A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 13 de julho de 2013

SINDICALISMO VENCIDO

FOLHA.COM 13/07/2013 - 03h30

OPINIÃO


As manifestações organizadas no país para o chamado Dia Nacional de Lutas foram uma tentativa das diversas centrais sindicais de recuperar terreno perdido. Não apenas em relação aos protestos de junho, mas também aos anos de atuação domesticada pela simbiose com o governo petista.

Os atos bloquearam rodovias e reuniram cerca de 90 mil pessoas em 18 capitais. No auge, estima-se que os protestos do mês passado, à margem de sindicatos e partidos, tenham mobilizado mais de 1 milhão de pessoas.

As diferenças, além de numéricas, se evidenciaram na morfologia mais tradicional --de cima para baixo-- da expressão sindicalista e no intuito de poupar, o quanto possível, a imagem da presidente Dilma Rousseff.

Desde que voltou à cena no ABC paulista, na década de 1970, o sindicalismo brasileiro percorreu um ciclo que o levou do ímpeto renovador ao conformismo oficialista, a que se tem, não sem razão, chamado de neopeleguismo.

Já ficaram para trás as reivindicações em prol do "sindicalismo autêntico", defendido pelo então líder operário Luiz Inácio Lula da Silva, que postulava organizações trabalhistas autônomas. Com a ascensão dos sindicatos ao poder, a reboque do PT, consolidou-se a versão repaginada do modelo varguista. O sistema continua a ser tutelado pelo Estado e mantido por tributos compulsórios.

Ao todo, cerca de R$ 1,9 bilhão foi repassado, em 2012, aos cofres de sindicatos, federações, confederações e centrais --não só de trabalhadores, mas também patronais.

À sombra desse regime floresceram organizações artificiais, que beneficiam antes suas diretorias do que as categorias que deveriam representar. A burocratização e a instrumentalização por interesses partidários e governamentais é um claro sinal de descompasso entre as associações sindicais e as aspirações emergentes da sociedade.

É certo que as organizações trabalhistas continuam a ter um papel a desempenhar na defesa de seus associados, como ora se observa na Europa. Também lá as centrais foram às ruas na esteira dos protestos "horizontais" --mas encontraram na crise econômica e no alto desemprego um terreno propício para atuar.

Se pretende de fato recuperar o tempo perdido e reconquistar prestígio, o sindicalismo brasileiro precisa rever suas bandeiras, suas formas de atuação e, sobretudo, a maneira como se inscreve nas relações sociais e econômicas.

As manifestações espontâneas e descentralizadas de junho deixaram ainda mais anacrônicas essas organizações que arrogam a função de representar setores da sociedade, mas atuam como apêndices de governos e partidos.

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