A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 29 de junho de 2013

SINDICATOS SE MEXEM


ZERO HORA 29 de junho de 2013 | N° 17476


O retorno da companheirada


Nas recentes mobilizações que se alastraram pelo país ficou evidente que as redes sociais têm sido mais convincentes do que centrais sindicais para arrastar multidões às ruas e reivindicar seus direitos.

Quando a discussão entra no gabinete, no entanto, a força se inverte, e as instâncias mais tradicionais da sociedade ocupam, naturalmente, o espaço de representação deixado em aberto por um movimento que não apresenta líderes instituídos.

– As ruas não estão em um grau de maturidade para o debate político, chega um momento em que a energia da multidão se dissipa, e a liderança volta para aquelas instâncias que há tempos já discutiam essas pautas – sintetiza o sociólogo mineiro Rudá Ricci, do Observatório Internacional da Democracia Participativa.

Talvez em uma tentativa de retomar a frente dos atos, a convocação de uma greve geral entrou em discussão nas centrais sindicais após o movimento ter obtido alcance nacional. A data proposta para a paralisação é 11 de julho, para dar tempo de todas as categorias realizarem suas assembleias. Líderes sindicais esperam uma forte adesão.

– É o momento de lideranças identificadas se fortalecerem nesse campo – defende o presidente estadual da Força Sindical e vereador em Porto Alegre, Cláudio Janta.

Especialista aprova estratégia sindical

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, reconhece que as bases sindicais, afastadas das ruas desde o governo Lula, foram surpreendidas pelo fenômeno das redes sociais, mas acredita que os movimentos organizados se fortalecerão a partir de agora.

– A grandeza da CUT não está em tomar ou não as ruas, mas na pauta que ela defende. Esse movimento vai arrefecer e nós vamos continuar a nossa luta – afirma.

Nespolo destaca que a CUT esteve integrada ao Bloco de Lutas pelo Transporte Público desde as primeiras mobilizações contra o aumento da tarifa de ônibus na Capital. Os sindicalistas questionavam o repasse do reajuste ao salário dos rodoviários. Com o atraso na aprovação do novo valor, normalmente votado até fevereiro, o debate avançou para o início do ano letivo, favorecendo o clima para que os jovens se mobilizassem e tomassem a frente das manifestações.

A cientista política Céli Regina Jardim Pinto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não vê problema na estratégia dos sindicatos. Pelo contrário, considera esse um claro sinal de amadurecimento do movimento.

– Manifestações espontâneas são importantes, mas não se mantêm por muito tempo. A política precisa ter lados, não se pode ser contra tudo e contra todos, é preciso ser a favor de alguma coisa – avalia Céli.

Já o sociólogo José Luiz Bica de Melo, professor de Teoria Política na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), considera um “equívoco político” este novo movimento que emergiu da horizontalidade das relações em rede não criar líderes.

– Ou se estabelecem novos protagonistas ou as velhas raposas vão tomar esse lugar e engolir o movimento – argumenta Melo.

Caso a possível greve geral seja mesmo realizada, será um bom termômetro para medir o poder de influência que os sindicatos ainda conseguem exercer sobre a massa que saiu às ruas tendo a frase “não me representa” como bordão.

TAÍS SEIBT

MOBILIZAÇÕES DA HISTÓRIA. Confira manifestações e atos que marcaram o Brasil

- 1917 - Uma onda de greves foi iniciada em São Paulo por operários italianos da indústria têxtil. A greve se espalhou por outros Estados, inclusive o Rio Grande do Sul. Foi liderada por ativistas anarquistas e teve apoio dos sindicatos.

- 1930 - Criada a Consolidação das Leis do Trabalho, no governo Getúlio Vargas. No governo, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), criado em 1922, seria cassado e ficaria na clandestinidade.

- 1950 - Manifestações sociais se fortificam em torno da causa do petróleo. Conhecido pelo bordão “O petróleo é nosso”, o movimento é tido por historiadores como a primeira grande mobilização nacional a consolidar uma ideia de nação. Em 1954, seria criada a Petrobras. Nos anos 1950, grandes mobilizações rurais se espalharam pelo país.

- 1964 - As marchas populares que começaram a se articular desde 1961 atingem o auge. Estudantes têm papel de destaque, mas a causa arrebanha diversas correntes, cada uma com uma reivindicação. Resultou no Golpe de 64.

- 1968 - Inspirados no Maio de 68, na Europa, estudantes novamente tomam a dianteira, com apoio de operários e promovem grandes atos públicos. Com o AI-5, o movimento é abafado.

- 1978 - A luta popular ressurge, outra vez, com protagonismo estudantil. Operários, camponeses, profissionais liberais e classe média se juntam ao movimento nas ruas contra a ditadura.

- 1984 - Conhecido como Diretas Já, era gestado desde 1982. Os sindicatos já vinham sendo canalizados por partidos como o Partido dos Trabalhadores, que lideravam as manifestações. Pessoas de todas as classes sociais e quase todas as ideologias políticas, exceto a extrema direita, foram às ruas.

- 1992 - O movimento Fora Collor teve caráter ético, contra a corrupção.

- 2002 - O início do governo Lula, de certa forma, consagra a luta das centrais sindicais, que se retiram das ruas. As grandes manifestações dos anos 2000 são de movimentos rurais.

Fonte: Fonte: Ivaldo Gehlen, sociólogo, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS. Estuda movimentos sociais.

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