A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 6 de julho de 2013

AGITAÇÕES SUSPEITAS

REVISTA ISTO É N° Edição: 2277 | 06.Jul.13 - 20:14


De carona na onda de protestos, sindicalistas promovem greves que só trazem benefícios para seus próprios interesses e ameaçam a economia do País

Pedro Marcondes de Moura


As legítimas manifestações das últimas semanas não só colocaram os políticos contra a parede como provaram que a voz popular deve, sim, ser ouvida com atenção. Em um curto período, os milhões de brasileiros que foram às ruas protestar alcançaram vitórias significativas e é louvável que o País esteja disposto a passar por transformações. As recentes conquistas, porém, não justificam a existência de um fenômeno preocupante. No embalo da onda de reivindicações, alguns grupos decidiram entrar em ação, mas com uma clara diferença em relação aos outros manifestantes: só querem saber de beneficiar a si próprios. Na semana passada, uma oportunista greve de caminhoneiros paralisou rodovias em 15 Estados, uma parcela minoritária do Sindicato de Ônibus de São Paulo gerou caos na capital paulista e a Força Sindical, do deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP), anunciou que vai parar os portos nacionais nos dias 10 e 11, para gritar contra as novas regras dos setor. Com seus objetivos estreitos, esses agitadores geram danos à economia do País.


VIOLÊNCIA
Manifestantes ateiam fogo em pedágio de
Cosmópolis (SP): prejuízos para a economia

Um exemplo é o Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), adepto de uma estratégia peculiar: a associação bloqueia o trânsito com seus veículos imensos para fazer reivindicações que mais lembram um locaute, como são chamadas as greves de patrões, ilegais sob qualquer situação. À frente da paralisação dos caminhoneiros está Nélio Botelho, presidente de uma cooperativa do setor que mantém contratos de R$ 4 milhões mensais com a Petrobras. Entre outras exigências, Botelho quer a redução das horas de descanso dos motoristas – despropósito que agride os direitos dos trabalhadores. Como gosta de lembrar, ele mantém a tradição de parar o País a cada 13 anos. A deflagração ocorre sempre na mesma data: 25 de julho, dia de São Cristóvão, padroeiro da categoria. Desta vez, o senso de oportunidade diante do clamor das ruas o fez acelerar. Na segunda-feira 1º, o MUBC fechou rodovias, interrompeu o transporte de carga e obstruiu os acessos ao maior porto seco da América Latina, em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Nem liminares obtidas na Justiça suspenderam os piquetes.

Apesar das incertezas sobre o prejuízo total da paralisação, que durou até a quinta-feira 4, fábricas suspenderam produções devido ao desabastecimento e serviços, como os Correios, recorreram a planos alternativos. “O Brasil precisa de ordem tanto para sua democracia quanto para sua economia”, declarou a presidenta Dilma Rousseff. As reivindicações pouco factíveis impedem o Planalto de negociar. O movimento exige isenção de pedágios aos caminhões, proposta que acarretaria um buraco no erário e afugentaria os tão necessários investimentos privados em infraestrutura. O MUBC pede também subsídio no óleo diesel, mas esquece que o combustível possui elevada subvenção. O ministro dos Transportes, César Borges, classificou as demandas como “impossíveis de serem atendidas”. Na quarta-feira 3, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar o envolvimento de empresários do setor.

O movimento sindical esforça-se para aproveitar o capital obtido pelos protestos. A ideia é defender nas ruas algumas bandeiras históricas, como a redução da jornada de trabalho. Trata-se de uma atitude saudável – e até desejável – em um ambiente democrático. O problema é quando o desrespeito à legislação, chantagens e até falsas informações entram em cena. Na manhã da terça-feira 2, um pequeno grupo de oposição do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte de São Paulo, que pretendia apenas fazer barulho, parou 15% das 1,3 mil linhas de ônibus que atendem a capital. Por quatro horas, passageiros esperaram nos terminais. Depois, foram incentivados a seguir viagem sem pagar. Oficialmente, os manifestantes argumentaram que o ato era pela garantia de que não haveria demissões dos cobradores. Detalhe: as notícias sobre as dispensas de funcionários eram falsas, como confirmou a própria prefeitura. Quem liderou o protesto foi Edivaldo Santiago, réu em um processo por formação de quadrilha.


ALVO
Paulinho da Força: ele só quer incomodar Dilma,
mas incomoda todo o Brasil

Para a quinta-feira 11, as centrais sindicais preparam o “Dia Nacional de Lutas com Greves e Mobilizações”. Qual é o objetivo? “Não estamos propondo nada que prejudique o Brasil”, diz Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT). As entidades estão divididas. Aquelas identificadas com o governo, como CUT e UGT, devem dar prioridade às mobilizações (numa ação ao estilo argentino, em que organizações kirchneristas saem às ruas para marcar posição, mas poupam a presidenta). Já Conlutas e Força Sindical investirão em paralisações. Capitaneados pelo deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP), os portuários pretendem cruzar os braços nos dias 10 e 11 de julho, dificultando importações e exportações. O alvo é a nova Lei dos Portos. Vista como um marco positivo, ela permite a novos terminais, entre outros avanços, contratar portuários sem intermediação. Para Ricardo Gaspar, professor de economia da PUC-SP, trata-se de uma estratégia que pode desestabilizar o País. “Essa discussão foi superada e até já virou lei”, diz. “Não tem sentido retomá-la.” Paulinho, pelo visto, só quer incomodar Dilma, mas com isso incomoda todo o Brasil.


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