A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

DEMOCRACIA.COM

ZERO HORA 03 de julho de 2013 | N° 17480

DILAN CAMARGO*



Vivemos os tempos da democracia.com. Somos os novos atenienses. O movimento de massas nas ruas do Brasil é um fenômeno mundial protagonizado principalmente pelos jovens, agora conectados em redes sociais. A internet chegou à política. Saímos do Facebook, ostentam os jovens em cartazes. Se o Brasil se orgulha de ter um dos sistemas de votação eletrônica mais ágil e seguro do mundo, através da urna eletrônica, por que não seria capaz de também abrir ruas e avenidas virtuais e sair delas para fazer manifestações políticas nas ruas e avenidas reais?

São as novas tecnologias que possibilitam novas formas de pensar, de agir, de sentir e de se manifestar. A autonomia do indivíduo e do cidadão ganha novas e mais amplas dimensões. É um novo espaço de geração de informações e de fatos de toda natureza, seja nas artes, no jornalismo, na literatura, que se gestam de forma invisível e que depois afloram para o cotidiano como fenômenos já consolidados. E agora está chegando a vez da política.

Se a internet possibilitou novas formas de comunicação, de vender e de comprar, de transferir e de sacar dinheiro, de namorar, de fazer jornalismo e literatura, enfim, por que não possibilitaria novas formas de fazer política? Por que espanta que centenas de milhares de pessoas se movimentem politicamente e saiam às ruas sem o controle e a tutela dos partidos políticos? São novas e desafiantes questões que precisam ser compreendidas com inteligência e bom senso.

Se os canais tradicionais de fazer política eram somente os partidos políticos, os sindicatos, as associações, os movimentos sociais, agora, as redes sociais se constituem em novos espaços para o cidadão comum, os novos atenienses, e não só para os militantes. Não há mais “reserva de mercado político”. O cidadão.com adquiriu a capacidade de autorreger-se, de se convocar, e de levar as suas reivindicações de forma direta para as ruas. E como a sociedade é heterogênea, também as demandas serão as mais variadas. Não há que se estranhar tantas e ricas manifestações.

Está nascendo um novo espaço público e político. A representação política do povo, que antes se resumia a somente votar de quatro em quatro anos, agora tem mais validade e força junto aos representantes com mandato político eleitoral. É a soberania popular em tempo virtual que rapidamente pode se articular e se mobilizar em tempo real, desde que existam causas que as sensibilizem e as motivem a agir. E, convenhamos, sobram causas no nosso país, ainda em construção.

Todos! Todos precisamos aprender com esses novos tempos. Não eram somente os vinte centavos! Alguns comentaristas e colunistas políticos emblemáticos, como Arnaldo Jabor, rapidamente souberam reinterpretar os acontecimentos e fizeram a sua autocrítica. Mais do que todos nós, entretanto, os partidos políticos precisam também fazer a sua e não tentar amedrontar o povo sobre os “perigos do fascismo” num estado sem partidos. Os cartazes e as manifestações dos jovens do 17 de junho são muito claros: sem violência, sem partidos. Não que sejam contra a existência de partidos na democracia, mas talvez porque os que existem não os representem mais. Nossos jovens estão desculpados pelos transtornos de mudar o país.

*ESCRITOR, CIENTISTA POLÍTICO

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