo Damasceno.
"Quando há denúncias de corrupção, que sejam investigadas, [que se investigue] se há responsáveis ou não."
O arcebispo criticou os debates sobre a reforma política na Câmara e no Senado. "Parece que está se discutindo no Congresso mais uma reforma eleitoral do que uma reforma política propriamente dita", disse.
ESCÂNDALOS
Os dois cardeais evitaram referências diretas a escândalos recentes, como a acusação de venda de emendas na Assembleia Legislativa paulista, que ronda a base do governo Geraldo Alckmin, e as suspeitas de corrupção que derrubaram quatro ministros do governo Dilma Rousseff.
A polêmica sobre a descriminalização do aborto, que dominou o dia de Nossa Senhora Aparecida em 2010, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, desta vez foi deixada de lado.
No ano passado, fiéis que foram a Aparecida receberam panfleto assinado por um braço da CNBB recomendando não votar no PT. O então candidato José Serra (PSDB) citou o tema após a missa.
Ontem, Serra e Alckmin foram ao santuário, mas o ex-governador não deu entrevista. A presidente Dilma permaneceu em Brasília, sem compromissos oficiais.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Já estava na hora da Igreja Católica começar a liderar um grande e amplo protesto contra a corrupção levantando um abaixo-assinado em todas as paróquias e levando uma multidão às ruas num dia de domingo, em todas as cidades do país. Estaria seguindo o mesmo exemplo do corajoso padre que levantou a Itália contra a Máfia.
A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.
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