A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 7 de julho de 2013

RESPOSTAS INSUFICIENTES



ZERO HORA 07 de julho de 2013 | N° 17484

EDITORIAL INTERATIVO


As instituições da República reagiram ao clamor das ruas com respostas imediatas, mas ainda insuficientes. Acuada pela repentina queda de popularidade, a presidente Dilma Rousseff lançou a ideia de cinco pactos, que incluiu uma desastrada proposta de Constituinte exclusiva e um duvidoso projeto de plebiscito para a reforma política. Depois de uma longa inércia, o Congresso desengavetou rapidamente algumas soluções para antigos problemas. Rejeitou a Proposta de Emenda Constitucional nº 37, também conhecida como PEC 37 ou PEC da Impunidade, votou a destinação dos royalties do petróleo para educação e saúde, aprovou projeto que torna a corrupção crime hediondo, consagrou a Ficha Limpa para ingresso no serviço público e engavetou o surrealismo da cura gay. Até o Judiciário moveu-se um pouco, com o Supremo Tribunal Federal determinando a imediata prisão de um parlamentar condenado.

Não é preciso, porém, ir muito além da Praça dos Três Poderes, em Brasília, para perceber que essas e outras medidas mal arranham as verdadeiras causas da onda de insatisfação popular que sacode o país. Os manifestantes que continuam nas ruas, com uma greve geral marcada para o próximo dia 11 em todo o país, ainda não viram qualquer sinal de abertura de discussão de gastos com a Copa do Mundo 2014, nem de providências efetivas para melhora de serviços essenciais como saúde, educação e segurança. Além disso, a reforma política, que o governo escolheu realizar pelo tortuoso caminho do plebiscito, está sendo adiada para as calendas gregas e servindo apenas como pretexto para mudança de pauta. A população não tardará em se convencer de que, sob a espuma da proatividade política das últimas semanas, inexiste vontade política efetiva de tratar dos problemas de fundo que a afligem. Até mesmo a medida mais visível adotada desde a eclosão do movimento de protesto – a redução generalizada de tarifas de transporte público –, ao fim e ao cabo custará valor equivalente aos cofres públicos por meio de renúncias e isenções fiscais.

Não deve escapar à compreensão do governo o fato de que os indignados brasileiros protestam, em primeiro lugar, contra a má qualidade dos serviços públicos, o desperdício de recursos do Tesouro de forma injustificada ou sem transparência, a improbidade administrativa, a alta de preços e outros reflexos dos escorregões na condução da economia e da gestão pública. Chega a soar como deboche a notícia de que, enquanto manifestações contra a corrupção e as mordomias percorriam o país, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), tenha usado avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para levar a noiva, parentes dela, enteados e um filho à final da Copa das Confederações, no Rio, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tenha lançado mão do mesmo expediente para ir de Maceió a Trancoso (BA), onde participaria de um casamento. As autoridades devem deixar a verborragia de lado e fazer valer a proibição desses e de outros tipos de benesses atualmente à disposição do andar de cima, como demonstração de apreço e boa vontade em relação à maioria dos cidadãos que não são por elas assistidos.

O editorial acima foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na sexta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias entre as 647 manifestações recebidas até as 18h de sexta. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial diz que governantes e políticos ainda não entenderam as manifestações. Você concorda?

O leitor concorda

Concordo e vou além: talvez até tenham entendido, mas não absorvido o que aconteceu e continua acontecendo. Por meio de medidas surradas de cortina de fumaça querem engambelar as pessoas com paliativos e despistes. Ainda pensam que o povo está dormindo e que “isso” passa. Não enxergam que a situação não é mais a mesma. Algo mudou. E enquanto não houver uma mudança profunda de atitudes, os protestos podem arrefecer, mas não vão parar mais. Os governantes estão dando esmolas e acham que leis vão mudar comportamentos: acordem! Reforma já! (e estão fazendo todo um carnaval em torno de um plebiscito que vai gastar e só confirmar o que gritamos nas ruas) . Maria Cristina Pereira – Santa Maria (RS)

Concordo, porque só tivemos o impacto no valor das passagens. Temos muito mais para lutar. Ex.: acabar com as mordomias nos três poderes. Estamos vendo que ministros e presidentes do Senado e Câmara utilizaram aviões da FAB para assuntos sociais. Diminuir o número de servidores civis e militares que ficam à disposição dos mesmos. Luiz Alberto Noer – Tramandaí (RS)

Concordo plenamente. Editorial impecável. Conteudiza verdades que são pouco comuns serem expostas como o foram aqui. Aliás, devemos louvar não apenas os editoriais da Zero Hora como, também, a página de opinião com uma série de artigos que abordam questões que nos dizem respeito em nossos dias e noites. Obrigado. Wilson Moreira – Curitiba (PR)

Concordo, os políticos ainda não entenderam as manifestações. Antonio Henrique Reis – São Leopoldo (RS)

Talvez nem os manifestantes tenham entendido as manifestações. Lucas Barcelos


O leitor discorda



Acredito que entenderam sim! Eles estão mascarando, estão se fazendo que não estão preocupados com as manifestações. Anelise dos Reis – Taquari (RS)

Eles sabem de trás para frente o que os manifestantes e os não manifestantes querem. Estão esperando que os manifestantes os cerquem e aconteça algo imprevisível e lamentável. Paulo Zanella – São Gabriel do Oeste (MS)

Não querer entender, aí acredito! Beto Fernandes Teixeira



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