A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 23 de junho de 2013

MENSAGEM BEM-VINDA


FOLHA.COM 23/06/2013 - 03h00


Editorial



A presidente Dilma Rousseff demonstrou discernimento e equilíbrio ao extrair lições dos protestos que se espalharam pelo país. Foi categórica ao explicitar que ouviu a voz das ruas e que pretende agir para lhe dar consequência.

A presidente, que já via sua popularidade em queda antes das manifestações, era quem mais tinha a perder. Governadores e prefeitos de alguma forma estancaram a sangria de prestígio com o recuo no reajuste das tarifas de transporte. Como os distúrbios prosseguiram e a pauta de demandas se desdobrou, o alvo primário passou a ser o governo federal.

Dilma disse o que precisava ser dito e o fez no momento em que a mobilização entrava em refluxo. Enfatizou a manutenção da lei e da ordem como condição do convívio democrático, criticando o flanco mais vulnerável do movimento.

Cidadãos isolados e grupos minoritários produziram episódios de violência selvagem --e é digno de nota que o Movimento Passe Livre não tenha repudiado de forma inequívoca, até aqui, o vandalismo que tem irrompido nas marchas.

Aos atos de saque, depredação e agressão física a agentes públicos nenhuma democracia pode responder senão com intervenção policial e responsabilização civil e penal de seus autores. Dilma reafirmou esse princípio basilar.

Ciente de que o tema da corrupção tende a canalizar a insatisfação subjacente, retomou o tom e a promessa de intransigência do início de seu governo. Nada anunciou de concreto a respeito, mas indicou a intenção de aumentar a transparência das instituições e os mecanismos de controle público.

Dilma também se preocupou em dar respostas à revolta com os péssimos serviços públicos. No que toca ao tema da reivindicação inicial dos protestos, prometeu um plano nacional de mobilidade urbana.

Para as áreas de educação e saúde, repetiu propostas conhecidas: destinar 100% dos royalties do pré-sal à primeira e reforçar a segunda com médicos estrangeiros.

Sobre os questionamentos à Copa do Mundo, disse que os gastos federais são financiamentos que serão ressarcidos. Conclamou todos a restabelecer o clima de hospitalidade e a abandonar a violência "que envergonha o Brasil".

Além de convidar líderes das manifestações para uma reunião, Dilma prometeu conclamar chefes dos demais Poderes, governadores e prefeitos para um pacto por mudanças.

Muito mais precisaria ser dito e feito, mas não foi desta vez que a presidente se comprometeu com metas mais ambiciosas, como desempacar a reforma tributária. Falou em reforma política, mas não sobre qual seria ela. Providências de impacto simbólico, por exemplo quanto ao notório inchaço de cargos de confiança e ministérios, também ficaram de fora.

Em suma, a presidente reagiu ao inconformismo geral com firmeza e disposição para melhorar. Que o sistema político, sacudido pela estridência das ruas, saiba seguir seu exemplo.

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