A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 23 de junho de 2013

DAS RUAS DE SÃO PAULO

ZERO HORA 23 de junho de 2013 | N° 17470

DIÁRIOS DO MUNDO | RODRIGO LOPES


Quinta-feira, perto das 23h. Em frente à Câmara de Vereadores de São Paulo, uma jovem de seus 16 anos, com parte do rosto coberto por um lenço preto, brada diante dos poucos companheiros que resistiram:

– Violência contra o Estado não é vandalismo. O Brasil inteiro está rindo da gente.

A esta altura, o Itamaraty, em Brasília, era invadido, as ruas de Rio de Janeiro e Porto Alegre pegavam fogo. Para a jovem, a manifestação ter sido pacífica em São Paulo era uma derrota. O grande grupo havia desistido de depredar a Câmara e retornava para a Avenida Paulista. A jovem, diante de no máximo 20 pessoas, tentava, em vão, pregar o protesto pela força.

-

Confesso: a última vez que fui obrigado a comprar vinagre por conta de uma manifestação popular havia sido em Honduras, em 2009, na crise que envolvia o golpe de Estado deflagrado pelas forças do presidente que havia assumido o poder, Roberto Micheletti, e os ativistas pró-Manuel Zelaya, que havia deixado o poder e se refugiado na embaixada do Brasil. Em Tegucigalpa, em meio a dezenas de protestos repelidos pela polícia, aprendi que o vinagre ameniza os efeitos do gás lacrimogêneo. Em São Paulo, antes de cobrir os protestos da segunda-feira, comprei, a R$ 3,25, uma garrafa de vinagre e uma flanela.

-

Uma equipe de televisão é cercada por manifestantes na Avenida Faria Lima, ao lado do Largo da Batata. Os gritos, ferozes, exigem que eles se retirem. Repórter e cinegrafista tentam explicar que fazem o seu trabalho. Não adianta. A multidão exige que saiam. Sem condições de segurança, o grupo deixa o local.

-

Um dos momentos mais tensos da semana ocorreu em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Um grupo de manifestantes, que se desvirtuou da marcha pacífica rumo à Avenida Paulista, tentou romper os portões da sede do governo do Estado. A entrada do Palácio é um brete, não havia condições de segurança. O pelotão de choque, escondido atrás dos portões, evitou a invasão com bombas de efeito moral. Veio o gás lacrimogêneo. A multidão recuou. A segunda experiência com o gás ninguém esquece. Você tenta não chorar. Não consegue. A garganta seca. Falta a respiração. Os manifestantes recuaram.

-

Marisa Caramielo tem 70 anos.Viu o Brasil da ditadura, da redemocratização, da Era Collor e agora assiste à indignação que nasceu com o aumento do preço da tarifa do transporte público. Assiste, não. Participa. Na quinta-feira, com um cartaz exigindo mais saúde aos aposentados, ela caminhou pela Avenida Paulista.

– Nós conseguimos reduzir a tarifa, mas falta muito.

Como Marisa, estava Ariel, de 85 anos, espécie de celebridade entre os manifestantes, que pediam para tirar uma foto ao lado dele.

– Esse é um exemplo pra nós – orgulhava-se um adolescente.

-

Choca ver um grupo maior, integrado por cidadãos comuns que se uniram à causa do Movimento Passe Livre aos socos com manifestantes de grupos ligados a partidos políticos.

– Oportunistas – gritavam uns.

– Fascistas – reagia quem defendia a participação dos partidos.

Bandeiras do PT foram queimadas, ativistas do PSTU tiveram de baixar as faixas. Não houve tolerância.

Nenhum comentário: