A geração que emergiu das redes sociais e descobriu o poder de levar suas causas para as ruas
MARCELA BUSCATO E FILLIPE MAURO, COM JÚLIA KORTE, LUÍS ANTÔNIO GIRON E MARIANA TESSITORE
REVISTA ÉPOCA 05/07/2013 23h21
(Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana)
O paulista Renan Fernandes, de 22 anos, é um observador atento da conjuntura política e social do país. Participa das discussões no centro acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde cursa o 5° ano. Ele dá aulas voluntariamente no cursinho pré-vestibular para estudantes carentes que funciona na faculdade. No dia 13 de junho, quando 5 mil manifestantes protestavam nas ruas do centro de São Paulo, ele era um deles. “Sou usuário do transporte público e queria ajudar a lutar por uma tarifa mais justa”, afirma Fernandes. Ele diz ter sido atingido por uma bala de borracha disparada pelos policiais, afirma que viu uma amiga ser ferida pelos projéteis e outra queimar as mãos, depois de ser atingida por uma bomba de gás lacrimogêneo. Revoltado, organizou um abaixo-assinado na internet para protestar contra a ação violenta da polícia. Em menos de uma hora, o texto ganhou quase 1.000 assinaturas. Hoje, está com quase 6 mil. Se chegar à marca dos 7.500, Fernandes promete entregar o documento ao governador do Estado, Geraldo Alckmin. Fernandes diz que, mesmo que os policiais não sejam punidos, o importante é protestar. “Quero espalhar informação e conscientizar as pessoas”, afirma.
Os milhares de manifestantes que ganharam as ruas do Brasil nas últimas semanas são parecidos com Fernandes. São jovens que descobriram na internet uma ferramenta poderosa para lançar e organizar protestos: contra a má qualidade dos serviços públicos, contra a corrupção, contra a violência da polícia e, sobretudo, contra tudo o que eles consideram abaixo de suas elevadas expectativas em relação à situação econômica e social do Brasil. “A situação do país não piorou. Foi a exigência que aumentou”, diz o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo (USP). “A agenda da carência cede lugar à da cobrança.”
Os jovens se tornaram mais exigentes por dois motivos. Primeiro, porque aumentou o nível de escolaridade. Eles estão mais instruídos. Segundo dados do Inpe, o instituto de pesquisas do Ministério da Educação, entre os jovens de 18 e 24 anos, aqueles que cursavam o nível superior passaram de 15%, em 2002, para 29,9%, em 2011. Quem estuda mais entende melhor e tende a ser mais crítico. O segundo motivo é a crise econômica. O crescimento brasileiro, que chegou a ser de 7% ao ano, caiu para menos de 1% no ano passado, arrastando com ele a possibilidade de melhoria rápida no padrão de vida dos brasileiros, sobretudo os mais jovens. O país não conseguiu cumprir a expectativa de realização pessoal criada entre os jovens urbanos. O desemprego entre os 18 e os 24 anos foi de 12,4% em maio passado – o triplo da taxa registrada entre trabalhadores mais velhos. “A situação econômica não está dramática. Países na Europa estão em situações muito mais graves. Mas as mudanças, por menores que sejam, mexem com expectativas. Expectativas são importantes”, diz Rolf Rauschenbach, pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP. “Muitas pessoas estão felizes, mas, quando a situação aperta, todo mundo se frustra. Tanto quem tem três carros quanto o pobre, que não tem expectativa de dinamismo para mudar sua vida.”
O fenômeno não é exclusivamente brasileiro. As causas da insatisfação juvenil no país são compartilhadas por milhões de jovens em outros lugares do mundo, com consequências semelhantes. (...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário