ZERO HORA 02 de julho de 2013 | N° 17479
Adroaldo Furtado Fabrício*
É de percepção geral que a atual onda de protestos em curso no país não se atém a uma pauta definida de reivindicações, parecendo antes expressar a insatisfação generalizada com o estado das coisas, notadamente na esfera pública: governos que não governam, fiscalização que não acontece, gastos monstruosos e mal direcionados, erros repetidos e sempre agravados, partidos ideologicamente vazios.
Também chama a atenção o cunho eminentemente popular das manifestações, caracterizadas sobretudo pela inexistência de lideranças ou chefias visíveis – ainda que, como sempre, um ou outro espertalhão procure avocar a condição de líder para extrair proveito pessoal ou partidário da situação. A espontaneidade é a outra marca dos movimentos, que explicitamente repelem qualquer veleidade de submissão a condutores.
E, descontadas as lamentáveis exceções de sempre (aproveitadores, delinquentes e desordeiros parasitários, sem afinação com os propósitos da maioria), a movimentação toda é pacífica e ordeira, sem embargo da pauta extremamente indefinida e difusa, da vasta amplitude da faixa etária dos envolvidos e da diversidade de estratos sociais e objetivos de vida dos manifestantes.
Trata-se de protesto “contra o que aí está”, sendo inútil qualquer esforço de identificação específica das causas, uma a uma. O que parece bem certo e já foi detectado corretamente por alguns cientistas políticos é uma grande causa subjacente a todas as outras: a falta de canais eficientes de comunicação entre o povo e os governos, pela via formal da representação partidária.
A população está proclamando, por vezes literalmente, que seus eleitos não a representam. Que a política, tal qual se faz no Brasil de hoje, é incapaz de assegurar aos eleitos e aos eleitores a consecução dos fins elementares do mandato popular. Que a ideia de “base aliada” capaz de assegurar governo sem oposição (a mais radical negação do princípio democrático!) é desastrosa para todos.
Em suma, o povo quer ser ouvido, e essa é a grande reivindicação que se sobrepõe a todas as outras, mais específicas: sem voz no falido sistema formal de representação, vai à praça bradar sua inconformidade. Claro, há o preço da passagem, o delírio das fortunas torradas em holocausto aos deuses da bola, a farra desmedida dos gastos públicos, a frustração ante a inoperância dos sistemas de saúde e educação, o lucro absurdo de alguns setores da economia.
Mas nenhuma dessas causas, isoladamente, seria capaz de arrastar às ruas milhares de pessoas, tirando-as da comodidade das redes sociais, com qualquer tempo (meteorológico ou policial), para mostrar sua cara e expor-se aos riscos e incertezas do protesto presencial e cidadão.
*JURISTA, ADVOGADO
É de percepção geral que a atual onda de protestos em curso no país não se atém a uma pauta definida de reivindicações, parecendo antes expressar a insatisfação generalizada com o estado das coisas, notadamente na esfera pública: governos que não governam, fiscalização que não acontece, gastos monstruosos e mal direcionados, erros repetidos e sempre agravados, partidos ideologicamente vazios.
Também chama a atenção o cunho eminentemente popular das manifestações, caracterizadas sobretudo pela inexistência de lideranças ou chefias visíveis – ainda que, como sempre, um ou outro espertalhão procure avocar a condição de líder para extrair proveito pessoal ou partidário da situação. A espontaneidade é a outra marca dos movimentos, que explicitamente repelem qualquer veleidade de submissão a condutores.
E, descontadas as lamentáveis exceções de sempre (aproveitadores, delinquentes e desordeiros parasitários, sem afinação com os propósitos da maioria), a movimentação toda é pacífica e ordeira, sem embargo da pauta extremamente indefinida e difusa, da vasta amplitude da faixa etária dos envolvidos e da diversidade de estratos sociais e objetivos de vida dos manifestantes.
Trata-se de protesto “contra o que aí está”, sendo inútil qualquer esforço de identificação específica das causas, uma a uma. O que parece bem certo e já foi detectado corretamente por alguns cientistas políticos é uma grande causa subjacente a todas as outras: a falta de canais eficientes de comunicação entre o povo e os governos, pela via formal da representação partidária.
A população está proclamando, por vezes literalmente, que seus eleitos não a representam. Que a política, tal qual se faz no Brasil de hoje, é incapaz de assegurar aos eleitos e aos eleitores a consecução dos fins elementares do mandato popular. Que a ideia de “base aliada” capaz de assegurar governo sem oposição (a mais radical negação do princípio democrático!) é desastrosa para todos.
Em suma, o povo quer ser ouvido, e essa é a grande reivindicação que se sobrepõe a todas as outras, mais específicas: sem voz no falido sistema formal de representação, vai à praça bradar sua inconformidade. Claro, há o preço da passagem, o delírio das fortunas torradas em holocausto aos deuses da bola, a farra desmedida dos gastos públicos, a frustração ante a inoperância dos sistemas de saúde e educação, o lucro absurdo de alguns setores da economia.
Mas nenhuma dessas causas, isoladamente, seria capaz de arrastar às ruas milhares de pessoas, tirando-as da comodidade das redes sociais, com qualquer tempo (meteorológico ou policial), para mostrar sua cara e expor-se aos riscos e incertezas do protesto presencial e cidadão.
*JURISTA, ADVOGADO
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