A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PROTESTOS PRECISAM DE FOCO E DE LIDERANÇAS

PROTESTOS PRECISAM DE FOCO. Criados na internet, movimentos no Brasil e nos EUA têm que apontar soluções - O GLOBO, 13/10/2011 às 22h52m; Cleide Carvalho e Fernanda Godoy, correspondente


SÃO PAULO e NOVA YORK - O movimento anticorrupção articulado por internautas brasileiros ainda está longe de ser uma Diretas Já, mas, assim como o Occupy Wall Street, onde os manifestantes pedem maiores impostos para os ricos dos Estados Unidos, faz parte da nova geração de movimentos sociais. Ao mesmo tempo que erguem uma bandeira, evidenciam ausência de lideranças. A força não é exatamente a das ruas, é a de atuar num dos pontos sociais mais sensíveis: a formação da opinião pública. Para os especialistas, não há dúvida do poder de articulação das redes sociais, cujo resultado ainda é imprevisível.

- São novas formas de criar opinião pública que podem não ter efeito imediato, mas repercutem na cultura cívica do país e isso terá de ser considerado no campo da política institucional - diz o professor Remo Mutzenberg, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que estuda o surgimento de novos movimentos sociais.

Para Mutzenberg, o foco dos movimentos está mudando. Nos tradicionais, como o dos caras pintadas, que pediam o impeachment do presidente Fernando Collor, havia expectativa de influenciar diretamente as instituições, numa pressão direta sobre o Congresso. Agora, os ativistas querem influenciar o comportamento das pessoas.

- A pergunta é até que ponto esse movimento se constitui além da formação de opinião, mas de uma força política que influencie no jogo político - questiona o professor.

O sociólogo mineiro Daniel Perini, consultor da ONG Fábrica do Futuro, diz que a internet se transformou num espaço virtual de protesto, capaz de repercutir e gerar resposta do poder público. Para ele, a falha do movimento contra a corrupção é não dizer o que fazer para mudar.

- A corrupção é percebida pela sociedade como generalizada. Ser contra a corrupção todo mundo é, mas e daí? Qual a proposta? Querem fazer o quê? Teremos de ter um prefeito, um deputado - diz Perini.

É, de certa forma, a mesma crítica feita ao movimento de Wall Street. O movimento que fincou pé no distrito financeiro de Nova York em 17 de setembro nasceu na internet e, por meio das redes sociais, já se expandiu para mais de cem cidades americanas e para outros países. Pela internet, os manifestantes fazem desde arrecadação de fundos até convocação para mutirões de limpeza.

O jornal do movimento, "Occupy Wall Street Journal", é financiado com US$ 75 mil arrecadados por meio do site Kickstarter, que ganhou projeção recolhendo doações para projetos criativos. Nesta quinta-feira, diante da ameaça de despejo feita pelo prefeito da cidade, Michael Bloomberg, que alegou a necessidade de limpar a praça, o site pedia voluntários e a doação de vassouras, esfregões, sabão e mangueiras para uma faxina. Os computadores que abastecem o site e o livestream transmitido da Praça Zuccotti, bastião do movimento, são os únicos com energia elétrica garantida.

- É o primeiro movimento social realmente feito com base na experiência de jovens criados na era da internet. Não estou me referindo ao fato de eles marcarem encontros pela internet, mas, sim, à maneira de se organizarem horizontalmente, em rede. Para eles, são muito importantes a transparência e a multiplicidade de vozes - diz o sociólogo Stephen Duncombe, estudioso dos movimentos sociais americanos, professor da New York University (NYU).

O movimento já se espalhou para reuniões regulares em universidades e em outros distritos de Nova York, além de cidades como Los Angeles, Chicago, Boston, Seattle. O OSW tem um "núcleo duro" de pessoas que dormem na praça, a menos de duas quadras da sede da Bolsa de Nova York, em Wall Street, e se dedica quase integralmente ao movimento, entre 300 e 600 pessoas. Mas a maioria de seus integrantes é uma população flutuante, que está na praça de quatro a seis dias por semana, mas passa um tempo equivalente ao da presença física trabalhando em seu computador, articulando pela internet e redes sociais. Diariamente são convocadas atividades e protesto-relâmpago. Sem líderes e com ideais como a justiça social e distribuição de renda, os manifestantes se definem como "os 99%" da sociedade americana, criticando os 1% mais ricos que se beneficiam da redução de impostos, os bancos e as grandes corporações. Assim como acontece com o movimento contra a corrupção no Brasil, eles rejeitam a participação de partidos políticos.

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