A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 29 de junho de 2013

EFEITO COLATERAL: RETROCESSO




















ZERO HORA 29 de junho de 2013 | N° 17476

Especialistas alertam para “retrocesso”


Os grupos que se organizam para repelir a ação de vândalos são vistos com receio por pesquisadores da violência e peritos em segurança. Além de considerarem essa mobilização um comportamento arriscado, especialistas entendem que ela pode representar “retrocesso civilizatório”.

Diretor do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o sociólogo José Vicente Tavares dos Santos observa que, nas sociedades modernas, o poder de coerção é delegado pela população ao Estado. Se as pessoas decidem agir por conta própria, esse princípio é abalado – e pode redundar em uma guerra de todos contra todos, com aumento da insegurança.

– Se o cidadão resolve fazer justiça pelas próprias mãos, isso é a negação do E stado democrático de direito. O risco é uma destruição do Estado e da sociedade modernos e a volta a um direito de vingança pré-civilizatório. As pessoas devem exigir atitude do Estado – afirma.

O professor Juan Mario Fandino Marino, do núcleo de pesquisa em violência da UFRGS, também considera que a formação de grupos de defesa não é recomendável – inclusive porque o cidadão não tem treinamento e pode expor-se a grande risco se sair com porretes para a rua.

– Parece claro que a polícia ainda não ofereceu um volume suficiente de proteção que faça as pessoas se sentirem seguras. É um desdobramento natural a população tentar se proteger por conta própria. Não quero culpabilizar essas pessoas, mas é importante alertar que se trata de um comportamento muito perigoso e que não deveria acontecer. Violência não se responde com violência. Além do risco pessoal, pode enveredar para um conflito civil sério – sublinha.

Fandino também não culpa as polícias. Ele reconhece que a infiltração de vândalos em um movimento social coloca as forças de segurança diante de uma situação nova e difícil:

– Minha expectativa é de que a Brigada esteja aprimorando maneiras de enfrentar essa infiltração. A população precisa ter paciência e esperar.

Especialista em segurança estratégica, Gustavo Caleffi cita o caso de um prédio próximo à Praça da Matriz em que, durante o protesto de quinta-feira, moradores posicionaram-se armados no hall, prontos para agir caso vândalos:

– É a volta da lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Corremos o risco de essas manifestações se tornarem um conflito entre os que querem preservar o patrimônio e os vândalos.


Brigada fará reuniões


A Brigada Militar pretende evitar que moradores e comerciantes do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, voltem a se armar com paus e barras de ferro para enfrentar vândalos como ocorreu na noite de quinta-feira.

Por orientação da cúpula da corporação, o Comando de Policiamento da Capital (CPC) marcará encontros com representantes do bairro para tentar apaziguar os ânimos e definir uma estratégia de ação em conjunto. Conforme o chefe do Estado-maior da BM, coronel Alfeu Freitas, caso ocorram novos protestos, o bairro terá policiamento antes, durante e depois dos eventos.

– Queremos diminuir o medo. Este tipo de atitude pode resultar em morte – afirmou.

O oficial fez um apelo:

– Por favor, não se organizem desse jeito. A BM está preparada para reprimir os vândalos. A Cidade Baixa vem sendo castigada por arruaceiros desde a primeira das quatro manifestações realizadas na Capital, em 17 de junho. Na noite de quinta-feira, dezenas de PMs a pé ocupavam vias como Lima e Silva, Venâncio Aires e República. Conforme moradores, havia locais desguarnecidos no momento do arrastão.

– Possivelmente, os PMs estavam atuando em outro lugar, a Cidade Baixa sempre tem policiamento. Gostaria de ter um PM para vigiar cada vândalo, mas isso é impossível – explicou o chefe do Estado-maior da BM.

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