A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 23 de junho de 2013

A QUEM INTERESSA O SILÊNCIO DOS JORNALISTAS?


ZERO HORA 23 de junho de 2013 | N° 17470


CARTA DA EDITORA | MARTA GLEICH


“Alguém deste jornal poderia me explicar por que o povo pode se manifestar em todas as ruas, só na Ipiranga que não?”, perguntou a leitora Solange Giacomini ao colunista Tulio Milman na sexta-feira.

Trechos da resposta do Tulio: “Não tenho nada contra qualquer manifestação aqui na frente. Ao contrário. Várias já aconteceram. Sei que a maioria iria se manifestar pacificamente. O problema é a minoria. A gente sabe, pelas redes sociais e pelas conversas, que tem alguns poucos querendo entrar, quebrar e machucar. Aqui no prédio de onde te escrevo tem centenas de trabalhadores. À noite, a Redação está cheia. E não tem como garantir que essa minoria não vai se aproveitar da maioria para quebrar e machucar. Te garanto que é por isso. A gente aqui sabe o que está acontecendo. A gente sabe dos protestos e de tudo o que eles representam. Muitos de nossos amigos, filhos e conhecidos estão também nas ruas. Mas com vida humana não se brinca. Tu, por exemplo, estás protestando com palavras. É um gesto inteligente e civilizado. Pena que uma minoria barulhenta e criminosa não pense como tu, como a maioria”.

Durante as últimas semanas, o país viveu uma onda crescente de manifestações nas ruas. Os motivos dos protestos foram das tarifas de ônibus ao dinheiro gasto para a realização da Copa do Mundo, da cura gay à PEC 37, da corrupção à falta de investimentos na saúde e na educação.

O que no início se configurou como uma vasta massa de manifestantes com causas legítimas e protestos pacíficos, virou. Nesta semana, a coisa mudou totalmente de figura, não só no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil. Aproveitando-se da falta de líderes, grupos ultrarradicais de direita e de esquerda, incluindo-se aí anarquistas, punks, neonazistas, skinheads e outros, além de marginais interessados em saquear estabelecimentos comerciais, se infiltraram nas manifestações.

Conforme informações da segurança pública, esses grupos tinham como um dos alvos – entre outros tantos, que incluíam o Palácio Piratini, a Federasul, o Palácio da Justiça, a Ponte do Guaíba, a BR-116, o Paço Municipal – o prédio da Zero Hora. Não para um protesto pacífico e democrático como a grande massa estava promovendo nas ruas. Tanto é que, na quinta-feira, um coquetel molotov explodiu junto à polícia quase em frente ao prédio do jornal. E foi por isso que, segundo o governador Tarso Genro e o comandante da Brigada Militar, as vidas dos jornalistas que aqui trabalham foram protegidas.

Em momentos como o que se vive no Brasil, cria-se um caldo de cultura em que crescem tentativas de intimidação e coação à imprensa, uma das instituições que asseguram a democracia. Zero Hora, como maior jornal do Estado, virou alvo desses grupos ultrarradicais, que só enxergam a liberdade de expressão e de imprensa como obstáculos a suas causas.

A quem interessa calar a imprensa? A quem interessa inviabilizar um jornal e silenciar seus jornalistas? Zero Hora não é contra protestos ou críticas. Pelo contrário. Incentivamos o diálogo, a pluralidade de opiniões e os questionamentos a nosso trabalho.

Solange, obrigada pelo questionamento, que me deu a deixa para escrever esta carta. A ela e a todos os demais leitores, reitero o compromisso dos mais de 200 jornalistas desta Redação com a liberdade de expressão e o jornalismo de qualidade. É nosso papel, especialmente neste momento de turbulência e indignação dos brasileiros com tudo o que está errado, para que o saldo seja um país melhor.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Jamais vou criticar a mídia, mesmo que por vezes seja maliciosa e cruel no trato das notícias, porque sei que também lá, como em qualquer organização, existem pessoas oportunistas e sem noção. O Grupo RBS tem dado mostra na maioria das vezes em suas reportagens investigativas, onde seus repórteres enfrentam o risco de morrer, que dão publicidade a atos corruptos, fraudes, desvios de dinheiro público, imoralidades e outras ilicitudes dentro dos poderes. E o mesmo ocorre nos grupos grupos de mídia. Por conta da coragem em dar publicidade às denuncias, quantos morreram, perderam o emprego ou foram calados por indenizações milionárias e injustas?

É por este motivo que sou leitor de Zero Hora, ouço a Radio Gaúcha e assisto notícias e debates nas emissoras de tv do grupo. Faço o mesmo com os demais veículos de comunicação de outros grupos, conforme a conveniência e o interesse. A alienação se combate com leituras de outros jornais e direitos com a justiça, mesmo que a nossa é lerda, condescendente e fraca no enfrentamento em ambientes que envolvem os altos cargos do Poder e grupos poderosos. Quem ataca a imprensa quer calar uma voz à disposição do povo, quem ataca a internet quer calar a classe média.

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