A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

MARCHAS, GRITOS E RUAS VAZIAS


ZERO HORA 12 de julho de 2013 | N° 17489

DIA DE GREVE

Não fossem o rufar de tambores e o grito dos manifestantes em pontos cruciais das cidades, a quinta-feira pareceria início de feriadão no Rio Grande do Sul. Mas não. Era Dia Nacional de Lutas. E, como é costumeiro em manifestações trabalhistas, teve piquete em frente a empresas, passeatas, bloqueios de vias e muita confusão para quem tentava se locomover. Mesmo cercado de tensão, o dia terminou sem incidentes graves no Estado.


Porto Alegre ficou praticamente isolada ainda antes do amanhecer, quando a Travessia Getúlio Vargas (ponte sobre o Guaíba) foi interrompida por manifestantes, às 5h. O bloqueio do vão móvel causou dois quilômetros de congestionamento em cada sentido da via, sob muita neblina. Num efeito cascata, a Avenida Castelo Branco e a Estação Rodoviária ficaram sem tráfego.

A rodoviária permaneceu vazia ao longo do dia, por dois motivos: porque as vias estavam bloqueadas e também porque as empresas, temerosas por atos de vandalismo, mantiveram os ônibus nas garagens. Em consequência, apenas um punhado de táxis se arriscou a rodar nas imediações e eram poucos a circular.

Não apenas as linhas interestaduais pararam. Os ônibus urbanos de Porto Alegre, Viamão, Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada e outras cidades deixaram de circular pela manhã, com frotas recolhidas por pressão dos servidores das empresas. Rodoviários da Vicasa e Sogal chegaram a preparar churrasco em frente à garagem dos coletivos.

As lotações circularam com 50% da frota, e o trensurb também parou, às 7h30min. Motivo: vandalismo. Ataques desferidos contra composições do trem próximas às estações Mathias Velho, em Canoas, e São Leopoldo provocaram a paralisação do serviço entre Porto Alegre e Novo Hamburgo. Pelo menos um usuário ficou ferido. Após negociação, os servidores do trensurb aceitaram retomar o trabalho por algumas horas no final da tarde. Foram 10 horas de interrupção.

A Capital também teve problemas de circulação, já que diversas vias foram bloqueadas por ativistas. Foi o caso da Farrapos, próximo ao aeroporto, pela manhã. E das avenidas Loureiro da Silva, Erico Verissimo, João Pessoa e Borges, congestionadas por passeatas à tarde, que culminaram em grandes manifestações no Centro. O resultado é que a grande massa trabalhadora não conseguiu se deslocar na Região Metropolitana, e os corredores de ônibus foram usados por famílias para passear e até para conversar em rodas de chimarrão.

Houve protesto de todo tipo. Cerca de 300 manifestantes ligados ao MST bloquearam o acesso ao prédio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na esquina das ruas Quintino Bocaiúva e Coronel Bordini. No miolo central da cidade, em frente ao Palácio Piratini, 20 partidos e entidades sindicais, como PSTU, PSOL e Sindicaixa realizaram manifestação. Com apoio de um carro de som e bandeiras e faixas em punho, pediram mais recursos para a saúde e a educação, além de criticarem os governos Tarso e Dilma. Em frente à sede da RBS, outros ativistas pediram democratização dos meios de comunicação. Na Câmara de Vereadores, manifestantes mantiveram a ocupação que ocorre desde a noite de quarta-feira.

As passeatas convergiram todas para o Largo Glênio Peres, onde uma grande manifestação foi organizada no meio da tarde. Entre 1,5 mil e 2 mil pessoas se concentraram nas imediações da prefeitura, sem relatos de incidentes, como os registrados em protestos anteriores. Sindicalistas se revezaram ao microfone de um caminhão de som, exigindo jornada de trabalho de 40 horas semanais sem redução de salário e expressando apoio aos jovens que ocuparam a Câmara de Vereadores na quarta-feira.

A movimentação foi tranquila, com grupos fazendo lanche sentados no chão, entre vendedores de churrasquinho, cachorro-quente e bebidas. Uma banda animou o público até pouco depois das 17h.


Manifestos pelas vias desertas da Capital

No dia em que Porto Alegre parou, marchas de integrantes de sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais foram um dos poucos sinais de vida em ruas que tiveram a maior parte do comércio fechada

Com bandeiras e cartazes nas mãos, manifestantes se concentraram em pontos como o Largo da Epatur, diante do Palácio Piratini e na Rótula do Papa antes de seguir para o Largo Glênio Peres entoando palavras de ordem. Foram registrados bloqueios de vias da Capital, mas que não chegaram a provocar engarrafamentos devido ao baixo fluxo de carros.

Vestida de preto e com a palavra luto pendurada no pescoço, a professora aposentada Carmen Engel, 79 anos, saiu de casa decidida a protestar contra as condições precárias das escolas e os baixos salários dos professores em um dos pontos de concentração das marchas, o Palácio Piratini. Enquanto líderes de cerca de 20 sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda bradavam suas reivindicações no alto de um carro de som, Carmen agitava uma sineta olhando para o alto. Mesmo longe das classes há 19 anos, ela permanece vinculada ao Cpers.

– É o único caminho (protestar), porque cada um deixa de olhar apenas para si e passa a olhar para todos – afirmou.

Nos cartazes, manifestantes pediam investimento em educação, saúde e melhores condições de trabalho. O ato terminou com uma agência do Banrisul, na Rua Duque de Caxias, sendo forçada a fechar as portas. Em seguida, manifestantes partiram para o Largo Zumbi dos Palmares, para se juntar a integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público. De lá, o grupo seguiu em nova marcha pelo centro da Capital, aumentando o número de participantes ao longo do trajeto.

Foram registrados bloqueios de vias como a Farrapos, ocupada pela manhã por manifestantes capitaneados pela Força Sindical. Eles pararam os dois sentidos da avenida nas proximidades do Terminal Cairu. Como a movimentação de veículos era muito baixa, o trânsito seguiu por desvios e não engarrafou. A caminhada dos sindicalistas também seguiu rumo ao Centro, onde um ato teve início às16h.

No Largo Glênio Peres, grupos ligados às diversas centrais sindicais acompanharam uma espécie de showmício. No alto de um trio elétrico, líderes de movimentos sociais e trabalhistas revezavam-se em discursos de dois a três minutos. No intervalo entre as falas dos militantes, uma banda executava um repertório variado, com letras que remetiam às bandeiras de lutas.

Enquanto os ativistas, do alto do trio elétrico, reivindicavam 10% do PIB para a educação, 10% para a saúde, reforma política, agrária e urbana e transporte público de qualidade, lá embaixo crianças digladiavam com espadas feitas de hastes de bandeiras. Às 17h30min, pontualmente, o trio elétrico anunciou o fim da manifestação.


Grupo protesta diante do prédio da RBS

Um grupo de manifestantes se concentrou diante do prédio da RBS, na Avenida Erico Verissimo, às 14h30min de ontem, para protestar contra a empresa e defender a “democratização dos meios de comunicação” no país.

Ao final do ato, que contou principalmente com palavras de ordem e exibição de cartazes, alguns participantes colaram nas portas de vidro adesivos pedindo plebiscito já e taxação de grandes fortunas, derramaram esterco na entrada do edifício e fizeram pichações na calçada, na parede e na avenida. Inicialmente, o protesto reuniu cerca de 40 pessoas ligadas, em sua maioria, ao Levante Popular da Juventude. Pouco depois, algumas centenas de manifestantes que marchavam pela Erico Verissimo se juntaram ao protesto. O grupo mais amplo, que trazia bandeiras da CUT, do MST e de organizações estudantis, também carregava faixas com reivindicações como mais investimentos em saúde e educação, jornada de trabalho de 40 horas semanais e fim do fator previdenciário. Não houve conflitos.



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